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Impasse com governo dos EUA adia planos da Funed para retomar produção de soros em Minas

Fundação previa voltar a fabricar compostos ainda neste ano, mas precisou atrasar início para março do ano que vem; laboratório alemão analisa compostos

Previsão, agora, é retomar produção de soros em março de 2024

Um impasse com o governo dos Estados Unidos da América (EUA) adiou os planos da Fundação Ezequiel Dias (Funed) de retomar, ainda neste ano, a produção de soros que servem para tratar venenos de animais como escorpiões e serpentes.

A entidade, ligada ao governo de Minas Gerais, estimava voltar a fabricar os compostos entre outubro e novembro, mas o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) atrasou a entrega da permissão que serviria para liberar a entrada, em solo estadunidense, de bolsas de soro que seriam validadas pela Sartorius, laboratório que fornece, à Funed, itens essenciais ao processo produtivo dos antídotos.

Agora, a Funed estima que, a partir de março do ano que vem, poderá retomar a produção de soros. A fabricação dos compostos, paralisada desde 2017, é legado do cientista Ezequiel Dias. Dono do nome que batiza a fundação, ele deixou o Rio de Janeiro (RJ) em 1907 rumo a uma recém-fundada Belo Horizonte. Seu objetivo era respirar “ar puro” e, assim, otimizar o tratamento de uma tuberculose.

As informações a respeito do atraso foram repassadas à Itatiaia pela Funed. A reportagem quis saber, da fundação, se a possibilidade de retomar a produção de soros em outubro ou novembro, aventada pelo Secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, se concretizaria.

Parceira da Funed na produção de Soros, a Sartorius entrega, aos técnicos mineiros, as membranas que atuam na filtração dos compostos antiveneno. Em agosto, representantes do laboratório alemão avisaram, ao ex-deputado estadual Felipe Attiê, presidente da Funed desde fevereiro, que, para a análise das bolsas de soro, era preciso obter o aval do Departamento de Agricultura dos EUA — uma vez que a fábrica da Sartorius fica em Porto Rico, um território estadunidense.

“Após a visita de Felipe Attiê à Sartorius, em 18 de agosto - com uma série de articulações do presidente da Funed, inclusive acionando a matriz na Alemanha - o Departamento de Agricultura dos EUA autorizou, em 29 de agosto, a entrada das amostras de soros no país para a referida análise e validação”, lê-se em nota enviada pela Funed à Itatiaia.

A ideia da Funed é entregar os frascos de soro ao Ministério da Saúde. A pasta, por sua vez, ficaria responsável por repassar as unidades dos produtos aos municípios.

Quatro meses de espera

O estudo na Sartorius pode durar até quatro meses. Levando em conta que as bolsas de soro chegaram a Porto Rico às portas de setembro, o prazo de análise vai vencer no início de dezembro.

Paralelamente ao processo com o laboratório alemão, representantes da Funed têm atuado no desenvolvimento de um soro concentrado, a granel. Essa etapa também precede a liberação dos antídotos aos pacientes alvo de animais peçonhentos. A ideia é que o processo de embalamento dos líquidos — o chamado envase — receba aval das autoridades ainda neste ano.

Inspeção da Anvisa na mira

Se houver final feliz após a espera pelo aval internacional, a Funed poderá solicitar visitas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Vigilância Sanitária Estadual (Visa-MG). Reguladoras dos processos de produção de compostos medicinais, as agências têm a função de conceder o certificado de Boas Práticas de Fabricação (BPF) a plantas produtivas em condições de atuar na área.

“A Anvisa não recebeu informações sobre a retomada da produção de soros pela Funed. Até o momento, e de acordo com a situação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) avaliada em 2022, a fabricação de soros encontra-se paralisada para adequação aos requisitos de BPF da linha de produtos estéreis. Nova inspeção será realizada após sinalização da Funed quanto às adequações (ações corretivas)”, informou a Anvisa, ao ser questionada sobre os diálogos com a Funed a respeito da retomada da produção de soros,

Hoje, o terreno da Funed tem cinco prédios pensados para abrigar fábricas. Apenas um deles, porém, está aberto aos técnicos. Lá, os profissionais produzem a Talidomida, usada no tratamento de portadores de hanseníase. As caixas do medicamento são enviadas ao Ministério da Saúde.

Em maio, Felipe Attiê chegou a baixar resolução para acabar com o teletrabalho na Funed. Em documento obtido pela Itatiaia à época, ele dizia que a fundação enfrentava “baixos índices de produtividade” e lida com “queda de receita institucional”.

Os soros da Funed

A Funed tem lastro na produção de oito soros, que combatem os efeitos do envenenamento por animais como cobras, jararacas e escorpiões.

  • soro antibotrópico (pentavalente): para envenenamento por jararacas (Gênero Bothrops);

  • soro antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico: para picadas por jararacas ou cascavéis (Gênero Crotalus);

  • soro antibotrópico (pentavalente) e antilaquético: para envenenamento por surucucu (Gênero Lachesis) e jararacas (Gênero Bothrops);

  • soro anticrotálico para envenenamento por cascavel (Gênero Crotalus);

  • soro antielapídico (bivalente): para envenenamento por corais verdadeiras (Gênero Micrurus);

  • soro antiescorpiônico: para envenenamento por qualquer espécie de escorpião (Gênero Tytius);

  • soro antirrábico: para ferimentos graves provocados pela mordedura de animal suspeito;

  • soro antitetânico: para a neutralização das toxinas secretadas pelo bacilo tetânico (Clostridium tetani).

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.