Os cerca de trinta brasileiros residentes na Faixa de Gaza seguem à espera da abertura do corredor humanitário para serem retirados pelo Ministério das Relações Exteriores e resgatados para o território egípcio, de onde serão repatriados. Neste sábado (21), o corredor foi usado pela primeira vez para a passagem de caminhões com auxílio humanitário destinado a Gaza, bombardeada há 14 dias, desde os ataques dos terroristas do Hamas a Israel. Em comunicado, o Itamaraty informou que mantém contato com os brasileiros através do Escritório de Representação no Ramala e garantiu que veículos contratados pelo governo seguem aguardando autorização para atravessar o grupo por Rafah.
Em relação àqueles que estão em território israelense, o ministério indicou que o Brasil deverá realizar neste domingo (22) o oitavo e último voo de repatriação, previsto para decolar de Tel Aviv no período da manhã. “Tendo em conta as condições locais atuais e a operação regular do aeroporto de Ben Gurion, não se preveem voos adicionais para brasileiros em Israel”, informou o Itamaraty.
Nessa manhã, o sétimo voo pousou no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Sessenta e nove passageiros desembarcaram; entre eles, três bolivianas. Esta foi a primeira vez que a Força Aérea Brasileira (FAB) trouxe de Israel para o país cidadãos de outra naturalidade. Até agora, 1.201 brasileiros e 44 animais domésticos foram repatriados. A operação dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores começou no dia seguinte ao início do conflito, em 7 de outubro, com a decolagem da primeira aeronave rumo a Israel.
Críticas ao Conselho de Segurança da ONU
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou a estagnação do Conselho de Segurança das Nações Unidas diante da crise humanitária disseminada em Gaza desde os ataques dos extremistas do Hamas em Israel e ponderou que a inação do órgão afeta milhões de pessoas. “A paralisia do Conselho de Segurança da ONU está prejudicando a segurança e as vidas de milhões de pessoas”, disse durante a Cúpula da Paz. A reunião convocada pelo governo do Egito aconteceu em Cairo, neste sábado (21), e reuniu representantes de países europeus e do Oriente Médio para diálogo sobre a questão humanitária no território palestino.
Ainda na intervenção durante a Cúpula da Paz, o ministro seguiu a tradição diplomática brasileira e sustentou um pedido de paz na região. “O presidente Lula me conferiu uma missão para esta reunião: somar a voz do Brasil à daqueles que pedem calma, moderação e paz”, afirmou. O chefe do Itamaraty tornou a classificar como terrorista a atuação do Hamas — repetindo a declaração do presidente brasileiro durante evento público nessa sexta-feira (20) — e ponderou sobre a gravidade dos bombardeios em áreas civis em Gaza, sem atribuí-los a Israel. "É inaceitável a destruição de estruturas civis, incluindo instalações de saúde. Testemunhamos consternados o bombardeamento do hospital Al Ahli-Arab e lamentamos as mortes das centenas de vítimas”, declarou citando o ataque à unidade de saúde em Gaza na última quarta-feira (18), ainda sem autoria confirmada.
Vieira também criticou a atuação militar israelense em Gaza, que sofre com a escassez de suprimentos médicos e cortes constantes de energia elétrica e no abastecimento de água. “Israel tem responsabilidades específicas, que devem ser cumpridas, no âmbito dos direitos humanos internacionais”, pontuou. O ministro reforçou, por fim, a declaração do presidente Lula de que a crise humanitária requer uma ação multilateral urgente.
Fora o interesse diplomático do Brasil na discussão, o país está particularmente preocupado com a retirada de cerca de 30 brasileiros e seus familiares residentes em Gaza. Antes do encontro em Cairo, o ministro do Itamaraty sustentou que é necessário pôr fim “a esse derramamento de sangue e a essa guerra”. Nos últimos 14 dias, 4.385 pessoas morreram na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais. Em Israel são, pelo menos, 1.400.