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Gabriel pede ao MP que apure ‘denúncia de intervenção’ de Aro e Fuad na Câmara de BH

Embate entre presidente da Câmara e adversários políticos ganhou, nesta segunda-feira (4), capítulos que ultrapassam o Legislativo; Justiça também está no caso

Após aliança na eleição interna da Câmara de BH em 2022, Gabriel e Aro romperam politicamente

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo (sem partido), enviou, nesta segunda-feira (4), pedido ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para a apuração de “interferências” de “agentes políticos” no Poder Legislativo da capital mineira. No documento, remetido ao procurador-geral do estado, Jarbas Soares Júnior, Gabriel aponta o secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro (PP), e o prefeito Fuad Noman (PSD), de tentar influenciar nos rumos do Parlamento. Aro rebate as acusações. (Leia o posicionamento dele ainda neste texto)

A denúncia de Gabriel foi feita a reboque da possibilidade de a Câmara de BH abrir um processo de cassação contra ele por quebra de decoro parlamentar. As queixas contra o presidente da Casa foram feitas pela deputada federal Nely Aquino (Podemos-MG), sua antiga aliada e integrante da chamada “Família Aro”, grupo composto por forças políticas sobre as quais Aro detém influência.

No documento, Gabriel diz que Aro tem pressionado vereadores a votar a favor da admissibilidade de sua cassação. O vereador cita, inclusive, a “possibilidade de crimes de ameaça e coação”.

“A conduta do Secretario Marcelo Aro demostra, mais uma vez, sua vontade de interferir na política interna da Câmara Municipal de Belo Horizonte, em apoio com outros agentes políticos, o que pode gerar danos irreparáveis a autonomia e independência da Casa, razão pela qual o Ministério Público deve, urgentemente, investigar os fatos”, lê-se em trecho da petição assinada pelo presidente da Câmara.

Segundo Gabriel, parlamentares que sinalizaram a intenção de votar contra a abertura do processo que pode culminar na perda do mandato foram alvo de ameaças de expulsão partidária, difamações digitais e de início de investigações.

“Os vereadores relataram intensidade em ligações telefônicas e reuniões para que tais ameaças e constrangimentos fossem feitos, e que também durante a reunião plenária, por diversas vezes, vereadores da chamada “Família Aro” procederam a ameaças dentro do Plenário, na tentativa de coagir vereadores a mudar seu voto”, afirma.

Marcelo Aro rebate

Procurado pela Itatiaia, Marcelo Aro rebateu as acusações do presidente da Câmara.

“Gabriel é desequilibrado e responderá por cada crime/denúncia que está cometendo. Mas deixo pra discutir com bandido no foro adequado, que é na justiça. No mais, importante as pessoas saberem que ele faz tudo isso para criar uma cortina de fumaça naquilo que realmente aconteceu: ele gravou um colega vereador dele, e não é a primeira vez. Gabriel perdeu a confiança de todos os vereadores e políticos do país. Ele grava as pessoas”, disse, em menção ao fato de o chefe do Legislativo ter divulgado a gravação de uma ligação telefônica com Marcos Crispim (Podemos), que foi alvo de um pedido de cassação apresentado por um assessor de Gabriel. O pleito, aliás, foi rejeitado em plenário nesta segunda-feira.

Fuad Noman, outro político citado por Gabriel, também foi procurado. Se houver resposta, este texto será atualizado.

Nesse domingo (3), parlamentares chegaram a fazer boletins de ocorrência (BOs) contra Aro.

Histórico

Marcos Crispim, que teve a abertura de cassação rejeitada, foi denunciado pelo assessor Guilherme Barcelos, que trabalha no gabinete do presidente da Câmara. Barcelos acusou o vereador do Podemos de quebra de decoro parlamentar por supostamente ter feito “denunciação caluniosa”. No caso, Crispim registrou boletim de ocorrência no qual acusou Barcelos de invadir seu gabinete e usar sua senha no sistema eletrônico do Legislativo para arquivar o pedido de cassação contra o presidente da Câmara.

O caso se relaciona ao pedido de cassação contra Gabriel, apresentado por Nely Aquino. A deputada federal aponta quebra de decoro por parte do presidente da Câmara. Para basear a tese, ela cita situações como suposta interferência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa da Pampulha, ataques à vereadora Flávia Borja (PP) e o uso das expressões “lambe-botas” e “resto de ontem” para se referir a Wagner Ferreira, do PDT.

‘Guerra’ judicial e ida anterior ao MP

A disputa entre Gabriel e o entorno de Marcelo Aro extrapolou os muros da sede da Câmara de BH. Isso porque, além da votação da abertura da cassação, há pedido para que os vereadores votem se o presidente do Legislativo deve, ou não, ser afastado das funções de chefe de Poder até o fim das investigações.

Nesta segunda-feira, o desembargador Wilson Benevides, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), emitiu decisão que impede a análise, em plenário, do afastamento do presidente.

Juliano Lopes (Agir), vice-presidente da Câmara e aliado de Aro, recorreu à Justiça para viabilizar a votação do afastamento.

Nely Aquino, por sua vez, acionou o MP de Minas pedindo que o órgão solicite, à Câmara, o afastamento de Gabriel da presidência.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.