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Semana deve marcar novo depoimento de Bolsonaro à PF; entenda casos e relembre oitivas anteriores

Ex-presidente terá de falar sobre conversas entre empresários para suposto golpe de estado; possível negociação de joias também está na mira

Ex-presidente terá de voltar à sede da PF para novo depoimento

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve depor, nesta semana, à Polícia Federal (PF), sobre duas investigações em que é citado. As oitivas, agendadas para a próxima quarta-feira (31), vão tratar da suposta venda de joias pertencentes ao Estado brasileiro e de conversas mantidas por empresários, via WhatsApp, sobre a possibilidade de um golpe de estado. Antes, nesta segunda-feira (28), ele estará em Belo Horizonte para cumprir agendas com aliados.

Os dois depoimentos vão dar continuidade a uma série de inquirições feitas por agentes da PF ao ex-presidente. Desde março, quando retornou ao Brasil após passar três meses nos Estados Unidos da América (EUA), Bolsonaro já esteve quatro vezes nas instalações da corporação para prestar informações.

1º depoimento: Caso das joias

O primeiro depoimento do capitão reformado do Exército foi, justamente, a respeito das joias. Em 5 de abril, pouco mais de um mês após retornar dos Estados Unidos, ele teve de falar sobre a suposta tentativa, por parte do ex-ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, de entrar ilegalmente no país com presentes vindos da Arábia Saudita.

A oitiva durou cerca de três horas e, após o depoimento, seu ex-secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, comentou sobre a oitiva.

“O depoimento do Pr Jair Bolsonaro transcorreu de maneira absolutamente tranquila, tendo respondido a todas as indagações feitas pela PF. Foi uma ótima oportunidade para esclarecimentos dos fatos”, declarou Wajngarten.

À PF, Bolsonaro disse ter tomado conhecimento sobre o caso em dezembro de 2022 - um ano após a chegada dos presentes ao Brasil.

Bolsonaro também corroborou a tese da defesa de que a tentativa de liberação das joias junto à Receita Federal, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi para tentar evitar um “vexame diplomático” ao ter um presente recebido por chefe de Estado estrangeiro confiscado por autoridades brasileiras.

Por fim, ele alegou, ainda, nunca ter praticado qualquer irregularidade.

2º depoimento: 8 de Janeiro

Ainda naquele mês, no dia 26 de abril, Bolsonaro depôs no âmbito do inquérito que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Os protestos de pessoas inconformadas com sua derrota nas urnas culminaram na depredação de prédios públicos em Brasília (DF).

Na ocasião, agentes da Polícia Federal questionaram o ex-presidente sobre um vídeo compartilhado em seu perfil oficial no Facebook dois dias após os atos violentos. O vídeo, em questão, questionava os resultados das eleições de outubro do ano anterior e foi apagado cerca de duas horas depois.

À PF, ele disse que iria salvar o vídeo que recebeu em seu celular, mas compartilhou por engano.

Quem saiu em defesa do ex-presidente na ocasião foi seu advogado, Paulo Cunha Bueno, que atendeu jornalistas na porta da superintendência da Polícia Federal. Ele confirmou a declaração e disse que, naquela data, Bolsonaro havia acabado de receber alta após ter sido internado para tratar uma obstrução intestinal, e estava sob efeito de morfina, o que o levou a compartilhar o vídeo de forma “equivocada”.

“Essa postagem foi feita de forma equivocada, tanto que, pouco tempo depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente retirou essa postagem. Observo, inclusive, que essa postagem foi feita na sua rede social de menor importância”, afirmou.

3º depoimento: Falsificação de cartões de vacina

No dia 16 de maio, o político do PL voltou a se encontrar com agentes da Polícia Federal e precisou se explicar sobre um suposto esquema de fraude em cartões de vacinação contra a Covid-19. À época, houve operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro, quando um aparelho celular foi apreendido.

Na ocasião, ele negou ter qualquer informação sobre a inserção de dados falsos no sistema eletrônico do SUS e que não sabia sobre o suposto envolvimento do seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, na trama. O tenente-coronel do Exército está detido desde aquela época acusado de envolvimento no esquema.

4º depoimento: Plano para grampear Alexandre de Moraes

Dois meses depois, na esteira de um suposto plano golpista citado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES), Bolsonaro foi chamado a prestar outro depoimento.

O parlamentar revelou que teria se reunido com o ex-presidente e o deputado federal Daniel Silveira, em Brasília, e que este teria sugerido um plano para grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Apesar de ter confirmado a reunião no Palácio da Alvorada, ainda em 2022, Bolsonaro revelou, a jornalistas, que nenhum plano foi tratado e que ele ficou em silêncio na ocasião.

“Nada foi tratado. Nenhum plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes foi discutido naquela reunião que durou, aproximadamente, vinte minutos. Fiquei em silêncio”, declarou.

Depoimentos simultâneos

Quando Bolsonaro estiver falando a respeito das supostas negociações envolvendo as joias, sete outras pessoas vão dar depoimentos simultâneos sobre o caso. Na lista, estão a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid.

Mauro César Lourena Cid, pai do antigo auxiliar de Bolsonaro, e os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten também vão depor. A lista tem, ainda, os assessores Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti.

O depoimento a respeito das joias vai acontecer duas semanas depois do advogado de Mauro Cid, Cezar Bittencourt, ter indicado uma confissão do cliente a respeito da negociação das “joias”. Depois, o advogado negou ter se referido a ‘joias’ na entrevista anterior. “O relógio é uma joia, não ‘joias”. O defensor disse que Bolsonaro pediu a Cid para “resolver” o “problema” em torno de um relógio Rolex, que acabou vendido nos Estados Unidos da América (EUA).

“Acredito que (o ‘resolve aí’) significou o que o Cid fez. Ele era assessor, conhecia o chefe. Não sei há quanto tempo trabalhavam (juntos), têm intimidade. Vi a entrevista do presidente e ele disse: ‘Cid tinha autonomia’. Autonomia dentro dos limites da assessoria, aquilo que ele está lá para fazer. Isso é interpretação minha. Ele recebeu a determinação ‘resolve aí’. E ele resolveu”, falou.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.
Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.