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‘Discurso, retórica e polêmicas fizeram com que Bolsonaro perdesse para para ele próprio’, diz Zema

Governador de Minas afirmou que ex-presidente fez um bom governo, mas errou na comunicação

O governador Romeu Zema (Novo) avaliou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu a eleição para ele mesmo ao exagerar em discursos e embates polêmicos ao longo de seu mandato.

Em entrevista ao jornal ‘Estado de São Paulo’, Zema afirmou que considera o governo Bolsonaro bom - “nota 8" -, mas que sua forma de se comunicar foi ruim - “nota 5".

“Ele tinha a eleição totalmente na mão. Mas o discurso, a retórica, a polêmica fizeram com que ele perdesse para ele próprio. Ele fez um governo bom, talvez nota 8. Mas teve uma comunicação ruim, principalmente a dele. Eu daria nota 5. Por que não adianta você fazer certo e comunicar o contrário. Não foi falta de alerta, da equipe que estava com ele de que isso acabaria prejudicando-o”, afirmou Zema ao ser questionado qual nota daria para o ex-presidente.

Liberal ou não?

Perguntado se considera que Bolsonaro fez um governo liberal, Zema diz que em algumas partes da gestão ele adotou medidas para incentivar o livre mercado, mas poderia ter cuidado melhor da imagem do país na questão ambiental.

“Em termos, sim. Em termos, não. Foi liberal em algumas questões e não em outras. Na área econômica, pode ter sido porque fez uma reforma previdenciária, simplificou a vida do empreendedor, mas pouco avançou em desestatização, na questão de uma economia mais de mercado, de fazer o Brasil se inserir numa cadeia mundial de comprar e vender mais. Isso não avançou muito não. E teve a questão do meio ambiente. Hoje, ser ambiental é ser de mercado. Porque eu sei que se o nosso café não for um café verde, produzido com toda a responsabilidade ambiental, nós vamos ter dificuldade de exportar café", afirmou Zema.

Cosud

O governador de Minas defendeu a união dos estados do Sul e Sudeste para conseguir maior peso em pautas discutidas com o governo federal. Segundo Zema, o grupo tem intenção de garantir maior “protagonismo político” para os estados das duas regiões e equilibrar as discussões sobre benefícios para os estados.

“Temos o Grupo do Cosud. Na verdade, ele já existia, mas nós formalizamos o Consórcio Sul, Sudeste, que reúne os 7 Estados das duas regiões. A cada 90 dias, nós nos encontramos para trabalharmos de forma conjunta. A última reunião foi em Belo Horizonte. Tem muita coisa que um Estado faz melhor que o outro. Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, disse Zema.

Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
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