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Tensão com governo, ação no STF e cerco a aliados: a semana agitada de Arthur Lira

Presidente da Câmara disparou contra articulação do governo em meio a votação de MP e viu aliado ser alvo de operação da PF

Arthur Lira viveu momentos de altos e baixos ao longo da última semana

Poucas horas separaram três episódios marcantes da semana de Arthur Lira (PP-AL). O presidente da Câmara dos Deputados - que comanda o principal bloco parlamentar da Casa, o Centrão - foi o principal responsável por vitórias e derrotas do governo federal no Legislativo nos primeiros seis meses do governo Lula.

Era quarta-feira (31) e, desde as primeiras horas do dia, Lira já havia conversado com o presidente para “queimar” a articulação do governo. Mais tarde, as críticas se tornaram públicas, embora o deputado nunca tivesse citado os nomes dos responsáveis pela negociação entre Executivo e Legislativo: os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

As críticas envolviam a aprovação da MP dos Ministérios. No dia 1º de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou uma Medida Provisória que criava 13 ministérios, com os quais pretendia governar. A MP tinha vencia no dia 1º de junho, e precisava ser aprovada na Câmara e no Senado para não caducar. Caso isso acontecesse, Lula seria obrigado a governar com a estrutura deixada pelo governo Bolsonaro.

Em meio à tramitação conturbada no Legislativo, o STF tirava da gaveta o julgamento de um recurso de Lira contra uma denúncia de corrupção e, mais tarde, a Polícia Federal preparou um cerco contra um de seus aliados.

Ato 1: a votação da MP dos ministérios

Horas antes da votação, que se encerrou por volta das 23h30 com uma vitória com folga pela aprovação da MP dos Ministérios, Arthur Lira chegou à Câmara dos Deputados e deu uma entrevista coletiva, de improviso, em que deixou claro o nível de tensão entre os blocos partidários e o governo.

Ainda sem certeza sobre o resultado da votação, o presidente da Câmara jogou para o governo a responsabilidade sobre uma eventual derrota no plenário.

“Se hoje o resultado não for de aprovação ou votação da medida provisória, não deverá a Câmara ser responsável pela falta de organização política do governo”, disparou.

Em seguida, contou aos jornalistas sobre o telefonema com Lula de manhã.

“O presidente Lula me ligou de manhã, nós conversamos e eu expliquei a ele as dificuldades que o governo dele tem e precisamos tratar disso com clareza. O problema não é da Câmara, do Congresso. O problema está no governo, na falta ou ausência de articulação. Não tenho mais como empenhar meu papel em estar conduzindo as matérias do governo, de interesse do país”, afirmou.

No painel eletrônico da Casa, a votação da MP dos Ministérios demonstrou uma vitória com larga margem a favor do governo: 337 a 125.

Ao fim daquela noite, Lira comentou sobre o resultado da votação e deixou claro que a aprovação da Medida Provisória foi fruto de um apelo de Lula a ele ao longo do dia e que o governo teria que “caminhar com as próprias pernas” dali em diante.

Ao lado do relator do projeto, deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB-AL), seu conterrâneo, afirmou que os líderes de partidos que não fazem parte da base do governo - o chamado Centrão - “reconheceram a necessidade de dar mais uma oportunidade ao governo”, mas também deu seu recado:

“É importante que se diga e deixe claro que, daqui para frente, o governo, claro, vai ter que andar com as suas pernas”, disse Lira ao final daquela noite.

Em meio ao dia agitado, uma reportagem do Portal Metrópoles revelou que Lira teria pedido a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho, herdeiro de seu rival, em Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB). Lira negou.

Ato 2: denúncia contra Lira anda após 3 anos no STF

Em meio à conturbada sessão de votação na Câmara dos Deputados, do outro lado da praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou para julgamento um recurso da defesa de Arthur Lira contra uma denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva.

O processo estava adormecido desde 2020 na gaveta do ministro Dias Toffoli, que pautou o caso para julgamento da Primeira Turma.

A PGR acusou Lira por corrupção passiva em 2019 sobre um caso que havia ocorrido sete anos antes. Em 2012, um assessor parlamentar do deputado foi encontrado com R$ 106 mil em dinheiro vivo quando tentava embarcar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ao ser descoberto, o assessor disse que o dinheiro pertencia ao deputado.

Conforme a denúncia, o recurso tinha como destino o próprio Lira - líder do PP na Câmara à época - e seria utilizado para troca de apoio político, como pagamento para a manutenção do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Carlos Cabalero Colombo, no cargo.

Em abril deste ano, a PGR mudou de posicionamento sobre o caso e decidiu pedir ao Supremo o arquivamento da denúncia.

Ato 3: operação da PF mira aliado de Lira

Horas depois da aprovação da MP dos Ministérios e das declarações de Lira contra a articulação do governo federal, a Polícia Federal saiu às ruas para cumprir mandados de busca e apreensão que tinha como alvos um assessor de Arthur Lira - atualmente nomeado na liderança do PP na Câmara.

Ele é investigado por fraudes em licitações para compra de kits de robótica destinados a Alagoas, estado do presidente da Câmara. Em entrevista à Globo News, Lira disse não ter se sentido atingido pela operação da PF.

“Não posso emitir nenhum juízo de valor. O que eu posso dizer é que eu, tendo a postura que tenho em defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil e toda a população, não tenho absolutamente nada a ver com o que está acontecendo e não me sinto atingido nem acho que isso seja provocativo”, afirmou na entrevista

No entanto, no dia seguinte à operação, Lira se reuniu com o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB) para questionar o “timing” das investigações. O que se sabe é que a operação da PF precisou ser adiada porque parte dos investigados estava no exterior.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.