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Transferência de verba do “Sistema S” para Embratur gera disputa entre as instituições

MP prevê destinação de 5% da contribuição social do Sesc/ Senac a uma fonte de receita permanente para promoção internacional do turismo

Transferência de verba do “Sistema S” para Embratur gera disputa entre as instituições.

Prevista para ser votada no Senado Federal até o final de maio, a Medida Provisória 1147/ 2022, está gerando uma disputa entre o Sesc/ Senac – parte do Sistema S – e a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).

A MP, que já foi aprovada na Câmara dos Deputados, prevê a destinação de 5% do orçamento do Sesc/Senac para a promoção internacional do turismo, executada pela Embratur.

O Sistema S alega que, caso a proposta seja aprovada, o repasse dos recursos das contribuições sociais destinadas pelas empresas do setor terciário, traria o risco de fechamento de unidades, desemprego e queda da qualidade.

A redução do orçamento, segundo o Sesc (Serviço Social do Comércio) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), pode acarretar no encerramento das atividades das instituições em mais de 100 cidades brasileiras.

Além do Sesc e do Senac, o Sistema S é composto por outras sete instituições: Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Sesi (Serviço Social da Indústria), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) e Sest (Serviço Social de Transporte).

“Seriam fechadas 36 unidades do Sesc, com corte de 1.994 empregos e deixariam de ser investidos R$ 121 milhões em atendimentos gratuitos. Também haveria diminuição de 2,6 milhões de toneladas de alimentos distribuídas por programas como o premiado internacionalmente Mesa Brasil Sesc, supressão de 2,6 mil exames de saúde e de 37 mil atendimentos em atividades físicas e recreativas. Além disso, ocorreria ainda o corte de 2 mil apresentações culturais, com público estimado em 14 milhões de pessoas”, diz o Serviço Social do Comércio em comunicado.

Já na visão da Embratur, o orçamento do Sesc/ Senac seria direcionado exclusivamente à promoção internacional do turismo internacional do Brasil e não ocasionaria nenhuma demissão, redução de atividades ou fechamento de unidades.

A Embratur mostra que estas organizações do Sistema S arrecadaram juntas R$ 8,9 bilhões em 2021. Se a MP já estive valendo, a agência receberia R$ 447 milhões.

“Esse valor representa apenas 24% do que sobrou e não foi utilizado pelo Sesc/Senac naquele ano. Essas entidades possuem hoje, acumulados em caixa, nada menos que R$ 15 bilhões, valor que aumenta a cada ano. Esse patrimônio rende em aplicações financeiras, por ano, mais R$ 2 bilhões”, argumenta a Embratur.

A proposta da MP, que, segundo a Embratur, foi elaborada com base em um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), estabelece que os recursos do Sistema S, em parte, vêm do próprio setor turístico que se beneficia com a atuação da agência. Além disso, seria esse estudo que aponta que o dinheiro deveria sair da verba do Sesc/Senac.

A CNN solicitou o estudo citado para a Embratur, mas até o momento não teve retorno.

“Ao todo, são 359 atividades de serviço e comércio lucram com o turismo. Com mais estrangeiros visitando nosso país, aumenta a demanda desses setores, que faturam mais e contratam mais trabalhadores”, destaca a Agência de promoção do turismo, em nota publicada em seu site oficial.

De acordo com o estudo citado pela Embratur, a cada R$ 1 investido na promoção internacional do turismo, R$ 20 são injetados na economia do Brasil por meio do consumo dos visitantes estrangeiros.

Abaixo-assinado

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que representa parte do Sistema S, disponibilizou um abaixo-assinado contra a MP. Em 24 horas no ar, mais de 40 mil assinaturas foram registradas.

“O suposto ‘superávit’ do Sesc e do Senac está destinado à continuação de obras em diversos estados, bem como para o início da construção de novas unidades por todo o País. O orçamento de 2023 foi pactuado pelo Conselho Fiscal do Sesc e do Senac, formado por sete entes, sendo quatro lideranças do governo federal, dois de entidades empresariais e um representante da classe trabalhadora. Os recursos foram empenhados para uso previamente determinado e de conhecimento de todos, inclusive, do governo”, diz a Confederação.

Porém, segundo nota do Senado Federal, a informação de que projeto de lei pode fechar mais de 100 unidades do Sesc e do Senac em todo o país, é imprecisa.

O Senado Federal informou em nota que a manifestação da CNC “pode levar ao entendimento de que um novo projeto de lei foi apresentado com a finalidade de fazer cortes e fechar unidades dos dois serviços, proposta que não existe.”

A MP 1.147/ 2022

A MP 1.147/2022 altera a Lei nº 14.148, de 2021, instituindo o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e reduz a zero por cento as alíquotas da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre as receitas decorrentes da atividade de transporte aéreo regular de passageiros entre 1º de janeiro de 2023 e 31 de dezembro de 2026.

Durante a análise desta MP na Câmara, o relator, deputado José Guimarães (PT-CE), inseriu dois artigos, entre outros, que estabelecem a transferência de 5% dos recursos do Sesc e do Senac para custeio da Embratur e promoção do turismo internacional no Brasil.

Conforme nota do Senado Federal, o texto, aprovado pelos deputados, ainda será votado pela casa. “Isso acontece com toda medida provisória que sofre alteração: a Casa revisora (Senado ou Câmara, dependendo de quem fez a mudança) vota o que foi alterado pela outra Casa.”

A inclusão dos artigos tem gerado também discordância no Senado. Já foram apresentados 9 requerimentos para que esses dispositivos sejam desconsiderados.

Senadores alegam que o assunto é diferente do originalmente tratado na MP — a redução de alíquotas da Contribuição para PIS e Pasep e da Cofins para auxiliar a retomada do setor de eventos e a atividade do transporte aéreo regular de passageiros.

O prazo para análise da medida termina em 30 de maio. Se não for votada até lá, perde a validade.

A CNC esclarece que “todas as informações publicadas nos perfis das redes sociais, bem como os materiais informativos encaminhados à imprensa, apontam corretamente que são os artigos 11 e 12 do PLV 09/2023 que propõem o desvio de 5% dos recursos das duas instituições para a Embratur.”

Segundo a nota da confederação, a citação “sensibilizar o Senado para não aprovar o corte de 5% do projeto de lei que pode fechar mais de 100 unidades do Sesc e do Senac em todo o país”, baseia-se em uma peça gráfica divulgada internamente aos colaboradores do Sistema Comércio que direciona o usuário para o site do abaixo-assinado.

Por sua vez, a Embratur afirma que, se o projeto não for aprovado, a entidade não terá nenhum orçamento para investir na atração de turistas estrangeiros e irá parar totalmente suas ações de promoção do país no exterior. “O número de turistas que nos visitam irá cair, gerando desemprego e fechando estabelecimentos pelo país.”

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