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Em operação que tem Bolsonaro como alvo, PF esbarra em mensagens sobre tentativa de ‘golpe de Estado’

Ex-militar, Ailton Barros é citado em enredo que trata de tentativa de golpe; ele foi preso nesta quarta-feira (3)

Aílton Barros é ex-militar e foi preso pela Operação Venire nesta quarta-feira

As investigações da Polícia Federal sobre o esquema criminoso de registro de informações falsas sobre vacinação contra a covid-19 - e que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - também identificaram mensagens de pessoas próximas a ele elaborando um plano para dar um “golpe de estado”.

Trechos das trocas de mensagens interceptadas pela Polícia Federal e enviadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito na operação Venire estão sob sigilo. No entanto, um trecho da decisão do ministro Alexandre de Moraes, que teve o sigilo quebrado mostram um possível envolvimento do ex-militar e advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros e outras pessoas “não identificadas”.

Ailton Barros é um dos seis presos na Operação Venire, deflagrada nesta quarta-feira (3). Outro militar detido é o tenente-coronel do Exército, Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante todo o seu mandato.

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“A investigação ainda constatou tratativas para execução de um Golpe de Estado e possível tentativa de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito envolvendo o investigado AILTON GONÇALVES MORAES DE BARROS e pessoas ainda não identificadas”, diz trecho da decisão.

Em outra passagem, o documento ainda relaciona as mensagens encontradas no celular de Ailton Barros com os atos golpistas do dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) marcharam em Brasília e invadiram as sedes do STF, do Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.

Ainda, as autoridades policiais pedem que os fatos sejam remetidos a outro inquérito, que investiga os atos antidemocráticos.

“Apesar de não terem obtido êxito na tentativa de golpe de Estado, sua atuação, possivelmente, foi um dos elementos que contribuíram para os atos criminosos ocorridos no dia 08 de janeiro de 2023, fato que demonstra a necessidade da pertinente autorização judicial para compartilhamento dos elementos informativos ora identificados com os autos do Inquérito 4923/DF”, diz o texto.

Ailton Barros é aliado de Bolsonaro e concorreu ao cargo de deputado estadual nas eleições do ano passado. Filiado ao PL, seu nome de urna era “01 do Bolsonaro”.

Ex-militar diz saber sobre morte de Marielle Franco

Em outra passagem do inquérito, o nome de Aílton Barros está relacionado ao assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, em 2018. Em um troca de mensagens com o tenente-coronel Mauro Cid, o militar da reserva diz saber “tudo” sobre as circunstâncias da morte da ex-parlamentar, inclusive quem seria o mandante.

Marielle foi assassinada no Rio de Janeiro no dia 14 de março de 2018, mas os mandantes do crime nunca foram identificados pelos investigadores.

Na mensagem interceptada pela Polícia Federal, Aílton faz a intermediação junto a Mauro Cid para que Marcello Siciliano consiga uma reunião com o cônsul dos Estados Unidos no Brasil para resolver um problema relacionado a seu visto de entrada no país norte-americano. O ex-vereador foi citado, no início das investigações como sendo o mandante do assassinato, o que não foi confirmado - e, por isso, teria tido o visto cancelado.

“Esse garoto, Marcello Siciliano era um que vereador do Rio de Janeiro e que foi acusado de ser o mandante da morte da Marielle”, contou Ailton Barros no áudio. “Aí depois o camarada confessou que inventou a história (o cara da polícia federal), confessou que inventou a história dele, que não foi ele aí passou a acusar o Brasão, tá tudo na conta do Brasão”, completou, referindo-se a Domingos Brazão, ex-deputado e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.