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Caso Marielle Franco: PF vai usar áudio para tentar chegar ao mandante do crime

Ministro da Justiça, Flávio Dino, diz que lei permite que provas colhidas na operação Venire possam ser usadas no caso Marielle

Flávio Dino explicou que provas colhidas na operação Venire podem ajudar na investigação sobre caso Marielle Franco

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), revelou que a Polícia Federal deve aproveitar trechos do inquérito da Operação Venire para tentar chegar aos mandantes do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco. Isso porque as investigações se depararam com um áudio relacionado ao crime feito por um dos alvos da operação que apura um esquema criminoso de adulteração nos registros de vacinação contra a covid-19.

O áudio é do advogado e ex-militar Aílton Barros, um dos presos na operação deflagrada nesta quarta-feira (3), pela Polícia Federal. De acordo com informações que constam no inquérito, Aílton revelou que sabia “tudo” sobre o caso, incluindo quem seria o mandante do assassinato de Marielle Franco, executada em março de 2018 junto com seu motorista, Anderson Gomes.

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A Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro instaurou inquérito para apurar o assassinato e Aílton Barros deve ser ouvido.

De acordo com o ministro Flávio Dino, a PF pode aproveitar as provas para avançar no inquérito do caso Marielle.

“Essa alusão ao caso Marielle mostra que, muito provavelmente, nós teremos múltiplos objetos de investigação a partir das apreensões realizadas. Isso não só pode como deve ser feito”, afirmou.

Dino disse, ainda, que as investigações podem demorar já que a prova pericial do material apreendido pela Polícia Federal é “complexa”.

"É complexa por duas razões: primeiro é preciso observar a chamada cadeia de custódia da prova para que haja validade da prova. A outra razão é exatamente a serendipidade. Você não vai olhar apenas o material relativo à vacinação vai olhar tudo. Exatamente porque, juridicamente, é possível usar todas as provas colhidas, inclusive na investigação de outros crimes que sequer tinham conexão com aquela investigação inicialmente visada”, explicou o ministro da Justiça.

‘Sei quem mandou’

O áudio em questão foi retirado de uma conversa entre Ailton Barros e o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O militar também foi preso durante a operação.

Na mensagem compartilhada pelo Whatsapp, Barros tentar intermediar com Cid uma reunião entre o ex-vereador do Rio de Janeiro, Marcello Siciliano, com o cônsul dos Estados Unidos no Brasil. O objetivo seria resolver um problema do ex-parlamentar com o visto de entrada no país.

Siciliano foi acionado para conseguir inserir dados falsos de vacinação no sistema do Ministério da Saúde. Em contrapartida, cobrou uma intermediação para a reunião. Ele teve o visto cancelado para os EUA depois de ter sido citado, inicialmente, como mandante do assassinato de Marielle. No entanto, as investigações chegaram à conclusão de que Siciliano foi acusado por um adversário político em um depoimento falso.

A mensagem de Aílton Barros a Cid foi encontrada nesse contexto, em que ele explicava a situação do ex-vereador e tentava intermediar o encontro com o cônsul.

“Esse garoto, Marcello Siciliano era um que vereador do Rio de Janeiro e que foi acusado de ser o mandante da morte da Marielle. Aí depois o camarada confessou que inventou a história (o cara da polícia federal), confessou que inventou a história dele, que não foi ele aí passou a acusar o Brasão, tá tudo na conta do Brasão”, completou, referindo-se a Domingos Brazão, ex-deputado e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

“Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou [matar]. Sei a p* toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí", referindo-se à inocência de Marcello Siciliano no caso

Aílton Barros ainda aparece em outro trecho do inquérito, quando mensagens compartilhadas por ele citam uma “tentativa de golpe de Estado”.

Assassinato de Marielle Franco

A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco foi morta em 14 de março de 2018 após deixar um evento político na capital fluminense. Ao deixar o local, à noite, ela entrou em um carro oficial que era dirigido pelo seu motorista, Anderson Gomes. A dupla foi interceptada por um outro veículo quando uma pessoa abriu fogo contra eles. Marielle foi atingida por quatro tiros - três na cabeça e um no pescoço - e morreu na hora. Anderson também morreu.

As investigações da polícia à época localizaram o veículo utilizado pelo crime e, com essa informação, a polícia começou a investigar uma organização criminosa conhecida como “Escritório do Crime”. Duas pessoas que teriam matado Marielle foram presas, o policial militar Ronnie Lessa e o policial reformado Élcio de Queiroz, que dirigia o veículo.

Os mandantes do assassinato, no entanto, nunca foram revelados.

Repórter da Itatiaia desde 2018. Foi correspondente no Rio de Janeiro por dois anos, e está em Brasília, na cobertura dos Três Poderes, desde setembro de 2020. É formado em Jornalismo pela FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso), com pós-graduação em Comunicação Eleitoral e Marketing Político.
Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.