O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), revelou que a Polícia Federal deve aproveitar trechos do inquérito da Operação Venire para tentar chegar aos mandantes do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro,
O áudio é do advogado e ex-militar Aílton Barros, um dos presos na operação deflagrada nesta quarta-feira (3), pela Polícia Federal. De acordo com informações que constam no inquérito,
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A Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro instaurou inquérito para apurar o assassinato e Aílton Barros deve ser ouvido.
De acordo com o ministro Flávio Dino, a PF pode aproveitar as provas para avançar no inquérito do caso Marielle.
“Essa alusão ao caso Marielle mostra que, muito provavelmente, nós teremos múltiplos objetos de investigação a partir das apreensões realizadas. Isso não só pode como deve ser feito”, afirmou.
Dino disse, ainda, que as investigações podem demorar já que a prova pericial do material apreendido pela Polícia Federal é “complexa”.
"É complexa por duas razões: primeiro é preciso observar a chamada cadeia de custódia da prova para que haja validade da prova. A outra razão é exatamente a serendipidade. Você não vai olhar apenas o material relativo à vacinação vai olhar tudo. Exatamente porque, juridicamente, é possível usar todas as provas colhidas, inclusive na investigação de outros crimes que sequer tinham conexão com aquela investigação inicialmente visada”, explicou o ministro da Justiça.
‘Sei quem mandou’
O áudio em questão foi retirado de uma conversa entre Ailton Barros e o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O militar também foi preso durante a operação.
Na mensagem compartilhada pelo Whatsapp, Barros tentar intermediar com Cid uma reunião entre o ex-vereador do Rio de Janeiro, Marcello Siciliano, com o cônsul dos Estados Unidos no Brasil. O objetivo seria resolver um problema do ex-parlamentar com o visto de entrada no país.
Siciliano foi acionado para conseguir inserir dados falsos de vacinação no sistema do Ministério da Saúde. Em contrapartida, cobrou uma intermediação para a reunião. Ele teve o visto cancelado para os EUA depois de ter sido citado, inicialmente, como mandante do assassinato de Marielle. No entanto, as investigações chegaram à conclusão de que Siciliano foi acusado por um adversário político em um depoimento falso.
A mensagem de Aílton Barros a Cid foi encontrada nesse contexto, em que ele explicava a situação do ex-vereador e tentava intermediar o encontro com o cônsul.
“Esse garoto, Marcello Siciliano era um que vereador do Rio de Janeiro e que foi acusado de ser o mandante da morte da Marielle. Aí depois o camarada confessou que inventou a história (o cara da polícia federal), confessou que inventou a história dele, que não foi ele aí passou a acusar o Brasão, tá tudo na conta do Brasão”, completou, referindo-se a Domingos Brazão, ex-deputado e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
“Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou [matar]. Sei a p* toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí", referindo-se à inocência de Marcello Siciliano no caso
Aílton Barros ainda aparece em outro trecho do inquérito, quando
Assassinato de Marielle Franco
A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco foi morta em 14 de março de 2018 após deixar um evento político na capital fluminense. Ao deixar o local, à noite, ela entrou em um carro oficial que era dirigido pelo seu motorista, Anderson Gomes. A dupla foi interceptada por um outro veículo quando uma pessoa abriu fogo contra eles. Marielle foi atingida por quatro tiros - três na cabeça e um no pescoço - e morreu na hora. Anderson também morreu.
As investigações da polícia à época localizaram o veículo utilizado pelo crime e, com essa informação, a polícia começou a investigar uma organização criminosa conhecida como “Escritório do Crime”. Duas pessoas que teriam matado Marielle foram presas, o policial militar Ronnie Lessa e o policial reformado Élcio de Queiroz, que dirigia o veículo.
Os mandantes do assassinato, no entanto, nunca foram revelados.