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Presidente diz que Funed tem ‘baixos índices de produtividade’ e não descarta mudar modelo de gestão

Felipe Attiê, novo comandante da instituição, cancelou o teletrabalho e admite possibilidade, inclusive, de transformar a entidade em fundação privada

Sede da Funed fica na Região Oeste de BH

Servidores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), famosa pela produção de insumos em saúde, como os soros para tratar venenos de serpentes e escorpiões, não vão poder mais trabalhar de casa. Na terça-feira (24), o ex-deputado estadual Felipe Attiê, presidente da fundação desde o fim de fevereiro, disparou um memorando que revoga o teletrabalho a partir do dia 2 de maio.

No documento, obtido pela Itatiaia, Attiê diz que a entidade, ligada ao governo de Minas Gerais, enfrenta “baixos índices de produtividade” e lida com “queda de receita institucional”.

O ofício de Attiê foi enviado aos chefes de oito áreas da Funed. Entre elas, a Assessoria de Gestão Estratégica e Integração Institucional, a Diretoria de Pesquisa Industrial e a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento.

O chefe da instituição, aliás, afirmou à reportagem não saber se o melhor caminho, neste momento, é continuar como empresa pública - ele quer um ano para avaliar a situação - e não descarta a possibilidade de propor outros modelos, como o de fundação privada. (Leia mais sobre isso ainda neste texto)

A direção da Funed pretende montar uma comissão para tratar da situação dos empregados em teletrabalho. A ideia é avaliar os efeitos do home office na produtividade deles, levando em conta a função desempenhada por cada um. A sede do órgão está localizada em um amplo terreno no bairro Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte.

“Quero saber quem são esses funcionários (em teletrabalho). Quero saber se há funcionários em teletrabalho fora do estado ou no exterior. Estou chamando para conhecê-los. Não somos contra o teletrabalho, mas vamos analisar caso a caso”, diz, na entrevista à Itatiaia.

Soros em falta

Na circular, Attiê fala em “falta de produção do complexo industrial”. A fábrica de soros da entidade está fechada desde 2017. A produção de antídotos é considerada a marca da instituição — foi esse o pontapé inicial dado por Ezequiel Dias em 1907, quando o cientista saiu do Rio de Janeiro rumo a Belo Horizonte a fim de encontrar “ar puro” para tratar uma tuberculose.

Hoje, o terreno da Funed tem cinco prédios pensados para abrigar fábricas. Apenas um deles, porém, está aberto aos técnicos. Lá, os profissionais produzem a Talidomida, usada no tratamento de portadores de hanseníase. As caixas do medicamento são enviadas ao Ministério da Saúde.

“Temos cinco fábricas nessa estrutura, mas uma está inacabada há 22 anos. A outra, nunca funcionou. Ficou pronta onze anos atrás e nunca produziu nada. A fábrica de soros, que Fundação Ezequiel Dias já produzia há 100 anos, está fechada. Não se produz soros há quase sete anos. Estamos tomando providências para voltar com eles. E temos mais uma fábrica, de comprimidos, que deixou de ser utilizada”, protesta o presidente.

A Funed sedia, também, laboratórios. Um dos prédios do terreno da entidade é destinado ao Instituto Octávio Magalhães, cujos trabalhadores cuidam de pesquisas ligadas à saúde pública. A área, porém, funciona de forma improvisada. Isso porque há escoras de laje mantendo o edifício de pé. Por isso, apenas o primeiro andar da construção está aberto.

O ofício de Attiê sobre o fim do teletrabalho, aliás, tem críticas à “precária manutenção de prédios, ruas e demais áreas comuns” do complexo produtivo. À Itatiaia, ele afirma que será preciso “muito trabalho dobrado, presencial”, para preencher as lacunas da instituição.

Doze meses decisivos

Felipe Attiê trava debates a respeito do futuro da Funed com integrantes do governo mineiro. Entre eles, o vice-governador Mateus Simões (Novo) e representantes da Secretaria-Geral do Palácio Tiradentes.

O novo presidente explica que, antes de decidir o modelo de gestão a ser seguido pela entidade que compôs a herança científica de Ezequiel Dias, será necessário entender a lógica de funcionamento de outros laboratórios, como o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Laboratório Central de Pernambuco (Lacen).

Só terei condições de dizer se seria uma empresa pública, uma fundação privada — teria de mudar a Constituição Mineira —, se será um novo modelo, uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), ou no que a Funed vai se transformar, daqui uns 12 meses”, pontuou.

Embora pregue cautela, o dirigente crê que mecanismos legais que regem a Funed, como a Lei de Licitações, dificultam o fluxo de processos.

“É preciso ter agilidade, as coisas para ontem. Levo de cinco a nove meses para comprar insumos para fazer Talidomida. Isso é inviável. A Funed não consegue cumprir nenhum prazo estipulado com o Ministério da Saúde ao vender produtos”.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.