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Sob pressão do governo, Banco Central mantém taxa de juros em 13,75% ao ano

Comitê de Política Monetária confirmou continuidade da taxa Selic em patamar alto pela 5ª vez consecutiva

Em meio às pressões do governo pela queda nos juros, mas ainda no escuro sobre a proposta da equipe econômica de novo arcabouço fiscal para o país, o Banco Central seguiu o plano de voo e manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida no Comitê de Política Monetária (Copom).

A segunda manutenção da Selic já no atual governo era consenso no mercado diante da estratégia anunciada pelo Copom de estabilidade da taxa neste patamar por um período “suficientemente prolongado” e mantém a Selic no maior nível desde janeiro de 2017. Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, todas as 45 instituições financeiras consultadas esperavam a estabilidade dos juros básicos em 13,75% ao ano.

Ao justificar a decisão desta quarta-feira, 22, o BC avaliou que a decisão "é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024". “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o comunicado divulgado há pouco.

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Além das reiteradas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT à condução da política monetária sob o comando de Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não perde a oportunidade de atacar o “maior juro real do mundo”. Após a reoneração parcial da gasolina no começo de março, a equipe econômica dobrou a cobrança por uma sinalização do Copom sobre o início de um ciclo de queda na Selic.

Enquanto isso, o mercado segue ansioso por mais detalhes sobre a proposta de lei complementar de novo arcabouço fiscal, cuja apresentação Haddad prometeu para esta semana, mas Lula adiou para abril. As incertezas têm elevado as expectativas de inflação para 2023 e 2024, mas também para prazos de 2025 e 2026 fora do horizonte relevante do Copom.

No último Boletim Focus, as medianas eram de 5,95% para 2023, bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal após 2021 e 2022. Para 2024, a previsão de mercado é de 4,11%, bem mais alta do que o alvo central de 3,00%, mas aquém do limite superior de 4,50%. Para 2025 e 2026, as projeções estavam em 3,90% e 4,00%. A meta para 2025 é de 3,00% e, para 2026, o objetivo inflacionário ainda não foi definido.

Inflação

No comunicado, o BC também atualizou suas próprias projeções para a inflação. No cenário de referência, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2023 de 5,6% para 5,8%. Para 2024, que passou a ter mais peso no horizonte relevante, a atualização foi de 3,4 para 3,6%.

No cenário de referência, a autarquia ainda atualizou no Copom de hoje as projeções para os preços administrados. Em 2023, a estimativa caiu de 10,6% para 10,2%. Já em 2024, variou de 5,0% para 5,3%.

Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024.

Em um cenário alternativo em que a Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, a projeção para o IPCA passou de 5,5% para 5,7% em 2023 e de 2,8% para 3% em 2024. Esse cenário passou a ser divulgado pelo Copom na reunião de fevereiro deste ano.

Com a reoneração parcial da gasolina no começo de março, o BC seguiu dando ênfase no horizonte de seis trimestres à frente, usado desde a reunião de agosto de 2022 diante das incertezas sobre o impacto e a duração da desoneração tributária de combustíveis. Nesse horizonte, que hoje corresponde ao terceiro trimestre de 2024, a projeção para o IPCA em 12 meses está em 3 3%.

“A recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.”

Juro real

Mesmo com a estabilidade da taxa Selic pela quinta reunião consecutiva, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,94% ao ano.

Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (6,05%), seguido do Chile (4,92%). A média dos 40 países avaliados é de -1,92%.

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