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Glenn Greenwald critica decisões de Moraes e diz que ‘regime de censura está crescendo no Brasil’

Jornalista norte-americano diz que poderes exercidos por Alexandre de Moraes são ‘inéditos em uma democracia’

Jornalista Glenn Greenwald alertou para aumento da censura em decisões de ministro Alexandre de Moraes

O jornalista Glenn Greenwald fez duras críticas às decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que bloquearam parlamentares e influenciadores aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.

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Em uma transmissão ao vivo em seu canal na noite de sexta-feira (13), Greenwald apontou que as decisões assinadas por Moraes que levaram ao bloqueio de contas no Facebook, Instagram, Telegram e Twitter escondem os autores dos pedidos e não detalham os motivos para que os bloqueios sejam feitos de forma imediata.

“O regime de censura no Brasil está crescendo rapidamente, é quase diário agora. Nós tivemos acesso a uma decisão que é chocante, determinando que múltiplas plataformas de redes sociais removam políticos e comentaristas proeminentes”, avaliou Glenn.

“A decisão do juiz Moraes proíbe os indivíduos de falar nessas plataformas de forma imediata, um banimento imediato, e determina que as plataformas envie para ele todas as informações dessas contas”, afirmou o jornalista.

O ministro do Supremo tem defendido o máximo rigor das instituições para combater discursos antidemocráticos e ações, como a que resultou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes no último domingo (8). Suas decisões foram validadas pelo Plenário do STF, no entanto, algumas delas são consideradas controversas por vários juristas.

A decisão de afastar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias, foi considerada atípica, uma vez que nenhum órgão, como Ministério Público ou Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a pedir a Moraes tal afastamento.

Glenn citou o caso do deputado eleito Nikolas Ferreira (PL), que na sexta-feira (13) teve as contas retidas no Instagram e no Twitter, onde tem mais de 2 milhões de seguidores.

“Nikolas é um político de 26 anos, apoiador de Jair Bolsonaro, converteu sua popularidade nas redes sociais em votos. Ele foi eleito pela população do Brasil, que o escolheu como representante. Ele recebeu 1,5 milhão de votos, o deputado mais votado do país. Posso pensar em vários temas que não concordo com Nikolas Ferreira. Sem julgamento, sem ser notificado, ele está banido de usar suas redes”, disse o jornalista norte-americano.

O jornalista ganhou destaque na mídia brasileira em 2019, quando escreveu várias reportagens para o site The Intercept sobre mensagens trocadas entre o ex-juiz da Lava-Jato, Sergio Moro, com procuradores do Ministério Publico. A série de matérias, que ficou conhecida como Vaza-Jato, foram decisivas para que o STF considerasse Moro como parcial nos casos envolvendo Lula.

‘Qual é a tua, Gleen?’

A postura crítica de Glenn sobre as decisões de Moraes tem rendido críticas ao jornalista norte-americano. O jornalista Chico Pinheiro, ex-apresentador da TV Globo que trabalhou na campanha de Lula em 2022, respondeu uma das postagens de Glenn criticando seus argumentos.

“Qual é a tua, Glenn? Há alguma informação relevante a dar? O país ameaçado, à beira de um golpe, o Judiciário em recesso e você vem criticar quem luga contra o terrorismo bolsonarista? O que se passa com você?”, escreveu Chico Pinheiro.

Glenn rebateu a crítica: “É incrível ler essa acusação. Essa tática é a mesma usada pelo governo Bush após os ataques de 11 de setembro para silenciar críticos. ‘Nosso país foi atacado! Qualquer um que questione os poderes que invocamos está do lado dos terroristas!’. É uma tática autoritária e desonesta”.

“Os poderes que Moraes vem exercendo são inéditos em uma democracia moderna. Têm sido questionados no mundo, no Brasil e por especialistas jurídicos. A história mostra que as autoridades exploram as crises para tomar poderes perigosos. É por isso que a vigilância é crucial”, continuou Glenn Greenwald.

Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.