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Quem é Anderson Torres, ex-secretário de Justiça do DF que teve a prisão decretada por Moraes

Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro é acusado de “sabotagem” e “omissão” no enfrentamento a golpistas que provocaram quebra-quebra em Brasília

Anderson Torres: de ministro de Bolsonaro a alvo de prisão decretada pelo STF

Em um período de 10 dias, o policial federal Anderson Torres passou de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro para alvo de pedido de prisão, decretado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Com 47 anos de idade, Torres tem 20 anos de serviço como delegado da Polícia Federal e passou à política como chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini (União Brasil-PR), aliado de Bolsonaro.

Em 2019 foi nomeado como secretário de Justiça e Segurança Pública do Distrito Federal, durante o primeiro mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB) e só deixou o cargo em 2021, quando foi nomeado como ministro da Justiça do Bolsonaro - substituindo André Mendonça, que havia sido indicado pelo presidente a uma vaga no STF.

Torres se tornou próximo de Bolsonaro e ficou no cargo até 31 de dezembro de 2022, último dia do governo. Dois dias depois, voltou à pasta da Segurança Pública do DF durante o segundo mandato de Ibaneis.

Governo Bolsonaro

Durante sua passagem pelo Ministério da Justiça, Anderson Torres esteve no centro de diversas polêmicas. Ele foi acusado de ter avisado o então presidente Jair Bolsonaro sobre uma operação da PF contra o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, investigado por corrupção no MEC.

Torres estava em uma viagem oficial aos Estados Unidos, junto de Bolsonaro, e teria vazado informações sigilosas sobre a operação. Ribeiro foi flagrado, em um grampo telefônico, dizendo que foi avisado por Bolsonaro sobre a ação da Polícia Federal. Ele negou ter vazado informações ao presidente.

Outra polêmica foi o seu envolvimento em um episódio que aconteceu às vésperas das eleições presidenciais. Aliado de Bolsonaro, o ex-deputado federal Roberto Jefferson recebeu a tiros e granadas uma equipe da Polícia Federal enviada a sua casa, no interior do Rio de Janeiro, para cumprir um mandado de prisão.

Torres foi enviado por Bolsonaro à cidade de Levy Gasparian, no Rio, para resolver a situação e, mais tarde, o ministro disse que monitorou o episódio da sede da PF em Juiz de Fora (MG).

Leia também: ‘Momento de tensão’, diz ministro da Justiça sobre prisão de Roberto Jefferson

Atos violentos do dia 12

Anderson Torres ainda era o ministro da Justiça no dia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), eleitos em outubro do ano passado. Ele estava jantando em um restaurante da capital federal, com a família, quando eclodiram uma série de atos violentos praticados por apoiadores de Bolsonaro, que estavam acampados em frente ao Quartel-General do Exército Brasileiro, em Brasília.

Um grupo de criminosos tentou invadir a sede da Superintendência da Polícia Federal e incendiou ônibus e carros em diversos pontos da cidade.

Na ocasião, ele foi criticado pela falta de ação do ministério na resposta aos atos de violência. Pelas redes sociais, Torres justificou que estava monitorando a situação e que articulava as ações com a Polícia Federal e o Governo do DF. Ele também chamou os atos de “cenas lamentáveis”.

Atos violentos do dia 8

No dia 8 de janeiro, Torres já havia sido nomeado Secretário de Justiça e Segurança Pública do Distrito Federal, ou seja, comandava as forças de segurança que não contiveram os bolsonaristas que marcharam pela Esplanada dos Ministérios e invadiram os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.

Neste dia, Anderson Torres estava no exterior. Ele havia viajado, com a família, para Orlando, nos Estados Unidos, quando os ataques se iniciaram na praça dos Três Poderes. O destino é o mesmo para onde partiu Jair Bolsonaro dois dias antes do término de seu mandato.

Após as cenas de destruição, vandalismo e saque que ocorreram nos edifícios-sede dos Três Poderes federais, Torres se tornou alvo de críticas sobre a responsabilidade da conduta policial no episódio. Nas palavras do interventor federal da segurança pública no DF, houve “sabotagem” por parte do ex-secretário.

No mesmo dia, pressionado, o governador Ibaneis Rocha determinou a exoneração de Anderson Torres. No dia seguinte, 9 de janeiro, o próprio chefe do Executivo distrital se tornou alvo: foi afastado do cargo por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Pedido de prisão

Torres só se manifestou sobre os episódios, novamente, pelas redes sociais. Ainda em meio ao caos em Brasília, ele afirmou que os ataques eram “inconcebíveis” e que havia determinado atuação firme do efetivo da Polícia Militar e da Polícia Civil, o que demorou mais de três horas para acontecer.

“Criminosos não sairão impunes”, disse depois.

Após ter sido exonerado, divulgou um posicionamento sobre o caso.

Dois dias após os ataques criminosos em Brasília, a Polícia Federal cumpriu uma ordem de busca e apreensão em sua casa, na capital federal, e, na sequência, Moraes determinou sua prisão.

Torres ainda não se manifestou sobre a decisão.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.