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‘Petfluencers’ chamam a atenção, mas necessitam de cuidados

Especialistas alertam que rotina de gravações e exposições pode afetar o bem-estar dos animais e orientam práticas seguras

Petfluencers podem ser pontes entre o público e causas relevantes. Mas, para isso, é preciso lembrar que, no centro de todo conteúdo, está um ser vivo

O fenômeno dos “petfluencers”, animais com perfis populares nas redes sociais, vem crescendo no Brasil e no mundo. Cães como Doug the Pug, com mais de 3,6 milhões de seguidores, e Tuna, um vira-lata com 1,9 milhão de fãs, mostram que a internet se rende à fofura e ao carisma animal.

Mas por trás das fotos e vídeos que acumulam curtidas, há uma rotina que precisa ser planejada para não prejudicar a saúde física e emocional do pet.

Segundo a organização de bem-estar animal Four Paws, “colocar um animal repetidamente em poses, fantasias ou ambientes incomuns pode gerar desconforto e estresse, mesmo que ele não demonstre sinais imediatos”.

A exposição constante, iluminação forte, barulhos e manuseio excessivo podem aumentar os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, e comprometer a imunidade do cão.

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Quando a fama pode fazer bem

Apesar dos riscos, o trabalho de um petfluencer pode trazer benefícios quando feito com responsabilidade. Muitos tutores usam a visibilidade para promover adoção responsável, arrecadar fundos para ONGs ou conscientizar sobre cuidados com cães.

“Esses perfis têm o poder de mudar percepções e ajudar animais que antes seriam rejeitados, como cães idosos ou com deficiências”, afirma a veterinária e adestradora Karina Mussolino, em entrevista ao UOL.

A chave, segundo especialistas, é entender que o cão não é um “ator” disponível 24 horas por dia. Assim como humanos, eles precisam de rotina estável, descanso, brincadeiras e momentos sem exposição.

Melhores práticas para evitar sobrecarga

Para garantir que o petfluencer tenha uma vida saudável e feliz, organizações de proteção animal e profissionais de comportamento canino indicam medidas essenciais:

  • Respeitar sinais de desconforto, como orelhas baixas, bocejos repetidos ou tentativa de se afastar;
  • Limitar sessões de fotos ou vídeos a poucos minutos, evitando repetição excessiva;
  • Garantir períodos diários de descanso sem qualquer interação para produção de conteúdo;
  • Evitar fantasias ou acessórios que restrinjam movimentos ou causem calor excessivo;
  • Priorizar gravações em ambientes familiares e tranquilos para o animal;
  • Consultar veterinário regularmente para avaliar impactos físicos e comportamentais;
  • Divulgar apenas produtos e serviços realmente testados e seguros para cães.

A Four Paws reforça que tutores devem colocar o bem-estar do animal acima de métricas digitais. Isso inclui não forçar interações com outros bichos, pessoas ou cenários apenas para gerar engajamento.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.