Ouvindo...

Gatos são, sim, apegados ao tutor e demonstram afeto com sinais mais sutis do que dos cães

Embora sejam considerados mais independentes, felinos domésticos desenvolvem vínculos fortes e sofrem com mudanças na rotina ou ausência prolongada do tutor

Os felinos domésticos são, sim, mais discretos que os cães, mas ainda assim criam laços profundos com seus tutores e podem sofrer com a ausência deles

A ideia de que gatos são frios ou desapegados não resiste à convivência próxima com esses animais. Os tutores sabem disso.

Os felinos domésticos são, sim, mais discretos que os cães, mas ainda assim criam laços profundos com seus tutores e podem sofrer com a ausência deles.

Deixar o gato sozinho por longos períodos pode afetar a saúde emocional deles, gerar comportamentos compulsivos e até predispor o animal a doenças relacionadas ao estresse.

Um estudo publicado na revista Behavioural Processes, da Elsevier, demonstrou que gatos manifestam apego seguro aos tutores, comportamento comparável ao observado em cães e até em bebês humanos.

A pesquisa, conduzida pela Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos, avaliou o comportamento de 70 gatos após curtos períodos de separação e concluiu que a maioria dos animais buscava segurança e proximidade ao reencontrar seus cuidadores.

“Ao contrário do que muitos imaginam, gatos têm uma forte necessidade de vínculo e podem apresentar alterações de comportamento quando esse vínculo é ameaçado”, afirma a etóloga e médica-veterinária Hannelore Fuchs, em artigo publicado pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR).

Segundo ela, mudanças sutis no comportamento do pet, como dormir mais, miar excessivamente ou se esconder, podem indicar saudade.

Leia também

Saudade felina pode gerar estresse e afetar o bem-estar

A ausência do tutor pode ser percebida de forma intensa pelos gatos, principalmente quando a rotina é alterada abruptamente.

Isso ocorre porque os felinos são extremamente sensíveis a mudanças no ambiente e no convívio com pessoas de referência.

“Gatos não gostam de surpresas. Eles se apegam à previsibilidade e à constância, inclusive à presença do tutor no dia a dia”, destaca a veterinária do Comportamento Animal Mariana Lemos, da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Ainda que alguns gatos lidem melhor com a ausência dos humanos, isso não significa que não sintam a falta. O que muda é a forma como cada animal expressa o apego.

Enquanto alguns se tornam mais vocalizadores ou exigentes ao reencontro, outros podem apresentar sinais menos visíveis, como a perda de apetite, agressividade ou distúrbios gastrointestinais causados por estresse.

“Nem todo miado é saudade, mas quando acompanhado de outros sinais, pode indicar sofrimento emocional. Observar o gato com atenção e manter uma rotina estável são formas de prevenir problemas mais sérios”, alerta Mariana.

Como identificar e amenizar a saudade do seu gato

Gatos não lidam bem com a solidão prolongada, e é papel do tutor garantir um ambiente seguro e estimulante durante suas ausências.

Veja alguns sinais de que seu gato pode estar sentindo falta do tutor, e como ajudá-lo:

  • Comer menos ou recusar alimento pode indicar estresse emocional.
  • Miar mais que o normal, principalmente ao ver o tutor sair;
  • Busca por objetos do tutor, deitar sobre roupas ou ficar próximo a pertences com cheiro conhecido;
  • Comportamentos destrutivos como arranhar móveis ou derrubar objetos fora do padrão habitual;
  • Letargia, passar muito tempo dormindo ou se isolando;
  • Aumento na demanda por atenção, como seguir o tutor pela casa ou insistir em colo e carinho.

Para aliviar a saudade, é indicado enriquecer o ambiente com brinquedos, prateleiras, arranhadores e locais de observação.

Deixar roupas com o cheiro do tutor e manter sons familiares (como TV ou música baixa) também pode ajudar.

Em ausências prolongadas, contar com a visita de um cuidador ou amigo de confiança é uma medida importante.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) recomenda que, ao notar alterações persistentes no comportamento felino, os tutores procurem um médico-veterinário com formação em comportamento animal.

Em muitos casos, o acompanhamento especializado é essencial para restabelecer o equilíbrio emocional do gato.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.