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Adoção de espécies exóticas exige preparo, legalidade e acompanhamento profissional

Decisão requer estrutura, preparo legal, monitoramento e respeito às características naturais do animal

A falta de informação e a negligência nesse processo podem colocar em risco tanto a saúde do animal quanto o equilíbrio ambiental e a segurança pública

Ter um animal de estimação hoje em dia tem se ampliado para além dos cães e gatos: animais não convencionais, como aves exóticas, roedores, répteis e pequenos mamíferos, têm ganhado espaço entre os brasileiros.

Segundo levantamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cerca de 40% dos 162 milhões de pets no Brasil são de espécies não tradicionais, o que inclui desde porquinhos-da-índia até araras, lagartos e furões.

Mas apesar da popularidade, potenciais tutores devem se especializar no comportamento, necessidades ambientais e nutricionais da espécie, e principalmente respeitar a legislação brasileira, que define quais animais podem ser criados legalmente em ambientes domésticos.

A falta de informação e a negligência nesse processo podem colocar em risco tanto a saúde do animal quanto o equilíbrio ambiental e a segurança pública.

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As exigências para criar

A criação de pets não convencionais é regulada por normas específicas.

Para espécies da fauna brasileira ou exóticas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) determina, na Portaria nº 118/1997, os critérios para comercialização, criação e transporte desses animais.

É obrigatório que o animal venha de um criadouro autorizado, com nota fiscal e documentação que comprove sua origem legal.

Além disso, a Resolução 829/2006 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) assegura que clínicas e hospitais veterinários possam atender animais silvestres ou exóticos, desde que cumpram os requisitos legais.

O atendimento por profissionais especializados é considerado essencial por entidades como o Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO), que alerta: “essas espécies possuem comportamentos e fisiologias muito distintos dos animais domésticos tradicionais, e precisam de atendimento técnico qualificado”.

Os principais cuidados incluem:

  • Alimentação específica e balanceada conforme a dieta natural da espécie;
  • Enriquecimento ambiental e estrutura adequada para o bem-estar físico e mental;
  • Acompanhamento veterinário periódico com especialistas em animais silvestres;
  • Respeito à legalidade, com documentação exigida por órgãos ambientais.

Adoção consciente depende de planejamento e conhecimento

A escolha por um pet não convencional deve considerar a longevidade, o comportamento e as necessidades da espécie.

Por exemplo, um jabuti pode viver mais de 80 anos e exige sol diário, furões são carnívoros exigentes e precisam de espaço para explorar, aves como calopsitas, cacatuas e araras precisam voar livremente e interagir com frequência para manter a saúde emocional.

Já roedores como chinchilas e porquinhos-da-índia precisam de dieta rica em fibras e ambientes com baixa umidade.

Além disso, é fundamental evitar o comércio ilegal. A criação e o tráfico de animais silvestres sem autorização configuram crime ambiental, com penas previstas na Lei 9.605/1998.

A venda responsável é feita por criadouros legalizados, cuja lista está disponível no site do Ibama.

Como alerta o Guia de Animais Silvestres do CRMV-RS, “muitos tutores não têm conhecimento técnico suficiente para garantir o bem-estar do animal, o que pode resultar em sofrimento e abandono”.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.