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A diversidade dos pássaros brasileiros e como protegê-los

Tráfico de aves silvestres é um dos principais crimes ambientais no país; cerca de 38 mil aves são apreendidas por ano em ações de combate

Tráfico de aves silvestres é um dos principais crimes ambientais no país; cerca de 38 mil aves são apreendidas por ano em ações de combate

O Brasil é reconhecido mundialmente por sua biodiversidade e, no caso das aves, não é diferente: são mais de 1.900 espécies catalogadas, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). Essa variedade faz o país ocupar o segundo lugar no ranking mundial em número de espécies, atrás apenas da Colômbia e está presente em todos os biomas brasileiros, do Cerrado à Amazônia, passando pela Mata Atlântica, Pantanal e Caatinga.

Mas essa diversidade enfrenta ameaças constantes. A perda de habitat, o tráfico ilegal e as mudanças climáticas têm colocado centenas de espécies em risco. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mais de 170 espécies de aves estão atualmente ameaçadas no Brasil.

Entre as aves mais conhecidas do Brasil estão:

  • Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii): símbolo da luta contra a extinção, reapresentada à natureza em 2022 após programas de reintrodução;
  • Tucano-toco (Ramphastos toco): famoso pelo bico grande e colorido, comum no Cerrado e Pantanal;
  • Beija-flor (diversas espécies): pequenos e velozes, desempenham papel importante na polinização;
  • Galo-da-serra (Rupicola rupicola): ave andina que também habita regiões do norte da Amazônia brasileira, com plumagem alaranjada marcante;
  • Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris): ave-símbolo do Brasil, conhecida pelo canto melodioso.

A ornitóloga Erika Hingst-Zaher, da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, destaca que as aves atuam como dispersoras de sementes, controladoras de pragas e bioindicadores.

“Monitorar populações de aves é uma forma eficiente de avaliar a saúde dos ecossistemas”, disse em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos.

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O perigo do tráfico e da domesticação

Estimativas do Ibama apontam que cerca de 38 mil aves são apreendidas por ano em ações de combate ao comércio ilegal. O papagaio-verdadeiro, o trinca-ferro e o curió estão entre os mais visados entre os criminosos.

A venda e criação de aves nativas só é permitida se houver autorização expressa do Ibama e origem legal comprovada. “A aquisição de animais silvestres sem origem legal incentiva redes criminosas e prejudica o equilíbrio ambiental”, afirma o Ministério do Meio Ambiente em cartilha.

Outra ameaça é a perda de hábitat causada pelo desmatamento, que afeta especialmente aves endêmicas. O Relatório Planeta Vivo, da WWF-Brasil, aponta que as populações de vertebrados no país caíram 94% entre 1970 e 2018, com destaque para aves e anfíbios.

Como ajudar a preservar as aves

A preservação dos pássaros brasileiros depende de ações individuais e coletivas. Algumas atitudes incluem:

  • Evitar comprar animais silvestres sem origem legal;
  • Plantar árvores nativas que ofereçam alimento e abrigo;
  • Apoiar projetos de conservação e observação de aves;
  • Denunciar tráfico de animais ao Ibama (linha verde 0800 61 8080).

"É fundamental que a sociedade compreenda o valor ecológico e cultural das aves brasileiras, e se mobilize para protegê-las”, reforça a Sociedade Brasileira de Ornitologia em suas diretrizes.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.