Começaram neste mês de outubro as filmagens do curta-metragem Tudo Que é Sólido Desmancha no Ar, produzido pela Miratú Filmes, produtora independente sediada em Mariana (MG).
Dirigido por Anthony Christian e Laura Borges, o filme acompanha Carlos, jovem trabalhador da mineração no distrito ficcional de Antônio Borba, em Mariana.
Com sua filmadora em mãos, o personagem registra os impactos ambientais e sociais da mineração, em um contexto marcado por um acontecimento fictício: a privatização do ar respirável.
O curta foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo de Mariana e também é fruto do trabalho de conclusão de curso em jornalismo de seus diretores pela Universidade Federal de Ouro Preto.
A produção marca os 10 anos do rompimento da barragem de Bento Rodrigues, em Mariana, e busca refletir sobre suas consequências sociais, ambientais e humanas ainda presentes na região.
Anthony Christian explicou a Itatiaia sobre relação entre o território de Mariana e a construção do filme:
“Em Minas Gerais, a mineração faz parte do cotidiano. Seja pelos livros de história, pelo trabalho direto na mineração, pelo impacto na especulação imobiliária, pelas paisagens alteradas ou pelo risco de barragens, a mineração está sempre presente na vida das pessoas. Mesmo diante da normalização, é preciso desenvolver um pensamento crítico sobre seus impactos. No quadrilátero ferrífero, em cidades como Ouro Preto e Mariana, essa reflexão surge do desejo de expressar indignação por habitar esse território.”
Christian também detalhou a escolha da narrativa sobre a privatização do ar:
“Tínhamos uma base narrativa, mas faltava uma crítica à realidade local. Nosso objetivo não era apenas mostrar os problemas da mineração predatória, mas propor um manifesto cultural, usando a arte como ferramenta de mobilização, especialmente para a juventude. Buscamos pluralidade artística: Bruno Miné, artista visual de Antônio Pereira, inspirou o personagem principal, e o poeta Aquiles ajudou a sintetizar a narrativa em uma música autoral. O filme quer mostrar que a mudança depende da mobilização social e que os jovens têm caminhos além da mineração, defendendo um modelo mais seguro e sustentável para a natureza e a sociedade”, afirmou.
Laura Borges, co-diretora do curta, também acrescentou sobre a origem da ideia:
“Essa ideia se conecta tanto com Mariana quanto com Ouro Preto, principalmente com os distritos, onde ocorre a atividade mineradora. Ao propor a “privatização do ar”, buscamos discutir o absurdo da nossa realidade, que, no capitalismo, naturaliza pagar pelo consumo de recursos, como água. Recentes contas de água em Ouro Preto, acima de R$ 4 mil, mostram que quem mais consome não é a população, mas as mineradoras, que não pagam. Essa normalização também aparece em desastres ambientais, como o rompimento da barragem em Rodrigues, tratado como “desastre” e não crime, mostrando a ausência de responsabilidade das empresas sobre o território. Nossa narrativa gira em torno dessa lógica.”
O processo de produção e bastidores do filme pode ser acompanhado nas redes sociais do projeto: @tudoqueesolido.filme.