O Quilombo de Gesteira recebe, no dia 22 de novembro, às 17h, a estreia do espetáculo Vozes de Gesteira, uma produção concebida a partir das histórias, das dores e da força dos moradores do território. O trabalho integra a programação da Primeira Pré-Jornada de Agroecologia do Quilombo de Gesteira, que acontece entre 21 e 23 de novembro de 2025, reunindo comunidades tradicionais, povos originários e movimentos sociais da região de Ouro Preto, Mariana e arredores.
O projeto Vozes de Gesteira alcançou mais de 40 moradores ao longo de sua realização, entre julho e novembro. Construído em 12 oficinas conduzidas por arte-educadores de Ouro Preto, o espetáculo se apoia em vivências coletadas no próprio território e faz ecoar a denúncia dos impactos sofridos pelo quilombo ao longo dos anos, especialmente os decorrentes do rompimento da Barragem do Fundão.
Com elenco formado por atrizes e atores quilombolas, a montagem é descrita como uma obra de resistência. “Cada artista vence diariamente o monstro da devastação”, afirmam os realizadores. A iniciativa conta com apoio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio do Edital 08/2024, na categoria de montagem teatral.
A direção cênica é assinada por Filipe Conde Mascaro, Pedro Petindá e Raquel Silva, que também atuam como arte-educadores no processo criativo.
A estreia acontece dentro da Primeira Pré-Jornada de Agroecologia do Quilombo de Gesteira, evento que busca fortalecer alianças entre comunidades tradicionais e ampliar o debate sobre preservação dos territórios, autonomia e enfrentamento às ameaças da mineração.
Durante três dias, o espaço da antiga Escola Municipal Gustavo Capanema — atingida pela lama do rompimento da barragem em 2015 — será transformado em um centro de atividades coletivas, incluindo mutirões, rodas de conversa, oficinas, apresentações culturais e o início da construção do memorial Voz e Resistência: A Lama e o Sistema Não Calarão a Nossa Voz.
A Pré-Jornada começou no dia 21 de novembro, com acolhida dos territórios, mística de abertura, brincadeiras quilombolas para crianças, mutirão para construção do memorial e uma noite com pesca tradicional e sessão de cinema quilombola.
No dia 22, além do espetáculo Vozes de Gesteira, a programação inclui oficinas, benzimento com benzedeiras tradicionais, roda de conversa sobre mineração e território, e uma roda de samba com a Bateria Carabina.
O encerramento, no dia 23, traz debate sobre os próximos passos da Teia dos Povos da Bacia do Rio Doce, finalização do mutirão e a leitura da Carta da Pré-Jornada, intitulada “Território, Ancestralidade e Luta: a preservação dos Quilombos como Guardiões da Biodiversidade e da Memória Nacional”.
A Pré-Jornada oferece alimentação completa (café da manhã, almoço e jantar). A hospedagem será em casas solidárias do quilombo; os participantes devem levar roupa de cama, produtos de higiene e, se possível, colchão, devido ao número limitado de unidades disponíveis.
O encontro será realizado no Quilombo de Gesteira, Bonfim da Barra, em Barra Longa (MG).
O Vozes de Gesteira foi desenvolvido com uma grande equipe de artistas, educadores e produtores quilombolas e parceiros, envolvendo áreas como direção cênica, figurino, audiovisual, cenotecnia, comunicação, alimentação e acessibilidade, incluindo interpretação em Libras.
Segundo os organizadores, o espetáculo e a Pré-Jornada se unem num propósito comum: fortalecer o território, preservar as memórias e reafirmar a resistência quilombola diante das violações sofridas.
A comunidade espera um público diverso e engajado para vivenciar, junto aos moradores, um momento de celebração, denúncia, esperança e construção coletiva.