A espinha dorsal de qualquer indústria moderna não é feita de aço, mas de cabos e sinais digitais. As redes de computadores industriais são a base que conecta máquinas, sensores e sistemas de controle, garantindo que a produção funcione de forma sincronizada e eficiente.
Diferente de um ambiente de escritório, onde uma falha de rede pode causar lentidão, no chão de fábrica, alguns milissegundos de interrupção podem paralisar uma linha de produção inteira, resultando em prejuízos financeiros, quebra de contratos e até riscos à segurança dos trabalhadores.
Segundo Djalma Júnior, instrutor do Centro de Treinamento da Tecnologia da Informação do Senai, os profissionais que atuam nesse setor enfrentam desafios únicos . Eles trabalham em ambientes hostis, com calor, poeira e vibração, e precisam diagnosticar problemas complexos sob a imensa pressão do tempo, já que a fábrica não pode parar . Integrar equipamentos de última geração com máquinas antigas e a falta de documentação sobre a infraestrutura original são alguns dos principais obstáculos.
Em entrevista à Itatiaia, o especialista explica que, a habilidade mais crucial para o técnico de campo não é apenas o conhecimento em um software específico, mas a capacidade de raciocinar logicamente e manter a calma em cenários críticos.
Confira a entrevista completa:
Como trabalham as redes industriais
A ideia de “rede de computadores” e “servidores” remete mais a um ambiente de escritório do que a uma indústria. Poderia nos explicar o que é uma rede industrial e por que ela é diferente? O que acontece em uma fábrica se essa “espinha dorsal” digital para de funcionar, mesmo que por poucos minutos?
“Quando falamos de redes de computadores, a primeira coisa que vem em nossas cabeças é o acesso à internet, somente . Porém, o conceito de redes de computadores vai muito além de somente acessar a internet . Uma rede de computadores tradicional de escritório e doméstica tem como foco o acesso à internet e a troca de arquivos . Já uma rede industrial, ela conecta as máquinas, sensores, CLPS (Controladores Lógicos Programáveis) . A diferença entre as duas está nos requisitos de latência, disponibilidade e confiabilidade.
No ambiente industrial, alguns milissegundos podem parar uma linha inteira de produção . Se ocorrer desta ‘espinha dorsal digital’ vier a parar, por um minuto que seja, as máquinas param, a produção é interrompida, contratos podem ser descumpridos e há riscos de perda de matéria-prima ou até acidentes de segurança . Resumindo: cada minuto conta ”.
Você treina profissionais que vão para o “campo”, ou seja, para o chão de fábrica . Quais são os desafios práticos que eles encontram e que um técnico de TI tradicional não enfrentaria?
“Existem grandes desafios dentro de um chão de fábrica da indústria, gostaria de citar alguns que vejo que são bem preocupantes .
Ambiente hostil: calor, poeira, ruído, vibração e interferência eletromagnética .
Tempo de resposta: muitas vezes o problema precisa ser resolvido em minutos, porque a fábrica não pode parar .
- Segurança física: ao lidar com máquinas em movimento, há normas rígidas de segurança do trabalho.
- Equipamentos heterogêneos: sistemas diferentes, gerações de equipamentos, muitas vezes sem documentação atualizada.
- Cultura: na indústria, muitas vezes há dificuldades em compreender o papel das redes de computadores, já que elas não são vistas como o principal motor para manter um parque industrial em funcionamento . No entanto, com a ascensão de novas tecnologias, torna-se cada vez mais desafiador garantir a comunicação eficaz com os dispositivos de IoT.
É um trabalho que exige estudo, conhecimento técnico e saber como agir em ambiente que exige atenção и frieza para resolução de problemas em condições adversas ”.
O ‘calcanhar de aquiles’ da manutenção
Na sua experiência, qual é o “calcanhar de Aquiles” na manutenção desses sistemas industriais ? É a dificuldade de integrar máquinas novas com equipamentos antigos, a falta de peças, ou talvez a falta de documentação sobre como a rede foi montada originalmente?
“Na prática podemos citar três pontos que com frequência aparecem:
- Integração de gerações diferentes: colocar um equipamento novo com protocolo moderno (Profinet, Ethernet, Ethercat), para ‘conversar’ com uma máquina de 20 anos é um desafio enorme .
Escassez de peças: muitos equipamentos já не têm peças disponíveis no mercado .
Documentação falha: é comum não haver registro de como a rede foi montada originalmente, o que transforma cada intervenção em uma investigação ”.
Pensando na formação de novos técnicos, qual é a habilidade mais difícil de ensinar e a mais crucial para o sucesso desse profissional ? É o conhecimento técnico em um software específico ou a capacidade de diagnosticar um problema complexo sob pressão?
“Mais do que aprender uma nova tecnologia, operar um software específico, o mais difícil é ensinar a capacidade de diagnosticar sob pressão . Destaco aqui alguns pontos importantes :
- Raciocínio lógico.
- Leitura rápida de sinais e alarmes.
- Comunicação clara com colegas e gestores e, principalmente, manter a calma enquanto a produção está parada.
- O conhecimento técnico é fundamental, mas a habilidade de troubleshooting (Resolução de Problemas) em cenários críticos é o que diferencia um bom profissional ”.
O futuro do trabalho com 5G e inteligência artificial
Olhando para o futuro, com a chegada de tecnologias como o 5G industrial e a inteligência artificial, o trabalho de manutenção tende a ficar mais fácil, com sistemas que se corrigem sozinhos, ou mais complexo, exigindo um profissional ainda mais qualificado para lidar com essa nova camada de tecnologia?
“Com a chegada de novas tecnologias, como o 5G, houve uma grande evolução no meio das telecomunicações, porém novas tecnologias podem trazer dois cenários . Por um lado, sistemas com Inteligência Artificial e redes 5G poderão prever falhas, se autoajustar e reduzir paradas não planejadas, facilitando parte do trabalho .
Por outro lado, essa camada extra de complexidade exige profissionais ainda mais qualificados, que entendam tanto de automação clássica, quanto de cibersegurança, análise de dados e integração digital . Resumindo, a manutenção tende a ser mais sofisticada. O papel do técnico não desaparece, ele se transforma em alguém capaz de lidar com uma infraestrutura cada vez mais híbrida entre o físico e o digital ”.
Entenda como os cursos técnicos do SENAI capacitam para o suporte à infraestrutura digital da indústria.