Indústria pede avanço em acordo de livre comércio entre Brasil e México

CNI diz que mais de 70% do comércio bilateral está fora dos acordos atuais

Vice-Presidente da República Geraldo Alckmin durante o encontro com a Presidente Claudia Sheinbaum, no México

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que o Brasil precisa acelerar negociações para ampliar o acordo de livre comércio com o México, considerado um dos mercados prioritários para a expansão internacional da indústria nacional.

A entidade aponta que a medida é necessária para reduzir riscos e abrir espaço para novos fluxos comerciais, sobretudo diante da possibilidade de mudanças na política tarifária mexicana.

Proposta mexicana altera cenário tarifário

O Congresso do México deve analisar um projeto do Executivo que cria o Programa de Protección para las Indústrias Estratégicas. A proposta aumenta tarifas de importação de 983 produtos de 19 setores. Pela estimativa oficial, a tarifa média subiria de 16,1% para 33,8%, podendo alcançar 50% em alguns itens.

Uma análise da CNI indica que a China seria o país mais afetado, com US$ 34,2 bilhões em exportações sujeitas às novas tarifas, seguida por Coreia do Sul, Índia e Tailândia. Entre os países latino-americanos, o Brasil aparece como o mais exposto.

Exportações brasileiras sob risco

Em 2024, o México importou US$ 11,7 bilhões do Brasil, de acordo com a CNI. Desse total, US$ 1,7 bilhão — o equivalente a 14,7% — pode ser atingido pelas novas tarifas. O impacto recairia sobre 232 produtos de 16 setores da indústria de transformação.

Veículos automotores concentram 53,8% do valor afetado. Também estão na lista borracha e plásticos (14,3%), máquinas e equipamentos (7,9%), químicos (7%) e metalurgia (6,3%).

Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, mais de 70% do comércio bilateral está fora dos acordos hoje em vigor, o que limita o aproveitamento do mercado mexicano. Ele defende que o avanço em um acordo de maior abrangência é essencial para ampliar oportunidades de exportação.

Cobertura limitada dos acordos atuais

Atualmente, Brasil e México mantêm três acordos de comércio. O Acordo de Complementação Econômica (ACE) 55 garante livre comércio apenas ao setor automotivo, o que reduziria parte dos impactos caso as novas tarifas entrem em vigor.

O acordo oferece 100% de preferência para 59,8% do valor afetado, especialmente veículos automotores (67,4%), borracha e plásticos (17,5%) e máquinas e equipamentos (10,7%).

O ACE 53, por sua vez, cobre integralmente apenas três produtos incluídos na proposta mexicana: sabões e pastas de dente, que somaram US$ 10,5 milhões em exportações em 2024.

De acordo com cálculos da CNI, US$ 688,9 milhões em exportações brasileiras permaneceriam descobertos ou teriam apenas margens parciais de preferência. Nesse grupo, os setores mais sensíveis são veículos automotores (30,5%), químicos (15,9%), metalurgia (15,6%) e borracha e plásticos (11,9%).

Leia também

Erem Carla é jornalista com formação na Faculdade Dois de Julho, em Salvador. Ao longo da carreira, acumulou passagens por portais como Terra, Yahoo e Estadão. Tem experiência em coberturas de grandes eventos e passagens por diversas editorias, como entretenimento, saúde e política. Também trabalhou com assessoria de imprensa parlamentar e de órgãos de saúde e Justiça. *Na Itatiaia, colabora com a editoria de Indústria.

Ouvindo...