Ouvindo...

Com R$ 6 bilhões de investimento, Vale do Lítio pode gerar 7.500 empregos diretos até 2026

O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) diz que a região tem potencial para gerar mais de 12 mil empregos indiretos

A área, que abrange cerca de 17 municípios de Minas Gerais, concentra a maior reserva de lítio do país

Atração de R$ 6,3 bilhões em investimentos em dois anos. Já são 3.500 empregos diretos gerados. A meta é atingir 7.500 empregos de carteira assinada até o ano que vem. Os números obtidos pela Itatiaia junto ao Governo de Minas dizem respeito ao Vale do Lítio. A área, que abrange cerca de 17 municípios de Minas Gerais, concentra a maior reserva de lítio do país.

Apresentado pela gestão Zema nas principais agendas internacionais, o lítio é tratado pelo Palácio Tiradentes como uma ferramenta estratégica que pode mudar a realidade do Vale do Jequitinhonha, além das regiões Norte e Nordeste do estado. A avaliação é do secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Frederico Amaral.

“De fato, esse volume de investimentos que está acontecendo na região do Vale do Cristal, na região do Vale do Lítio é muito expressivo. É de fato, talvez, o maior volume de investimentos privados acontecendo na região. Então é uma oportunidade para que nós possamos sim gerar mais qualidade de vida, mais renda para a população local”, destaca o secretário.

Ele ressalta que há também ações de qualificação de pessoas, buscando também otimizar a infraestrutura da região. “Então, o que nós temos feito, com a coordenação do governador Romeu Zema, do professor Mateus, é ter um projeto que busque, de fato, deixar um legado para a região a partir dessa oportunidade que é a atividade minerária que tem se iniciado, tem se intensificado na região. Então, acreditamos que no médio e no longo prazo, esses investimentos se concretizando, a região, sim, terá um grande salto de renda para população e também uma maior qualidade de vida local”, completa.

Utilização do lítio no dia a dia

O lítio pode ser utilizado para produção de baterias de carros elétricos e de fontes de armazenamento de energia, o que torna o mineral relevante em meio às discussões mundiais sobre transição energética, como destaca o secretário adjunto.

“Com o projeto Vale do Lítio, que surge no âmbito da transição energética, dessa demanda mundial por maior sustentabilidade e sendo o lítio um desses minerais críticos e necessários para que nós consigamos, de fato, ter uma economia mais descarbonizada”, acrescenta.

Ao lado do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e vários empresários mineiros, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, está em missão no Japão justamente em busca de fechar parcerias estratégicas para colocar o Estado como protagonista global no fornecimento de insumos essenciais à transição energética e a chamada indústria do futuro. O lítio está inserido neste contexto. Roscoe diz que o mineral irá criar e fomentar toda uma cadeia produtiva no Jequitinhonha.

“Além dos empregos diretos na indústria, você vai alavancar todo o setor de prestação de serviço. O transporte vai ser muito beneficiado, já que todo esse material tem que ser transportado até o porto. A indústria de máquinas e equipamentos também regional será alavancada e também toda a parte de manutenção, combustíveis, toda linha de insumos para a planta”.

Novos empregos

O diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Julio Nery, afirma que as duas empresas que estão atuando na exploração do lítio querem expandir suas atuações. Ele destaca que mais de 12 mil empregos indiretos podem ser gerados.

“Há sim potencial, porque nessas duas empresas que já estão produzindo, nós temos hoje mais de 10 projetos de pesquisa mineral para região. Se a gente conseguisse o sucesso desses 10 projetos em pelo menos mais três, nós estaríamos falando em 1.200 empregos diretos e mais de 12.000 indiretos na região do Vale do Jequitinhonha”.

Exportações dobraram em dois anos

Segundo o Governo de Minas, com o projeto do Vale do Lítio, as exportações dobraram nos últimos anos. As cifras saltaram de R$ 1,9 bilhão no período de 2021-2022 para R$ 4,3 bilhões no biênio 2023-2024, um aumento de mais de 120%.

A reportagem procurou a Comissão de Meio Ambiente para Assembleia Legislativa para saber como está o acompanhamento e a fiscalização dos deputados em relação às atividades minerárias. O presidente da comissão temática, o deputado Tito Torres (PSD), afirma que não é contra a exploração mineral, mas diz que ela precisa respeitar o meio ambiente e a sociedade.

“Difícil conciliar o desenvolvimento econômico junto com sustentabilidade ambiental. A gente tem feito várias audiências públicas na Assembleia, vários requerimentos. Eu, da minha parte, não sou contra mineração, eu só acredito que tem que ter as regras, as regras serem cumpridas. A gente tem as oitivas que tem que ser cumpridas, nós temos os povos quilombolas acho que tem que ser ouvidos, os indígenas”, declarou.

Bônus e ônus

O presidente da Associação Brasileira de Municípios Mineradores (AMIG‑Brasil) e prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), diz que é preciso mapear o bônus e o ônus relacionado à exploração do lítio e reparar os impactos ambientais e sociais que serão gerados nos municípios.

“O boom do lítio no Vale de Jequitinhonha, no Norte do Estado de Minas Gerais, ele vai trazer empregos, trazer novas receitas, mas também tem os ônus, vai trazer muitos problemas que esses problemas devem ser mapeados e precisam de ser discutidos com a sociedade brasileira à luz de novas regras e precisam de ser adotadas no Brasil para que o país tenha Minas e o Brasil tenha uma mineração mais moderna, mais sustentável mais justa e mais ética sobretudo. É essa tese da AMIG a favor do lítio de toda a produção mineral, mas a favor da sociedade e das comunidades dos territórios”

Dentro do aspecto ambiental, a Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a deputada Bella Gonçalves (Psol), diz que é preciso acompanhar a relação entre a mineração na região e a utilização da água.

“Eu venho acompanhando com muita apreensão o avanço dos licenciamentos e atividades para mineração do lítio e outros minerais lá no Vale do Jequitinhonha. Isso porque a gente está falando de uma região com muita escassez hídrica. E um dos maiores prejuízos da atividade minerária é o consumo de água, também a contaminação de lençóis freáticos. Hoje, a economia do local gira em torno dos mananciais de água, a produção do queijo, existência dos povos e comunidades tradicionais com as suas culturas, a própria vida nas cidades, a agricultura familiar depende muito dos recursos hídricos”.

O coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli, defende que a exploração mineral seja feita de maneira estratégica e por empresas ligadas ao Estado.

“A verdade é que os minérios são estratégicos, assim como foi o ouro, como é o nióbio, como são as terras raras em Minas Gerais, mas não tem um governo que defenda a soberania. Que defenda empresas estatais que pudessem fazer isso de forma, de fato, a construir um projeto estratégico.”

A Itatiaia também conversou com moradores da região. Apresentando os pleitos e as preocupações dos moradores, o vereador de Araçuaí, Danilo Borges (PT), destaca os impactos nos municípios.

“O projeto Vale do Lítio tem sim pontos positivos, como a geração de empregos, o aquecimento da economia local, além de estar inserido numa agenda global importante da transição energética. No entanto, como o vereador de Araçuaí, preciso destacar os impactos concretos que a população tem sentido no dia a dia. Um deles é a forte especulação imobiliária, aluguéis que antes custavam em torno de R$ 400, hoje estão entre R$ 1.500 até R$ 2.000. Isso tem dificultado a permanência de trabalhadores aqui na nossa cidade e principalmente também de estudantes da zona rural e das cidades vizinhas que buscavam estudar no Instituto Campus Araçuaí, no Instituto Federal. Muitos desses jovens estão desistindo dos estudos por não conseguirem mais se manter em nossa cidade”

O prefeito de Araçuaí, Tadeu Barbosa (PSD), afirma que as empresas têm trazido oportunidades de negócios e emprego para o município, assim como desafios, que já começam a ser superados.

“Essas empresas têm trazido oportunidade de negócios, oportunidades de emprego, a oportunidade de de implementar ações sociais e isso vem vem acontecendo já há três anos. Com a implantação de uma nova planta aqui no município no município de Itinga e que tem impacto aqui na exploração da área do município de Araçuaí. Lógico, toda a oportunidade traz consigo também os desafios. E esses desafios estão sendo colocados como a questão do aluguel, a questão da superlotação de hospital, a questão dos estudantes que não tem oportunidade de moradia na no município. Estamos buscando a condição de resolver cada problema desse. ”, complementa.

O prefeito também fez algumas ponderações sobre a gestão do Vale do Lítio. “Lógico, tenho minhas críticas a respeito da estruturação governamental que temos, o que é a responsabilidade da União, do Estado, do município, que em projetos dessa grandiosidade. Estamos conjuntamente com o Estado de Minas Gerais, que tem sido muito presente, através da Sedese, através da Sede, através da Segov. Que são atuantes para buscar soluções, no caso do hospital, no caso das moradias, e a gente tem sim que está atento a isso. Lógico, não temos a varinha de condão, não temos as palavras mágicas para resolver tudo de uma hora para outra, mas estamos tratando com responsabilidade”, finaliza.

O que diz o Governo de Minas

Sobre as críticas apontados na reportagem, na questão ambiental, o governo mineiro garante que a meta é que Minas seja referência na produção de lítio verde, que utiliza processos com menos impacto ao Meio Ambiente.

Na Educação, o estado diz que investiu R$ 106 milhões em infraestrutura educacional e na profissionalização técnica de mais de 3.000 alunos.

Na Saúde, o estado informa que fez sete unidades de Básicas de Saúde na região e aportou outros 30 milhões em outros serviços.

No campo social, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) diz que viabilizou mais de R$ 13 milhões em ações sociais que beneficiaram mais de 190 mil pessoas.

Em relação à água, o estado destaca que investiu R$ 2,8 milhões e há previsão de investimento de outros R$ 8,4 milhões em redes de água e esgoto. Por fim, nas áreas de mobilidade, transporte e infraestrutura, o estado diz que investiu 1,3 bilhão de reais.

Leia também

Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.