A comissão de proteção à criança do
A comissão antiabuso foi criada pelo
“Em muitos casos... vítimas/sobreviventes relatam que a Igreja respondeu com acordos vazios, gestos performáticos e uma recusa persistente em se envolver com vítimas/sobreviventes de boa-fé", disse o relatório.
Além disso, pela primeira vez, 40 vítimas contribuíram para a elaboração do documento. Destas, algumas denunciaram pressões por parte de autoridades da instituição. “Meu irmão era seminarista. O bispo disse à minha família que minha denúncia poderia comprometer sua ordenação”, contou uma delas.
Outra vítima relatou que teve a família excomungada publicamente após apresentar uma denúncia. Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (16), o secretário da comissão, Luis Manuel Alí Herrera, falou sobre a importância do documento.
"É um verdadeiro grito por parte das vítimas: não se sentem ouvidas, não se sentem acompanhadas, às vezes não há uma relação empática, nem mesmo de respeito”, afirmou o colombiano.
Com 103 páginas, o documento foi apresentado em setembro ao papa Leão XIV e reforça a importância da reparação às vítimas, o que inclui apoio psicológico, pedidos públicos de desculpas e indenizações econômicas.
O relatório também insistiu na importância de “comunicar publicamente os motivos” da destituição de um padre. “A falta de responsabilização dos líderes da Igreja foi uma questão frequente levantada pelas vítimas/sobreviventes”, disse o relatório.
“A Comissão ressalta a importância de comunicar publicamente os motivos da renúncia e/ou remoção, quando a decisão estiver relacionada a casos de abuso ou negligência”, continuou.
Cultura do silêncio
Depois de analisar casos específicos de cerca de 20 países, a comissão destacou os “tabus culturais” e a “cultura do silêncio” que cercam estas violências, de Malta à Etiópia, passando por Moçambique ou Guiné.
Com vínculos históricos com o Vaticano, a Itália é especificamente criticada por mostrar “uma resistência cultural considerável à luta contra os abusos”, afirmou o documento. O relatório criticou ainda os bispos do país por não terem colaborado o suficiente. De um total de 226 dioceses, apenas 81 responderam a um questionário de investigação.
Comissão de Proteção à Criança
Composta por especialistas religiosos e leigos de diversas áreas, como direito, educação, psicologia e psiquiatria foi criada pelo papa Francisco em 2014, no início de seu pontificado.
Em meio as multiplas críticas sobre seu funcionamento e a renúncia de vários membros, a comissão foi integrada à Cúria Romana em 2022, quando o governo da Santa Sé passou a pedir um relatório anual sobre seus progressos.
O documento liberado nesta quinta-feira (16) é o segundo relatório produzido deste então.
*Com agências
(Sob supervisão de Lucas Borges)