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Papa Francisco, morto aos 88 anos, foi primeiro papa americano e jesuíta

Argentino de nascimento, Francisco deixa legado de modernização da igreja e atenção às causas sociais

A saúde do Papa começou a dar sinais de fragilidade em 2021, quando ele foi submetido a uma cirurgia para tratar uma inflamação na parede interna do intestino

“Não tenho medo. Sou inconsciente, mas não tenho medo. Ninguém morre de véspera. Quando a morte me tocar, o que Deus permitir será”. A frase do Papa Francisco, que morreu na manhã desta segunda-feira (21), aos 88 anos, mostra um homem confiante nos desígnios de Deus.

Jorge Mário Bergoglio assumiu a liderança da Igreja Católica no mundo em 13 de março de 2013. Francisco nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 1936. Foi o primeiro pontífice não europeu em 1.200 anos, escolhido para comandar a igreja com a renúncia do Papa Bento 16.

Aos 76 anos, o cardeal jesuíta argentino, eleito Papa, escolheu o nome Francisco, remetendo a um trabalho de humildade e proximidade aos mais necessitados. Desde a época de arcebispo, optou por morar num apartamento e preparar o jantar sozinho.

Como Papa decidiu morar na Casa Santa Marta, com instalações simples e modernas, onde se hospedou com outros cardeais durante o Conclave.

Um dos primeiros compromissos do novo Papa foi no Brasil, o maior país católico do mundo. Ele participou da Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, no Rio de Janeiro, que atraiu mais de 3 milhões de pessoas à praia de Copacabana.

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Seu olhar estava atento a conflitos, disputas geopolíticas, imigração, fome, miséria, abandono. No caso do Brasil, demonstrou estar ciente do acirramento político.

Rússia e Ucrânia sempre foram lembradas com uma súplica de Deus pelo fim da guerra.

Escândalos

Líder maior da Igreja Católica, Francisco precisou encarar o principal escândalo da instituição. Os casos de abuso sexual praticados por padres, acobertados por décadas pela cúpula do Vaticano.

Embora no início tenha sido acusado de não entender a gravidade e amplitude do problema, Francisco criou uma comissão de especialistas com a participação de sobreviventes dos abusos para aconselhar o Vaticano na criação de um tribunal para processar bispos que deixam de proteger seus fiéis contra padres abusivos e aceitou a renúncia de dois bispos americanos acusado de acobertamento.

As declarações do Papa sobre temas polêmicos levaram parte da opinião pública a classificá-lo como um progressista. Sobre o aborto, por exemplo, reafirmava os ensinamentos da Igreja sobre o tema, mas chegou a indicar que autorizaria padres a perdoarem as católicas que se arrependessem do ato classificado por ele como prática desumana e horrível.

Sobre o uso de anticoncepcionais afirmou que os católicos não precisam procriar como coelhos. Em vez disso, precisam praticar a paternidade responsável por meio de métodos lícitos, como é o caso do planejamento familiar natural, no Brasil popularmente conhecido como “tabelinha”.

Também se posicionou em relação à causa LGBTQIA+. Francisco, em muitos momentos, saiu em defesa e afirmou que a igreja deveria pedir perdão aos gays.

Os divorciados que voltam a se casar seguem fazendo parte da igreja e não devem ser tratados como excomungados, disse as vésperas de um encontro dedicado à família. Francisco também sugeriu que a igreja discutisse a possibilidade de homens casados se tornarem padres.

Quanto a mais espaço para a mulher dentro da igreja, em um movimento histórico, permitiu que as mulheres votem pela primeira vez na Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. Mas, no geral, manteve a regra de que o sacerdócio é exclusivamente masculino.

Francisco também se manifestou sobre outro grande dilema da humanidade, a teoria da criação e a teoria da evolução, segundo a qual o universo surgiu do Big Bang. Para ele não existe contradição entre os dois conceitos. E que o Big Bang foi resultado de um princípio supremo criado por amor.

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Saúde

A saúde do Papa começou a dar sinais de fragilidade em 2021, quando ele foi submetido a uma cirurgia para tratar uma inflamação na parede interna do intestino.

No início de 2022, o papa apresentou dores no joelho direito, devido a um ligamento inflamado. As dores o obrigaram a cancelar compromissos do papado, incluindo uma viagem a países africanos em junho. Nessa mesma época, o pontífice passou a usar cadeira de rodas com mais frequência.

Em 2023, veio a segunda internação, quando ficou hospitalizado por dois meses por causa de uma bronquite infecciosa.

No mesmo ano o pontífice foi operado em caráter de emergência, devido ao risco de obstrução intestinal. Foi a terceira internação desde que assumiu o papado em 10 anos.

Francisco começou o ano de 2024 enfrentando um novo quadro de bronquite. Em setembro, o papa fez sua viagem mais longa, passando por diversos países do Sudeste Asiático, e precisou utilizar a cadeira de rodas na maior parte do tempo.

Pouco tempo depois, em abril, as dores obrigaram o líder do Vaticano a cancelar compromissos do papado. Uma viagem a países africanos em junho também foi desmarcada pelo mesmo motivo, na época Francisco passou a utilizar cadeira de rodas com mais frequência devido a dores nos joelhos e nas costas.

Francisco ainda surgiu com um machucado no queixo em decorrência de um acidente doméstico. Perto do Natal, ele também passou a fazer as orações de domingo de casa por causa de um resfriado.

As complicações de saúde continuaram neste ano. Em janeiro, o papa machucou o antebraço direito após cair em casa. Ele não sofreu nenhuma fratura, mas precisou usar uma tipoia por alguns dias.

Em fevereiro, com dificuldades para respirar, ele afirmou que estava com um “forte resfriado” e pediu para que um assessor lesse sua mensagem durante a audiência geral semanal. Logo depois, o Vaticano informou que o pontífice estava com um quadro de “bronquite”, mas manteve a agenda do religioso.

No entanto, no dia 14 de fevereiro, o papa foi internado para continuar o tratamento contra a bronquite. Francisco ficou estável nos primeiros dias de hospitalização, mas teve o quadro agravado no dia 17 de fevereiro.

Francisco, um papa sensível a temas do mundo moderno, atento a causas sociais e aberto a tratar de temas polêmicos para a Igreja Católica.

Kátia Pereira é jornalista formada pelo Uni-BH e tem especialização em História e Cultura Política pela UFMG. Está na Itatiaia desde 2002. Desde 2005 é titular do Jornal da Itatiaia 1ª Edição. Também apresenta o Jornal da Itatiaia Tarde, é editora e apresentadora do Palavra Aberta e apresenta conteúdo no canal da Itatiaia no Youtube. Recebeu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Âncora de Rádio. Tem passagens por Record TV Minas, Super Notícias/O Tempo e assessoria na Assembleia Legislativa