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Sistema pioneiro de trainees é ‘trunfo’ da LOS para revelar talentos dos eSports

Itatiaia entrevistou com exclusividade Bruno “Buzz” Rodrigues, Chief Operations Officer da LOS, e Vinícius “Neki” Ghilardi, head de League of Legends da organização

Elenco de League of Legends da LOS em 2025

A LOS, uma das organizações mais tradicionais do cenário de eSports brasileiro, aposta em um modelo robusto de desenvolvimento de talentos para formar a próxima geração de atletas. Criado em 2017, ainda quando a organização era ‘Team oNe’, o sistema de trainees tornou-se referência no país, revelando jogadores para diferentes modalidades e inspirando outras equipes.

Bruno “Buzz” Rodrigues, Chief Operations Officer (COO) da LOS, e Vinícius “Neki” Ghilardi, head de League of Legends da organização, concederam entrevista exclusiva à Itatiaia para falar sobre o projeto.

Segundo ‘Buzz’ a iniciativa surgiu de forma natural, impulsionada pela experiência prévia dos gestores com categorias de base em esportes tradicionais.

“Desde sempre fomos muito aficionados por trabalhar com base. Para construir um time campeão, era preciso olhar além dos medalhões. Nosso começo foi difícil, com menos recursos que outras organizações, e tivemos de nos reinventar. As ideias se encaixaram muito bem porque todos nós tínhamos noção de desenvolvimento de atletas vinda de outras áreas”, explicou Buzz.

Bruno ‘Buzz’ (esq.) ao lado de Alexandre ‘kakavel’ (dir.), CEO da LOS

O projeto começou com League of Legends, quando a LOS assumiu uma equipe pouco conhecida e iniciou um trabalho estruturado com jovens promissores. Com o tempo, a prática se estendeu para outras modalidades, como Rainbow Six e Free Fire, tornando-se um dos diferenciais competitivos da organização.

Seleção mais técnica e individualizada

Se no início as escolhas eram feitas por “feeling”, hoje o processo envolve tecnologia, estatísticas e uma equipe dedicada a scouting.

“Atualmente é muito mais um conjunto de valores do que uma característica única. Temos dados, análises e acompanhamento técnico para entender se faz sentido trazer determinado atleta. O que antes era só habilidade ou rotina agora virou um pacote completo”, disse Buzz.

Para ‘Neki’, dois fatores são cruciais na seleção: talento e dedicação. “São coisas que não dá para injetar no jogador. Procuramos jovens com talento aguçado ou dedicação fora do normal, porque acreditamos que dedicação pode superar talento. O restante é a gente que desenvolve”, afirmou.

Vinícius ‘Neki’, head de League of Legends da LOS

Rotina estruturada e acompanhamento educacional

Ao ingressar como trainee, o jovem não apenas treina, mas recebe acompanhamento psicológico, físico e educacional.

“Muita gente acha que o trainee passa 24 horas estudando League of Legends. Na verdade, é um processo de evolução, com rotina de atleta, responsabilidade com saúde física e mental, e compromisso com os estudos. Pegamos no pé para que as notas no colégio sejam boas. Isso influencia diretamente na progressão dentro da base”, destacou Neki.

Cada jogador tem um plano individual de desenvolvimento, adaptado às suas necessidades. A média de idade varia entre 13 e 18 anos, refletindo o caráter ainda recente das categorias de base no Brasil.

“Queremos evitar que talentos sejam desperdiçados por falta de oportunidade ou direcionamento. É esse trabalho que vai fomentar o League of Legends do futuro”, completou o head.

Integração gradual com times principais

Outro ponto-chave é a forma como a LOS promove o contato dos trainees com as equipes profissionais. Para evitar pressões precoces, a organização criou o “Projeto Pupilo”.

“O jogador mais experiente adota um iniciante como pupilo, orientando sua evolução. Isso gera troca de experiência e acelera o aprendizado. Além disso, nossa comissão técnica é integrada: todos os relatórios da base são compartilhados com os treinadores dos times academy e principal”, detalhou Neki.

Resultados concretos e casos de sucesso

Os frutos do trabalho já são visíveis. Segundo Buzz, todo o time academy do último Split foi contratado por outras organizações, e no Rainbow Six, a LOS se destaca como a equipe brasileira que mais revelou talentos no mundo.

“Classifico o projeto como excelente. Ele ainda pode crescer, mas já entrega resultados incríveis diante da energia e do investimento que fazemos”, diz.

O ‘caso Duduhh’

Um exemplo é Wallyson “Duduhh” Francisco, ADCarry atualmente emprestado à KaBuM! Ilha das Lendas. Descoberto aos 15 anos em um projeto menor, o jogador recebeu acompanhamento próximo de Neki até completar 16, quando assinou contrato.

“Criamos um plano de carreira junto à família dele, garantindo que não abandonasse os estudos. Demos um ano de aula de inglês e o integramos gradualmente ao ambiente profissional. Em um ano e meio, ele já estava preparado para jogar no Circuito Desafiante, antes mesmo da expectativa inicial”, relatou Neki.

Duduhh, ADCarry da KaBuM! IDL foi revelado no projeto de trainees da LOS

Inspiração no esporte tradicional e visão para o futuro

Para estruturar a base, Neki se inspirou em modelos do futebol, como a escolinha do Palmeiras.

“É muito similar: peneiras constantes, relatórios, acompanhamento do dia a dia. Essa rotina nos permite identificar e lapidar talentos”, afirmou.

Sobre o papel da Riot Games, Buzz defende que o incentivo deve vir das próprias organizações, e não de obrigatoriedades impostas pela desenvolvedora.

“Seria injusto pedir para a Riot ampliar campeonatos e transmissões sem que as organizações façam o mínimo. Taxar como obrigação não é o caminho. Cada equipe precisa entender que ou desenvolve seus próprios atletas, ou vai passar a vida comprando jogadores dos outros”, concluiu.

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Jornalista formado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH. Já atuou em diversas áreas do jornalismo, como assessoria de imprensa, redação e comunicação interna. Apaixonado por esportes em geral e grande entusiasta dos e-sports