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Justiça inglesa conclui audiências ainda sem decidir se Vale vai se tornar ré em processo de Mariana

Empresas, municípios e atingidos cobram indenização de R$ 230 bilhões pelo rompimento da barragem em Mariana, em 2015

Justiça inglesa ainda não definiu se Vale vai responder por rompimento de Mariana, em 2015

A Justiça inglesa concluiu os dois dias de audiências com as mineradoras Vale e BHP Billiton sem ainda decidir se a empresa brasileira vai se tornar ré no processo que pede uma indenização de mais de R$ 230 bilhões a pessoas, empresas, municípios e entidades atingidas pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015.

Nesta quinta-feira (13), a audiência contou com participação da defesa da BHP Billiton, que argumenta que a Vale precisa constar como parte do processo na Corte de Londres porque tinha metade do controle da Samarco, proprietária da barragem que se rompeu.

A decisão sobre a inclusão ou não da Vale como ré ainda não tem previsão para ser publicada, mas estima-se que dentro de 60 dias um resultado deve ser anunciado.

Em nota, a Vale afirmou contestar a jurisdição da justiça inglesa para julgar o caso e que o processo movido pelo escritório Pogust Goodhead, que representa os atingidos, seria uma duplicação de ações e acordos feitos no Brasil.

“As eventuais indenizações impostas na ação coletiva deverão considerar valores já recebidos pelos mesmos autores no Brasil, por força de acordos individuais ou decisões judiciais”, pontua.

A ação inicial, feita pelo escritório inglês Pogust Goodhead, é movida apenas contra a BHP por ser sediada em Londres. A empresa britânica, por sua vez, pediu que a Vale também fosse incluída no processa - a mineradora, agora, recorre para que não entre. A reportagem da Itatiaia acompanha, de Londres, as audiências a convite do Pogust Goodhead.

Ao todo, o processo movido contra a BHP representa, segundo o Pogust Goodhead, 700 mil atingidos entre pessoas, empresas, prefeituras e entidades. O valor de indenização pedido supera a marca de R$ 230 bilhões.

Na avaliação de um dos sócios do escritório, o advogado inglês Tom Goodhead, a tentativa da BHP para incluir a Vale no processo é, na verdade, uma estratégia das duas empresas para atrasar toda a tramitação. “O que o importa é que eles paguem pelos crimes que cometeram. Essa discussão entre as mineradoras só deveria acontecer depois da conclusão do julgamento”, argumenta.

Protesto

Na manhã de quinta, cerca de 15 indígenas, quilombolas e representantes dos atingidos pela barragem protestaram em frente à sede da BHP em Londres.

Mais tarde, o grupo seguiu para a sede do governo britânico para entregar uma carta de apelo ao primeiro-ministro Rishi Sunak. Ao chegar no local, os atingidos não encontraram oficiais do governo, mas entregaram a carta a assessores.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.