Ouvindo...

Santo Antônio do Jacinto: conheça a história da cidade mineira que perdeu parte do território para a Bahia

Moradores de dois povoados do município “mudaram de estado” com alteração de área de um parque nacional

Especialistas discutem questão que envolve incorporação de cidade mineira à Bahia

Com população estimada em 11 mil habitantes e encrustada no Vale do Jequitinhonha, o município de Santo Antônio do Jacinto é o último da região antes de Minas Gerais virar Bahia. E isso aconteceu, literalmente, com cerca de 90 famílias, moradores de duas comunidades rurais, cujos territórios cruzaram a divisa entre os dois estados.

Santo Antônio do Jacinto nasceu distrito, ligado à cidade vizinha de Jacinto, apenas com o nome de Santo Antônio, em 1949. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi criada por emigrantes de outras partes, que viram na terra fértil a possibilidade de ganhar a vida. Ainda hoje, a agricultura é a principal atividade econômica do local.

Veja: Minas pode perder parte de município para a Bahia? Entenda o inusitado caso de Santo Antônio do Jacinto

Com o crescimento, foi elevada à condição de distrito de Jacinto em 1949, já com o nome de Santo Antônio de Jacinto, em homenagem ao santo de devoção de seus fundadores. Em 1º de março de 1963, emancipou-se da vizinha e se tornou município. Hoje, faz divisa com quatro municípios mineiros - Jacinto, Rubim, Santa Maria do Salto e Palmópolis - e um baiano: Guaratinga, que incorporou “sem querer” parte do território vizinho.

De Minas à Bahia, da noite para o dia

A polêmica envolvendo a incorporação de parte do território de Santo Antônio de Jacinto à Bahia se deu por conta do plano de manejo do Parque Nacional do Alto Cariri. Com a mudança da área do parque, os povos de Paxés e Córrego de Santa Maria “saltaram” a divisa e passaram a ser consideradas, oficialmente, parte do território de Guaratinga, já em terras baianas.

O assunto incomodou as 90 famílias que vivem no local e que viajaram mais de 800 km, nesta quinta-feira (11), para participar de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Veja também: Vereadores discutem mudança em nome de cidade mineira; entenda

Moradores como o agricultor Charles Batista dos Santos reclamaram da mudança e da “perda da identidade”. Mineiros que se tornaram baianos da noite para o dia?

“Paxés e Córrego de Santa Maria são comunidades produtivas, que garantem o sustento a muitas famílias de nosso município de Jacinto. Fomos pegos de surpresa porque nós, como mineiros, ficamos sendo considerados baianos e fomos surpreendidos. Ficamos sem identidade. Queremos permanecer mineiros e da cidade de Santo Antônio do Jacinto”, disse aos deputados.

Presente na reunião na Assembleia de Minas, a pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Aliane Baeta, disse que a questão da divisa entre os dois estados naquela região remonta à década de 30, antes mesmo do antigo povoado de Santo Antônio existir.

Essa divisa remonta a 1938. Naquela época, o entendimento era o seguinte: à leste do Córrego do Timóteo, era Minas. À oeste, é o estado da Bahia

Em abril, quem debateu a questão foi a Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados. Durante a reunião, ficou acertada a criação de um grupo de trabalho, envolvendo representantes de Minas Gerais, da Bahia e do IBGE para resolver a questão.

Enquanto isso, antes mineiros, moradores de Paxés e Córrego de Santa Maria, aguardam, baianos, a definição das autoridades.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.