As recentes decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que determinou que plataformas digitais banissem perfis de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deixou as redes sociais e motivou um debate entre o jornalista norte-americano Glenn Greenwald e o sociólogo Celso Rocha de Barros. Mediado pela jornalista Patrícia Campos Mello, o debate foi promovido pela Folha de S. Paulo na noite desta quarta-feira (17).
Dentre as contas que foram excluídas após ordem de Moraes estão a do youtuber Monark e do deputado federal eleito por Minas Gerais, Nikolas Ferreira (PL), que foi o mais votado nas últimas eleições, com 1,5 milhão de votos.
Greenwald, que se tornou conhecido da maior parte do público brasileiro após revelar, em uma série de reportagens, o conluio entre o então juiz federal Sérgio Moro - hoje senador eleito - e o Ministério Público Federal no julgamento da Lava Jato, classifica as decisões como censura.
“A ordem que ele mandou para todas as plataformas não tem absolutamente nenhuma acusação específica, ou provas, muito menos a a oportunidade de se defender dessas acusações. É isso que está me perturbando mais do que tudo: o poder de julgar alguém como criminoso ou culpado. Onde está o julgamento do Nikolas Ferreira, do Monark?”, questionou.
Por sua vez, o sociólogo Celso Rocha de Barros, que é colunista da Folha, disse que não vê censura nas ações do ministro do STF, que já foi criticado por diversos veículos de imprensa sem que houvesse alguma retaliação ou censura contra os meios de comunicação.
Para ele, no caso de Nikolas Ferreira, por exemplo, o parlamentar estaria instigando um golpe de Estado ao atacar o sistema eleitoral e não aceitar a derrota de Bolsonaro nas urnas.
“Inúmeras vozes já se levantaram contra o Alexandre de Moraes sem sofrer censura. Todos os grande jornais brasileiros já fizeram editoriais criticando ele e nenhum sofreu qualquer tipo de ameaça. A diferença é bastante claras, mas nenhum deles está tentando dar um golpe de Estado, como é o caso dos perfis que foram suspensos nas redes sociais”, defendeu.
Celso ainda disse que, em uma comparação, as decisões de Moraes são menos danosas à democracia brasileira que uma tentativa de golpe de Estado.
“Se todas as decisões do Alexandre de Moraes foram implementadas sem revisão, o que não sabemos se vai acontecer, no dia seguinte o Brasil ainda é uma democracia. Mas se o golpe do Bolsonaro der certo, no dia seguinte o Brasil não é mais uma democracia. Golpe de Estado é um crime que você só pune a tentativa, porque, se ele der certo, você não pune mais. O Brasil já viveu 20 anos de ditadura e só conseguiu começar uma Comissão de Verdade para, pelo menos explicar o que aconteceu naquela época, quase 50 anos depois”, argumentou.
Por sua vez, Glenn Greenwald lembrou do ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos em 2001. Segundo ele, o governo norte-americano abusou de determinados poderes alegando combate ao terror para tomar decisões extremas, como monitoramento e perseguição a opositores. E fez um paralelo com o Brasil
“Eu aprendi que, tem sim, muitos perigos nesses país e entendo muito bem o perigo desse grupo [bolsonarista], mas o que aprendi com a história é que os poderes que o governo insiste em ter em nome do combate ao terrorismo muitas vezes é mais perigoso que os terroristas. E acho que esse é o ponto que estamos chegando no Brasil”, concluiu.