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Testes de vacina contra o câncer avançam

Pelo menos duas fabricantes já conduzem estudos clínicos de um imunizante personalizável

Fórmulas usam RNA mensageiro para tratamento personalizado

Os resultados da segunda fase de testes clínicos da vacina contra o câncer de pele da farmacêutica Moderna devem ficar prontos ainda em 2022. Se forem positivos, a fórmula seguirá para a terceira etapa — a última antes da aprovação das reguladoras de saúde.

O imunizante usa a mesma tecnologia da substância criada pela fabricante para combater a covid-19: o RNA mensageiro. A tecnologia se mostrou eficaz para a criação de anticorpos e tem sido estudada para o tratamento de outras doenças, como aids e zika.

Chamada de vacina personalizada para câncer (PCV), a fórmula pode ajudar a transformar o RNA mensageiro na nova terapia de tratamento do câncer. “Continuamos a aumentar nossa plataforma com programas clínicos promissores em várias áreas terapêuticas”, diz Stephen Hoge, presidente da Moderna.

O imunizante da Moderna contra o câncer não previne a doença, mas ajuda a tratá-la. Ele é destinado, especificamente, ao melanoma – o tipo mais letal de câncer de pele. A fórmula é personalizada porque os tumores diferem para cada indivíduo. Para fabricá-la, o laboratório terá de coletar antígenos do paciente para produzir a proteção adequada.

Os testes têm 157 pacientes voluntários. O medicamento Keytruda, da MSD, reconhece as células cancerígenas e está sendo usado em conjunto com as vacinas da Moderna. Essa estratégia é necessária poque o câncer tem a habilidade de se camuflar.

A Moderna e a MSD não são as únicas a atuarem na criação de um imunizante contra o câncer. A farmacêutica alemã BioNTech, que, em parceria com a Pfizer, desenvolveu uma das vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19, planeja entregar seus primeiros imunizantes oncológicos antes de 2030.

Desde a fundação da empresa, em 2018, a BioNTech estuda o uso do RNA mensageiro para combater o câncer. Durante a pandemia, entretanto, as pesquisas foram adaptadas para a criação de um imunizante contra o novo coronavírus. Agora, a companhia voltou a desenvolver uma fórmula personalizável contra o câncer.

No momento, os estudos clínicos da farmacêutica se dedicam ao uso da tecnologia contra diferentes tipos de câncer, como o melanoma e o de intestino. “Como cientistas, sempre hesitamos em dizer que teremos uma cura para o câncer. Temos vários avanços e continuaremos trabalhando neles”, explica Özlem Türeci, diretora média e cofundadora da BioNTech.

A cautela dos pesquisadores em relação ao medicamento tem motivo. Antes das pesquisas atuais, muitas fórmulas que pareciam promissoras foram descontinuadas após fracassos em estudos clínicos.

Como funciona o RNA mensageiro

A técnica do RNA mensageiro consiste em treinar o organismo para reconhecer um microrganismo nocivo e saber como eliminá-lo. Para a covid-19, a fórmula instrui as células a produzirem a proteína S do novo coronavírus. A partir daí, o organismo passa a apresentar células de defesa e anticorpos contra a doença.

Contra o câncer, o princípio é o mesmo: induzir a imunidade. Nesse caso, porém, são produzidos marcadores encontrados na superfície das células do tumor do paciente. Assim, o organismo vai aprender a combatê-las e, ao mesmo tempo, preservar as células que não estão relacionadas com a doença — diferentemente do que ocorre com a quimioterapia, por exemplo, que ataca tanto células doentes quanto saudáveis.