A
Transformação profunda
O primeiro a traçar esse mapa foi o estilista Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Design do INSPIRAMAIS, o principal salão de inovação em materiais da América Latina.
Ao apresentar o panorama para 2026, Rodrigues, uma voz central no debate, definiu o momento atual como um “Turning Point” (Ponto de Mudança). Em sua análise, o estilista não hesitou em traçar um paralelo de impacto: o mundo vive uma transformação tão profunda quanto a Revolução Francesa, ocorrida há 240 anos.
Comportamentos e novos modelos de negócio
Se Rodrigues trouxe a dimensão histórica da virada, Angélica Coelho, designer e consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (SENAI CETIQT), mergulhou em como ela se manifesta no consumo.
Em sua palestra sobre a Primavera Verão 26/27, Coelho tratou do paradoxo que define a Geração Z: um profundo desejo por sustentabilidade que, frequentemente, esbarra na barreira do custo. “Essa frustração”, analisou a designer em entrevista à Itatiaia, “impulsiona novos modelos de negócio”, como a curadoria apurada de brechós e lojas de segunda mão.
Coelho também apontou para uma singularidade brasileira: os “lares multigeracionais”, onde pessoas de idades distintas convivem e trocam referências. Para ela, o “pulo do gato” do mercado nacional contra a profusão da produção em massa é claro: investir na “artesania” e nos saberes regionais.
Nas passarelas, segundo o diagnóstico da consultora, isso se traduzirá em fluidez, drapeados e transparências; nos bastidores da produção de materiais, a aposta reside na bioeconomia, com o uso de micélio, látex e até tingimentos à base de bactérias.
A tensão entre o artesanal e o tecnológico ganhou um capítulo final com Aline Nunes, também do Senai CETIQT. Na palestra “Moda para além da IA”, ela explorou como a Inteligência Artificial deixa de ser uma ferramenta futurista para se integrar, na prática, aos processos criativos e produtivos do setor.
O futuro do setor
Mas quem irá operar essa revolução que mescla bioeconomia, IA e saberes ancestrais? Alunos do curso técnico em vestuário do Senai, estiveram presentes no Minas Trend 2025 e conversaram com a Itatiaia sobre suas experiências como estudantes de moda.
Para muitos, a relação com a moda começa no território do sonho e da lembrança afetiva. “Desde pequena eu sempre quis trabalhar na área da moda”, contou a aluna Bárbara Catarina. Ela recorda que, na casa da avó, desde pequena brincava com tecidos e se imaginava desfilando.
Alunos do curso técnico em vestuário do Senai visitam o Minas Trend 2025 acompanhados da professora Josiane Pontelo
Para outros, o contato com o univerdo da moda leva a um impulso criativo, “tentei registrar tudo que eu vi em através de desenhos, minha intenção principal aqui é tentar ver o máximo possível para conseguir o informações e inspiração”, definiu a estudante Estela.
No entanto, a instrutora Josiane Pontelo, designer de moda e docente no Senai do Horto, ancora essas aspirações na realidade de um setor complexo. Segundo ela, os alunos encontram um mercado muito aquecido, mas que opera sob uma tensão crônica: a defasagem de profissionais, principalmente de fábrica.
A indústria, explica Pontelo, carece de “costureiras, de modelistas, de profissionais preparados”. Ela ressalta que o futuro do setor é amplo e vai muito além do estereótipo do estilista. O futuro real, que já demanda mão de obra, expande-se para áreas como moda digital, e-commerce e marketing.
Negócios e programação gratuita
A 34ª edição do Minas Trend, realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), equilibrou assim seus dois eixos: o salão de negócios, exclusivo para compradores, e a programação gratuita para o público geral interessado. De acordo com a organização mais de 5.300 pessoas passaram pelo evento que movimentou cerca de 33 milhões de reais em negócios.
Esta última edição, realizada entre 21 e 23 de outubro, incluiu palestras, desfiles infanto-juvenis e um concerto com a Orquestra SESIMINAS. O evento contou com patrocínio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e apoio máster do Sebrae Minas.