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Órbi Conecta| Órbi de Portas Abertas reúne especialistas para discutir como a IA revoluciona a forma de aprender, comunicar e empreender

Realizado mensalmente pelo Órbi Conecta, evento reuniu, nesta edição, estudantes, professores e empreendedores para discutir os desafios e caminhos da IA

Órbi de Portas Abertas, no Órbi Conecta, em Belo Horizonte

A inteligência artificial está transformando a forma de aprender e ensinar: da educação formal à capacitação profissional. Mas, além das promessas de novas possibilidades para o ensino, esse avanço levanta dilemas importantes sobre como garantir um uso ético e sem prejuízos à aprendizagem. A discussão marcou a última edição do Órbi de Portas Abertas, do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) Órbi Conecta, focado em inovação, educação e impacto.

O painel “Dos registros aos prompts: aprendendo a aprender na faculdade”, abriu o evento, trazendo a perspectiva de jovens estudantes sobre como é se preparar para um mercado de trabalho profundamente transformado pela IA, sem se perder no meio do caminho. Participaram os alunos da Fundação Dom Cabral Marcela Pace, Lara Pace, Henrique Pace, Henrique Lameu e João Maia Menin.

A mediação ficou por conta de Sabrina Oliveira, diretora de Educação do Órbi, que falou sobre o propósito do Órbi de apoiar o desenvolvimento desses “empreendedores do amanhã”. Também lembrou os dilemas que os jovens vivem nessa transição de uma educação tradicional para um mundo de possibilidades trazidos pela IA.

“Como fica esse estudante que até então na escola copiava registro e apresentava trabalho, mas agora chega em um outro mundo na faculdade, com total liberdade? E a IA nesse contexto? Temos pesquisas que mostram que o desempenho de alunos que utilizam ferramentas de inteligência artificial pode ser mais rápido, mas por outro lado eles se lembram menos do conteúdo ensinado. Isso porque nosso cérebro precisa de um nível de cognição para gerar a aprendizagem e quando eu delego muito pra IA, eu perco isso. Como usar a IA para estimular a percepção crítica?”, questionou.

João Maia Menin compartilhou sua experiência de estudos no exterior e destacou como essa vivência contribuiu para uma transição mais natural entre a escola formal e a faculdade. Para ele, a educação brasileira ainda precisa evoluir para superar a lógica da proibição do uso de tecnologias. “A tecnologia pode ser incrível se for usada da forma certa na escola. Em vez de proibir, deveríamos conscientizar porque, sem consciência, as pessoas não evoluem”, afirmou.

Já Lara Pace contou que tem uma estratégia para o uso da IA não sair do controle. No caso de leituras acadêmicas, ela faz sua própria interpretação sem apoio da IA e só pede ajuda direcionada: em caso de dúvidas ou se há necessidade de resumir pontos estratégicos de um conteúdo extenso. “O problema da IA é quando a gente acha que ela vai fazer por nós, mas ela não vai. Quando bem utilizada, ela nos ajuda a aprender a pensar, mas somos nós que vamos fazer”, destacou.

O olhar de quem ensina

Se de um lado os alunos já estão dominando as novas ferramentas de IA e desenvolvendo estratégias próprias de utilização, do outro, professores lidam com o desafio de repensar o ensino nesse contexto. O painel “Preparando Líderes para o Futuro com IA” trouxe essa discussão com a participação do professor do Ibmec e empreendedor, Pedro Calais; do professor da Fundação Dom Cabral e também empreendedor, Tiago Aroeira, e da professora de Redação e Linguagens e Atualidades, Jana Rabelo, que desenvolveu sua própria metodologia centrada no desenvolvimento do senso crítico, na argumentação e na estrutura textual com o apoio da IA.

Tiago compartilhou uma ilustração para mostrar como o uso de inteligência artificial no processo de aprendizagem tem dualidades. “Se você precisa se deslocar sem um meio transporte, você vai desenvolver sua capacidade de caminhar, mas seu alcance é limitado. Agora, imagine que você comprou uma moto: isso aumenta suas possibilidades e você pode chegar a mais lugares, mas também diminui a sua própria capacidade de caminhar. Com a IA é a mesma coisa e é por isso que se usarmos as ferramentas de forma errada, podemos ter nossa capacidade cognitiva reduzida”, alertou.

Para Pedro, esse equilíbrio é um desafio porque é inegável que o “aprendizado tem que ter suor”. Por outro lado, ele acredita que a IA pode eliminar um “suor bobo”, como ficar pensando em exemplos para questões de prova. “Outro uso possível que eu enxergo para a IA na escola é a tutoria personalizada. Hoje, essa lógica de 30 alunos numa mesma sala é uma solução viável economicamente. Mas, a verdade é que esses 30 alunos são muito diferentes e, por isso, o professor precisa ensinar em um nível mediano. Com a IA poderíamos pensar em soluções de conteúdos mais personalizados”, provocou.

Os painelistas lembraram a necessidade de ensinar os alunos a usar a IA na educação básica, argumento que foi apoiado por Jana Rabelo - que vê na prática como o uso inadequado das ferramentas pode prejudicar. “O aluno não entende que não dá pra pedir à IA para corrigir e explicar um gabarito de humanas, sem um comando adequado. Em algumas áreas de conhecimento, a resposta certa depende de uma matriz de referência, de um pensamento crítico a respeito daquela matéria. Se a IA não foi alimentada com a base certa, ela não vai responder corretamente”, exemplificou.

Comunicação e empreendedorismo

A forma como a IA atravessa os campos da comunicação e a jornada do empreendedorismo também foram temas de debate no Órbi de Portas Abertas. No painel “Comunicar na Era da IA”, a CMO e COO do Órbi, Francis Aquino, provocou os convidados sobre como essas novas ferramentas estão mudando as regras do jogo do setor.

Para o CEO da Metropole4 & MovePeople, Edson Rocha, uma das grandes mudanças que a IA traz é que o marketing deixa de ser apenas arte para se tornar ciência de dados. “E são os dados que mostram retorno prático. Na MovePeople, por exemplo, conseguimos monitorar a reputação da empresa e prever a crise antes de ela estourar. E, embora a gente não impeça de acontecer, conseguimos ter uma estratégia preditiva e não reativa”, disse.

Já a líder do Comitê de Inovação da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) em Minas Gerais, Madelon Piana falou sobre o foco excessivo no uso de ferramentas de IA para produção de conteúdo, enquanto há muito campo na sustentação de diagnósticos, construção e identificação de stakeholders e análise de narrativas.

Para o CRO e sócio na Blip, Juliano Braz, o maior ensinamento da IA para os comunicadores é sobre a evolução constante. “O que é a inteligência? É a capacidade de entender, se adaptar e evoluir, e isso é o que nos guia na Blip: nossos projetos seguem esse fluxo de ouvir, gerar insights, aprender e evoluir”, afirmou.

No painel “I.A. Na Veia do Empreendedorismo”, o Co-Founder e COO da uCondo, Leo Mack, também falou sobre esse potencial de transformação da IA no mundo dos negócios, mas lembrou que, hoje, “é preciso separar fumaça de fogo” e identificar as ferramentas que realmente geram valor, em vez de apenas seguir a onda do hype tecnológico.

Para a CEO IVIjur, Marcela Carvalho, o fator decisivo nessa diferenciação é quanto a tecnologia adotada está associada à dor que se pretende resolver. “Você precisa saber se ela realmente resolve o problema”, disse. O CEO da Algoritmus, Julio Martins, trouxe a mesma percepção, lembrando que o empreendedor precisa “definir o que é sucesso para o seu negócio”. Já o CEO Orkestra.dev, Pedro Israel, acredita que uma forma de não se perder nessa busca de ferramentas é começar com modéstia, ir conhecendo aos poucos, sem se afobar com uma “super IA”.

O CEO da Dadosfera, Luis Martins, por outro lado, lembrou a importância de ouvir quem sabe. “Na Dadosfera a gente fez isso desde o início: nos aproximamos dos melhores do mundo, então a gente sabia com quem estava andando. Além disso, é importante lembrar que toda tecnologia que surge vai passar pelo Ciclo de Hype da Gartner, que tem um período de ápice com muita visibilidade e expectativa em torno dela, mas depois vem a fase de desilusão - quando se percebe que nem tudo é como se imaginava - até chegar ao momento de produtividade, quando sua aplicação está mais clara e gerando valor”, disse.

O Órbi de Portas Abertas oferece, gratuitamente, conversas profundas e trocas de experiências uma vez por mês, no Órbi Conecta, que fica na Avenida Antônio Carlos, bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. Esse é um dia que o coworking é aberto para novos quem tem interesse em passar um dia de trabalho ali e, ainda, realizar networking. Para saber mais, basta acompanhar a agenda, no site www.orbi.co.

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O Órbi Conecta é um hub de soluções tecnológicas, educação e impacto social fundado em Belo Horizonte por Inter, MRV&Co e Localiza&Co e mantém uma coluna publicada semanalmente às terças-feiras no portal da Itatiaia.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.