Ouvindo...

Com base ‘irritada’, ALMG ainda nem iniciou tramitação de PEC que acaba com referendo para privatizações

Deputados reclamam que governo não cumpriu acordos

Se ainda não há revolta pública, existe pelo menos um clima de “má vontade": diversos deputados da base têm preferido viajar pelo interior, visitando e organizando aliados, do que participar das sessões na Casa

Enviada para a Assembleia na semana retrasada pelo governo Zema, a PEC que acaba com a obrigatoriedade de referendo popular para privatizar empresas públicas ainda sequer foi lida em plenário - ou seja, oficialmente nem começou a tramitar. A situação gera questionamentos dentro da Casa e no Estado, mas tem justificativa simples: o governo seria, na palavra de deputados, “atropelado” na votação.

A coluna apurou que a iminente derrota do governo se daria porque a gestão Zema não vive dias tranquilos com a Assembleia, com parte da base de aliados “com braços cruzados”. O motivo principal seria o não cumprimento de acordos firmados entre parlamentares e o então secretário de Governo, Igor Eto, que já até deixou o cargo. Inicialmente, o governo sinalizou que os acordos continuariam apalavrados mas, depois, pontuou que não conseguiria atender todos.

O líder do governo na Assembleia, João Magalhães (MDB), inclusive só aceitou o cargo após receber “a palavra” de interlocutores do Estado de que os acordos seriam cumpridos. Dias depois, ouviu que emendas e repasses para projetos indicados por deputados não seriam pagos - nem os cerca de R$ 6 milhões acertados depois da posse do novo secretário de Governo, Gustavo Valadares, o que se tornou uma espécie de bola de neve em acordos não cumpridos.

Se ainda não há revolta pública, existe pelo menos um clima de “má vontade": diversos deputados da base têm preferido viajar pelo interior, visitando e organizando aliados, do que participar das sessões na Casa.

Em outra frente, o líder do bloco governista, Cássio Soares (PSD), também tem enfrentado dificuldades para organizar os aliados de Zema. Uma sensação de governistas é que Cássio também tem se irritado com o Executivo e, por isso, não tem avançado com tentativas para aparar as arestas. “Ele não tem com o que negociar, então fica parecendo que se omite. Mas não é culpa dele”, conta um membro da base.

Procurado, Cássio rebateu a ideia de que a união do bloco governista tem apresentado dificuldade para estar unido. “Não tenho tido dificuldades em organizar o meu bloco. Permaneço coerente em cobrar o cumprimento de acordos de parte a parte”, pontuou.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.