O
À frente da CUFA em Minas desde 2023, a empreendedora social Marciele Delduque tem uma história que reflete bem o propósito da instituição. Natural de Mariana (MG) e sem estrutura financeira, Marciele precisou “fazer o corre” para sobreviver e abriu seu primeiro negócio. Depois de oito tentativas frustradas, ela abriu um salão de beleza que, além de dar certo, se tornou ponto de encontro e de acolhimento para outras mulheres da cidade.
Dali nasceu o projeto de empreendedorismo Marianas Mulheres que Inspiram, reconhecido dentro e fora do país como uma iniciativa de fortalecimento feminino. O projeto recebeu prêmios como o Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença (Embaixada dos EUA, 2022) e o Brics Women’s Innovation Competiton Award (Conselho da China para a Promoção do Comércio Internacional, 2023).
“Eu já empreendia antes mesmo de saber o que era empreendedorismo. Foi no salão de beleza que percebi que muitas mulheres precisavam de um espaço para conversar, se apoiar e sonhar. Começamos as reuniões na varanda da minha casa, tomando um café. Desses primeiros encontros, 17 mulheres se tornaram empreendedoras”, conta Marciele. “Levar esse espírito para a CUFA e, agora, para dentro do Órbi é a soma de muitas forças que eu tenho certeza que já deu certo”, afirma a presidente da CUFA Minas.
Do outro lado temos o Órbi Conecta. Fundado em 2017 pela comunidade de startups San Pedro Valley, junto às empresas Banco Inter, MRV e Localiza, o Órbi se tornou referência nacional em conectar startups, corporações, universidades e outros atores do econossistema de inovação em Belo Horizonte. O hub carrega o propósito de estar em uma região que reflete a realidade social de boa parte do Brasil — e que, justamente por isso, precisa ser incluída no debate sobre o futuro do trabalho e da tecnologia.
Christiano Xavier, CEO do Órbi Conecta, destaca o potencial transformador da parceria: “Sempre acreditamos que inovação só faz sentido se for inclusiva e acessível. Essa parceria com a CUFA Minas é histórica porque aproxima dois mundos que deveriam caminhar juntos: o da favela e o da tecnologia. Queremos abrir portas reais, oportunidades concretas e democratizar o acesso à formação”.
Tecnologia com a linguagem do “corre”
A parceria entre o Órbi Conecta e a CUFA Minas nasce com o compromisso de construir soluções contínuas de formação empreendedora e letramento digital para moradores das favelas mineiras, respeitando a linguagem e a cultura de cada território. O primeiro passo será a realização de oficinas e capacitações na sede do Órbi e nas comunidades atendidas pela CUFA.
“A ideia dessa conexão é simplificar o letramento digital, traduzir o ‘business plan’ e os estrangeirismos para a linguagem do ‘corre’. Mostrar que os negócios dentro da favela têm potencial, sim, e precisam ser vistos de uma nova forma pelo mercado”, explica Marciele.
Além disso, o Órbi passa a apoiar oficialmente projetos como a Taça das Favelas, o maior campeonato de futebol entre favelas do país, e a ExpoFavela, evento que conecta empreendedores das comunidades ao mercado formal, ficando responsável pela curadoria de negócios digitais em Minas.
Inovação além da capital
Hoje, a CUFA está presente em 23 cidades mineiras, e a ideia é que, a cada novo território, o braço digital do Órbi Conecta seja incluído na estrutura de projetos locais. “Vamos caminhar juntos. Quando a CUFA entra, o Órbi entra junto”, reforça Marciele. Sabará deve ser a primeira cidade fora de BH a receber o hub de inovação, acompanhando a chegada da nova unidade da CUFA na região.
Para Christiano Xavier, o movimento também fortalece o próprio ecossistema de inovação. “A parceria vai também ao encontro do propósito do Órbi Academy, escola de formação criada pelo Órbi Conecta. Atuando como agente de transferência de conhecimento digital, o Órbi Academy busca responder às demandas por empregabilidade e formação especializada em tecnologias emergentes”, afirma o CEO do Órbi.
“É estratégico para o futuro das cidades e para o setor tecnológico brasileiro ampliar essa troca. A favela já produz soluções sociais e empreendimentos incríveis, e queremos ajudar a potencializar isso com tecnologia e oportunidades de mercado”, afirma. “Essa é a junção da tecnologia social que a CUFA faz há anos com maestria com a tecnologia digital que o Órbi domina. É o melhor dos dois mundos”, completa Marciele.