Com mais de 38 milhões de visualizações no Youtube, o vídeo intitulado “Adultização” criado pelo youtuber Felca, conhecido por seu humor e críticas sociais, teve um papel importante na divulgação da causa contra o abuso infantil e a adultização. Ao abordar o tema de forma acessível e com a repercussão que o vídeo alcançou, ele contribuiu para que um público amplo e jovem se conscientizasse sobre a seriedade do problema. Eu sempre abordo esse tema na minha coluna por saber o quanto é grave e importante a divulgação desse assunto que ainda é um tabu para muita gente.
Infelizmente, os dados sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil são alarmantes. Recentemente, a Safernet, em parceria com a Unicef, divulgou um relatório que aponta um aumento de 875% nos registros de denúncias de pornografia infantil entre 2017 e 2022. Essa estatística mostra a escalada de um problema que, por muitas vezes, fica invisível.
Invisível para quem não sofreu o crime, mas as consequências do abuso e da adultização na vida das vítimas são profundas e duradouras. Elas podem afetar a saúde física e mental, causando traumas psicológicos, depressão, ansiedade, transtornos alimentares e dificuldades de relacionamento. Em muitos casos, essas marcas permanecem por toda a vida adulta.
Por isso é tão importante que haja transparência e que esses criminosos sejam visíveis para toda a sociedade.
O papel do governo e a luta por transparência
A falta de um Cadastro Nacional de Pedófilos e Criminosos Sexuais é uma das maiores dificuldades na prevenção e no combate a esses crimes. Um registro nacional permitiria que as autoridades, escolas e famílias tivessem acesso a informações importantes para proteger as crianças.
Apesar da urgência do tema, a implementação de um registro nacional esbarra em desafios legislativos e burocráticos. A aprovação de projetos de lei, como o PL 2769/2019, que visa criar o cadastro, ainda é um processo lento. Além disso, há debates sobre a constitucionalidade e a proteção de dados pessoais, o que também contribui para a demora.
Apesar de todas as dificuldades, é fundamental que a sociedade continue cobrando, se interessando pelo tema e se mobilizando. A discussão iniciada por pessoas como o Felca e a divulgação de dados, são passos importantes para que a população se informe e exija medidas eficazes para proteger as crianças e os adolescentes.
É com o objetivo de divulgar cada vez mais, para prevenir os casos de abuso infantil, que a ONG Rede Solidária e o Instituto MILA (Movimento Infância Livre do Abuso) realizarão no dia 9 de setembro de 2025, no Restaurante Porcão em Belo Horizonte, o segundo Jantar Beneficente Todos Contra a Pedofilia. Toda a arrecadação será destinada a ações de prevenção e conscientização contra a exploração sexual infantil, na produção de materiais educativos, mobilização e palestras em escolas, creches, empresas parceiras e comunidades.
É fundamental falar sobre o tema
O principal impacto desses eventos é a educação da sociedade. Ao trazer o tema para o debate público, eles:
- Informam sobre os sinais de abuso: Muitos adultos não sabem identificar os sinais de que uma criança ou adolescente está sofrendo violência. Eventos e campanhas ensinam a reconhecer mudanças de comportamento, lesões físicas ou emocionais e outros indicadores, como a queda no rendimento escolar ou o isolamento social.
- Ensinam as crianças a se protegerem: As campanhas educativas usam uma linguagem adaptada para crianças, ensinando-as a identificar toques e segredos inapropriados. Elas aprendem sobre seus direitos, a importância de dizer “não” e a quem podem procurar para pedir ajuda, como pais, professores ou conselheiros.
Estímulo às denúncias
Um dos maiores desafios no combate ao abuso infantil é a subnotificação. Muitos casos não chegam às autoridades porque as vítimas têm medo, vergonha ou são ameaçadas. Além disso, as pessoas ao redor, mesmo desconfiadas, não sabem como ou a quem denunciar.
- Divulgação dos canais de denúncia: Campanhas de conscientização sempre reforçam os canais de denúncia, como o Disque 100 e o Conselho Tutelar. Ao tornar essa informação amplamente conhecida, elas dão a qualquer cidadão o poder de agir.
- Quebra do silêncio: Ao falar abertamente sobre o tema, essas iniciativas ajudam a quebrar o tabu, encorajando vítimas a falar e a pedir ajuda, além de mobilizar a comunidade a não ser complacente com a violência.
Pressão por políticas públicas
A visibilidade gerada por eventos e influenciadores também serve para pressionar o governo e as autoridades a agirem. Quando a sociedade exige mudanças, o tema ganha prioridade na agenda política, o que pode resultar em:
- Melhora da legislação: A pressão pública pode acelerar a aprovação de leis mais rígidas, como o projeto de lei para o Cadastro Nacional de Pedófilos e Criminosos Sexuais, ou aumentar as penas para crimes de abuso.
- Alocação de recursos: A conscientização pode levar a um maior investimento em serviços de proteção à infância e adolescência, como delegacias especializadas, centros de assistência e programas de apoio psicológico.
Portanto, embora não previnam diretamente o crime, esses eventos criam um ambiente de proteção mais forte, onde a violência é menos tolerada e as vítimas têm mais chances de serem ouvidas e protegidas.
Contamos com a sua presença no dia 9 de setembro para juntos lutarmos contra a adultização e o abuso infantil.