O Minas Summit 2025 abriu espaço para um debate profundo e necessário sobre o presente e o futuro da educação. Na Sala Órbi Academy, iniciativa do hub de inovação Órbi Conecta, três painéis e um workshop reuniram professores, estudantes e profissionais do mercado para refletir sobre o papel da escola, da tecnologia e das emoções no processo de aprendizagem. As conversas evidenciaram que, mais do que ensinar conteúdos, educar hoje é uma questão de escuta e propósito.
O primeiro painel, Perguntatória: o que sua criança interior pensa sobre a educação hoje e do futuro?, trouxe uma proposta provocativa e sensível: convidar os painelistas a resgatar os sonhos da própria infância e refletir sobre como a escola dialoga, ou não, com os desejos das crianças e adolescentes. A mediadora Raquel Alves, especialista em Educação Básica da Secretaria de Educação de Minas, abriu a conversa citando os pensadores Peter Senge e Edwards Deming, ressaltando que o modo como organizamos o trabalho e o conhecimento precisa acompanhar as mudanças sociais e tecnológicas.
Os depoimentos dos professores Gabriel Cavalcante, Paulo Felipe Lopes e Luana Resende evidenciaram que a escola brasileira, em muitos casos, ainda resiste a enxergar o aluno como sujeito ativo. “A escola reproduz a sociedade. Nosso papel é reconhecer o estudante enquanto sujeito, com suas vivências e contextos, mesmo sendo ‘só' uma criança ou adolescente”, destacou Paulo, que lembrou a importância de considerar as realidades sociais diversas, de bairros estruturados a favelas e famílias fragmentadas.
Gabriel, ao recuperar seu sonho de ser astronauta, fez um paralelo com os desejos reprimidos que os alunos carregam. “Quando crescemos, vamos perdendo nossos sonhos. E quando isso acontece, o que a escola faz com isso?”, questionou. Luana reforçou a urgência de uma educação mais dialógica e inclusiva: “Protagonismo infantil é quando a criança pode falar e participar da construção da aula. A sala de aula precisa ter regras, mas também deve ser espaço para criação conjunta”.
A tecnologia foi outro ponto abordado, muitas vezes encarada como ameaça, mas que, segundo Raquel, pode e deve ser aliada. “Nem tudo é digital. Um lápis é tecnologia. O importante é entender a escola como espaço de inovação, afetos e reinvenção”, afirmou, citando Paulo Freire: “Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos”.
O público reagiu com emoção. “Quero agradecer o que vocês, professores, fazem por nossas crianças. Esse novo olhar é necessário”, disse uma espectadora. Um geneticista presente deu um forte depoimento: “Só na velhice percebi que fui privilegiado, e que a minha educação, dentro do privilégio branco, foi criminosa ao apagar outras culturas. Parabéns a vocês pela coragem de transformar isso”.
Escola e carreiras
O segundo painel, Caiu a ficha sobre carreira: como engajar a sala de aula no preparo para a jornada profissional?, aprofundou a discussão sobre as dificuldades enfrentadas pelos adolescentes para se enxergar no futuro. A professora de Física, Brillian Aquino, compartilhou sua experiência na escola pública e ressaltou a importância de professores que incentivam os alunos a descobrirem talentos, mesmo fora dos caminhos convencionais. “Eu tento fazer isso hoje, porque alguém fez por mim”, contou. Pietra Neves, estudante de Direito, elogiou a escolha da professora.
Francis Aquino, curadora da Sala Órbi Academy e mediadora do painel, trouxe à tona um tema delicado: como formar adolescentes para o mercado de trabalho quando eles chegam às salas de aula carregando questões emocionais e sociais complexas? Cristiane Serpa, diretora de Educação Profissional do SENAC Minas, defendeu a atuação da escola como espaço de escuta. “Muitas vezes, a dificuldade no estudo é só a ponta do iceberg. Por trás disso pode haver abuso, fome, conflito familiar, ou a necessidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo”, exemplifica.
A discussão também abordou a crescente contestação dos jovens às formações tradicionais e o “pavor da CLT”. Para Francis, esse movimento impõe o desafio de ressignificar o valor da educação formal sem ignorar as angústias contemporâneas. Brillian compartilhou sua estratégia em sala de aula: “Uso o objetivo do aluno como argumento. Se ele quer trabalhar, mesmo que ache que o diploma não sirva para nada, ensino que ele precisa de raciocínio lógico e interpretação de texto em qualquer lugar. A Física e a Língua Portuguesa podem ajudar nisso. Cada disciplina vai ter um papel nesse desenvolvimento”.
Edna Meneses, diretora executiva da RPP Tecnologia, apontou que o mercado de trabalho espera dos jovens mais do que domínio técnico. “O que procuramos são os 4Hs: Humildade, Humanidade, Honestidade e Humor. Essas são habilidades que os ambientes educacionais precisam estimular desde cedo”, disse.
Educação continuada
O terceiro painel, Empresas que ensinam. Escolas que aplicam, refletiu sobre o papel das empresas na formação de profissionais e na educação continuada. Adriano Tavares, tech manager de Emerging Technologies do Inter, contou que já foi professor de graduação, dando aula de Arquitetura de Sistemas. “Hoje, a informação está na palma da mão dos alunos, nos smartphones. Então, como o professor se faz relevante nesse cenário? Nosso papel é ser uma ponte para o mercado”, defendeu.
Na sequência, Sabrina Oliveira, head do Órbi Academy, reforçou a importância de um posicionamento que una expertise, propósito e empatia para criar soluções. “E, acima de tudo, descer do palco de ‘detentor do conhecimento’ e ir até os alunos”, declarou. “Ensiná-los a solucionar problemas reais. A tecnologia vem para impulsionar nosso conhecimento. Ela é uma ferramenta, a inteligência é humana.”
Luciana Salomão, da LOG, comentou sobre os desafios de lidar com cinco gerações trabalhando em uma mesma empresas. “Os mais novos chegam com pouca maturidade e precisamos desenvolvê-los. O ChatGPT não vai resolver tudo pra você. É preciso saber o que pedir, como pedir, os dados que quer extrair e interpretá-los”.
A estudante Mariana Vieira trouxe um relato sobre como participar de eventos fora da sala de aula, a exemplo de congressos e feiras, foram decisivos para sua trajetória. “Fui a um evento de computação quântica no Inter que mudou minha cabeça. Eu já cursava Ciência de Dados & Inteligência Artificial e resolvi me graduar em Matemática também”, conta. “Sabe, o momento de decidir o que você quer fazer não precisa ser o vestibular, a faculdade também pode ser esse momento.”
Hana Campos, da Avenue Code, completou: “A carreira hoje não vem pronta, não há mais trilha única. As pessoas precisam experimentar e escolher os próprios caminhos com intencionalidade”.
Cocriação de futuros
Encerrando a programação, o workshop A Educação do Futuro, agora – uma cocriação, conduzido por Ciso Lima e Rubens Aguiar, managing partners da DTG Brasil, propôs uma prática de design thinking para que os participantes experimentassem o desafio de pensar soluções a partir de perspectivas distintas da sua.
Usando o método de design thinking, o público foi desafiado a assumir diferentes papéis do mundo da educação (como professores, gestores públicos, ONGs, setor privado e alunos) e, a partir dessas perspectivas, sugerir ideias para aumentar o engajamento dos estudantes na aprendizagem. A dinâmica consistia em escrever soluções, trocá-las entre os participantes e, a cada rodada, acrescentar novas contribuições assumindo outro papel, inclusive aquele com o qual menos se identificavam. “Estamos conseguindo realmente colaborar para construir uma solução conjunta ou seguimos brigando pela nossa posição?”, provocou Rubens.
As reações mostraram o efeito do exercício. “Nunca me identifiquei com ONGs, foi interessante pensar nessa perspectiva”, disse uma participante. Outro completou: “Li a ideia de alguém e pensei: por que eu não pensei nisso antes?”. Outra participante resumiu bem o aprendizado coletivo: “Ouvir e julgar a perspectiva do outro é muito mais fácil do que tentar contribuir genuinamente a partir dela”.
Ciso explicou que o desconforto gerado foi proposital: “A gente fala muito em colaboração, mas na prática, muitas vezes, seguimos defendendo nossa posição. O desafio real é cocriar, com boa vontade, com quem pensa diferente”, concluiu.
Órbi Academy
Criado em 2017 pela comunidade San Pedro Valley, em parceria com as empresas Inter&CO, MRV&CO e Localiza&CO, o Órbi Conecta é um dos principais hubs de inovação do Brasil, sendo um catalisador de conexões entre startups, corporações universidades e outras iniciativas. Desde o início de 2025, colocou impacto social no centro dos negócios, tendo o Órbi Academy como um braço educativo. Saiba mais em