Ouvindo...

Nos sonhos de um garoto que amava futebol, falar na Rádio Itatiaia é completar a quadra de objetivos que pareciam distantes

Na infância e juventude, me arrumava para ir à escola ouvindo o Tiro de Meta para saber os resultados dos jogos da noite anterior

Rádio Itatiaia completa 71 anos

Em 1974, com cinco para seis anos, vivi minha primeira grande decepção com o futebol, isso aos cinco anos, quando a Seleção Brasileira perdeu a vaga na final da Copa da Alemanha para a Holanda com a derrota de 2 a 0 na última partida de um dos quadrangulares semifinais da competição.

Um time recheado com alguns dos ídolos da minha infância, como Leão, Nelinho, Valdomiro, Jairzinho e Rivellino, me fez ter a certeza de que o mundo entre as quatro linhas era muito mais do que um esporte ou um lazer. Era uma paixão.

E ela segue, há quase cinco décadas, período em que surgiram sonhos, o primeiro deles trabalhar com futebol, algo que o jornalismo esportivo me permite há 35 anos.

O poeta cubano José Martí escreveu que há três coisas que um homem deve fazer em sua vida: “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”.

Adaptando esse pensamento para meu universo futebolístico, não criei obrigações, mas desejos, que foram sendo formados durante a caminhada, principalmente já como jornalista.

Foram mais do que os três de José Martí, sendo um deles comum. E não escrevi um livro sobre futebol, mas seis, sendo o sétimo uma homenagem a um grande amigo, Roberto Drummond, que tem sua única obra futebolística organizada por mim.

As imagens de 1974 criaram um amante da Seleção e da Copa. Cobri mais de uma centena de jogos da equipe canarinho e estive em Mundiais em todos os continentes.

A leitura preferida desde a infância era a Placar e tive a honra de escrever na revista por alguns anos, fazendo algumas capas e matérias de grande repercussão.

O quarto sonho era trabalhar na Rádio Itatiaia. Um lembrança da infância e adolescência é me arrumar para ir à escola ouvindo o Tiro de Meta. À noite, deitava com o rádio debaixo do travesseiro ouvindo os jogos narrados por Vilibaldo Alves, Alberto Rodrigues, Willy Gonser, Milton Naves.

Muitas vezes as narrações foram o embalo para o sono de quem no dia seguinte tinha aula cedo, mas matava a ansiedade para saber o resultado da partida da noite anterior justamente no Tiro de Meta.

Os comentários de Osvaldo Faria eram quase obrigação, assim como no final da tarde saber das novidades pela voz de Emanuel Carneiro na Turma do Bate Bola.

Roberto Abras, Carlos César Pinguim, Paulo Rodrigues, Afonso Alberto, Paulo Roberto Pinto Coelho, Mauro Neto eram as minhas fontes de informação.

São dezenas de nomes dos anos 1970 e 1980 que me inspiraram e formaram. E só tenho a agradecer o fato de poder estar completando a quadra dos meus sonhos futebolísticos falando ao microfone da Rádio de Minas, que nesta sexta-feira (20) completa 71 anos.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro