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Reconhecimento facial e localização de celular inibem protestos na China

Repressão no país já é conhecida, mas tecnologias facilitam essa atividade

Reconhecimento facial tem sido usado por autoridades chinesas para repressão

Cidadãos chineses que protestaram contra a política de Covid Zero no país foram abordados por autoridades locais e pressionados a não participar novamente de manifestações e atos públicos. A técnica não é nova na China, mas agora tem a tecnologia como aliada: o recurso mais útil atualmente para as autoridades locais é o reconhecimento facial, quase onipresente.

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Na China, quem se hospeda em um hotel, compra um chip de celular ou faz pagamentos com o smartphone cede dados biométricos faciais. O mesmo é necessário ao abrir uma conta bancária ou tirar uma identidade. Isso ajuda o governo chinês a vigiar e identificar quem o desafia — mesmo que sejam cidadãos comuns, não envolvidos com política.

Se por um lado a tecnologia diminui fraudes, melhora as condições de segurança pública e traz comodidades no dia a dia — é possível usar o rosto para pagar contas ou liberar catracas de metrô e ônibus, por exemplo —, por outro permite que autoridades identifiquem manifestantes no meio de multidões.

Alguns truques, como o uso de bonés e óculos com lentes espelhadas, diminuem a precisão dos algoritmos de reconhecimento. Mesmo assim, manifestantes podem ser identificados a partir de dados dos celulares presentes em um protesto. Há participantes que desativam o GPS do smartphone, mas ainda assim é possível estimar a localização de um dispositivo a partir da triangulação de antenas.

Segundo a Anistia Internacional, os manifestantes não foram presos nem processados, mas sofreram intimidação. Depoimentos narram visitas de policiais à casa de suspeitos de participar de atos públicos e relatos de ameaças: um eventual novo envolvimento em manifestações poderia resultar em ação judicial e prisão.

O uso de tecnologias foi muito útil na China para o controle da pandemia. Os QR Codes de saúde, por exemplo, usavam a localização dos celulares para alertar cidadãos que haviam tido contato com pessoas contaminadas e identificar focos de contaminação em tempo real. Após a vacinação em todo o mundo e com o vírus sob controle, entretanto, a restrição à circulação de pessoas mantém a expansão econômica em queda e aumenta a impaciência da população.