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MG: técnico é condenado a indenizar professor de aluno alvo de racismo; entenda

Treinador de Pompéu teria chamado adolescente de “preto, gordo, retardado e mongol” e ainda xingou a cidade de Sete Lagoas; ele também já foi acusado de agressão e cárcere contra alunos

Treinador também já foi acusado de agressão e cárcere contra alunos

O ex-técnico de um time de handebol de Pompéu, na região Central de Minas Gerais, foi condenado a pagar uma indenização após um caso de racismo durante os Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG) de 2023. A indenização, no entanto, não será destinada ao estudante alvo dos xingamentos, mas sim para o professor desse aluno. O técnico é considerado foragido por acusações de agressão e cárcere privado de estudantes.

A denúncia contra Francisco Júnior Corrêa Mota foi registrada em junho de 2023. Ele foi investigado e indiciado pela Polícia Civil por conta de uma gravação enviada para um jogador do time de Sete Lagoas, que também disputava o torneio de handebol organizado pelo Governo de Minas. Na gravação, o treinador usa um xingamento racista e também ofende a cidade natal do jovem. Clique aqui para ouvir. A denúncia oferecida pela Promotoria de Justiça de Pompéu classifica o áudio como “racista, aporofóbico e gordofóbico”.

O processo em questão foi movido pelo professor e técnico responsável por uma equipe de alunos de Sete Lagoas. O professor alegou que “foi diretamente atingido por um ato de injúria racial praticado pelo réu contra um de seus alunos. Sustenta que o ato ilícito lhe causou profundo abalo moral, angústia, medo e estresse, na medida em que teve de gerenciar toda a crise, lidar com as autoridades, com os pais dos alunos e com a repercussão do fato, sofrendo, portanto, dano moral por ricochete”.

Os advogados de Francisco argumentaram que não houve dano moral reflexo, já que o professor não era parente da vítima e que “o aborrecimento narrado não ultrapassa o mero dissabor e se insere nos percalços da vida profissional”.

Porém, no julgamento, o juiz Tiago Borges de Oliveira, da Comarca de Pompéu, considerou que houve sim o “dano moral por ricochete”, alegando que o professor “não era um mero espectador, mas uma figura de autoridade e o garantidor legal e moral da segurança e bem-estar do aluno”. Para o juiz, “o ataque racista ao seu pupilo representou uma violação direta e brutal do ambiente de segurança e respeito que o autor tinha o dever de proporcionar”.

Por isso, o técnico foi condenado a pagar uma indenização por dano moral ao professor do aluno alvo de racismo. O valor da indenização ficou em R$ 5 mil, abaixo dos R$ 15 mil pedidos inicialmente.

Em nota, os advogados Paulino Gontijo Queiroz Cançado e Rosiane Maria Silva Araújo, que defendem o acusado no processo de indenização, “manifestaram sua discordância em relação à decisão proferida, e desde já informaram que utilizarão dos meios legais cabíveis para recorrer”.

A ação criminal sobre o caso segue em andamento. A audiência de instrução e julgamento que estava prevista para o dia 19 de agosto foi cancelada nesta semana e uma nova data deve ser anunciada em breve.

Foragido

Em 2024, cerca de um ano após a acusação de racismo, Francisco foi acusado de ter agredido e mantido adolescentes em cárcere privado. Em maio do ano passado, militares foram até o local indicado e encontraram 13 adolescentes, alunos de handebol de vários estados do Brasil, morando na residência. Os jovens apontaram Francisco como o autor das agressões. Segundo eles, a vítima foi agredida após sair da casa para dar uma volta sem a autorização do treinador, que também é coordenador da equipe de handebol.

Na época, o treinador não foi preso por ausência de flagrante, mas no dia seguinte se tornou alvo de um mandado de prisão expedido pela Justiça e que não foi cumprido até hoje. Em abril deste ano, ele foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por abusar sexualmente e agredir adolescentes de 13 a 17 anos. Ele segue foragido.

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Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.