Gisele Oliveira, de 40 anos,
“Ela diminuía a consciência das crianças. Nossa segunda necrópsia, do ano de 2010, de uma criança de dez meses, aponta positivo para fenobarbital, um medicamento depressor. E a primeira causa de morte era asfixia por conteúdo gástrico.
Então, concluímos no decorrer das investigações, depois de muitas oitivas, dezenas de pessoas ouvidas, muitos prontuários analisados, que a redução de consciência era feita com sedativos. E ela, então, asfixiava essas crianças”, contou a delegada da Polícia Civil (PC), Valdimara Teixeira, em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (7).
De acordo com a PC, as investigações começaram em 2023, quando o último dos homicídios ocorreu. Após o início das diligências, a corporação chegou a dois assassinatos cometidos no ano de 2019, em um período de dois meses, e, posteriormente, a mais dois, que aconteceram em 2010, com uma diferença de 32 dias entre eles.
Além das mortes, a PC chegou a outro caso de tentativa de homicídio contra uma criança, no ano de 2008. Neste caso, a mulher teria dado uma mamadeira com Neocid, inseticida doméstico, para a vítima.
De acordo com Teixeira, em uma das mortes, uma criança foi encontrada com uma fralda na boca. Já a última criança morta estava com o rosto virado para o sofá.
Reação de familiar desencadeou investigação
A delegada Valdimara Teixeira revelou que o comportamento de uma tia da criança morta em 2023 possibilitou o início da investigação que viria a relacionar os casos.
“A tia chega ao hospital e começa a bradar que já era a quinta criança. Isso chama a atenção da administração do hospital, que aciona a polícia. Então, nós tivemos conhecimento e iniciamos o trabalho de campo que nos levou aos outros homicídios”, afirmou.
De acordo com a PC, apesar da suspeita ser a mãe das crianças, ela não cuidava de nenhuma delas. Tias, primas e filho mais velho assumiam o papel.
Além disso, familiares relataram que as crianças eram saudáveis, sem comorbidades. Porém, era comum que, sempre que visitavam a mãe, voltassem “com algum problema de saúde”, como gripe, tosse, e “grogues, dopadas”.
Outro ponto que alertou a polícia foi o fato de que, nos dias anteriores às mortes, as crianças estavam sozinhas com Gisele.
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Marido também sofreu tentativa de homicídio
Segundo a Polícia Civil, em 2022, o marido da investigada deu entrada no hospital com sinais de intoxicação. Os prontuários apontaram sinais iguais aos das crianças.
“Ele chega ao hospital com a consciência rebaixada, fica cerca de 24h sonolento, e quando retoma a consciência segue confuso, assim como foi com as crianças”, afirmou Valdimara Teixeira.
Primeira investigação ocorreu em 2010
A Polícia Civil informou que a primeira investigação começou em 2010, porém não foi possível definir autoria naquele período. Segundo a corporação, em 2019, a PC não teve acesso a essas mortes pois Boletins de Ocorrência não foram formalizados. Assim, as autoridades não obtiveram acesso às mortes.
Valdimara Teixeira revelou que, em 2010, Gisele Oliveira chegou a ser ouvida pela PC, porém, tratou-se de um depoimento curto. Em 2023, quando intimada, a mãe já havia fugido do país.
“Ela foi ouvida em 2010, mas não foi uma oitiva rica em detalhes. Não tivemos muitas informações a respeito. Em 2023, logo que nós iniciamos as intimações, ela foge rumo a Portugal”, afirmou.
Próximos passos
A PC apontou, também, quais serão os próximos passos a partir da prisão da investigada.
“A prisão dela tramita entre o Poder Judiciário e o Ministério da Justiça. Chegando ao Brasil, será intimada para ser ouvida e nós sabermos a versão dela. Então, conseguiremos concluir o inquérito”, explicou Valdimara.
Até o momento, Gisele Oliveira pode ser indiciada por cinco homicídios consumados e duas tentativas, com os demais agravantes.