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Idosa recebe filho de volta em casa e é coagida a entregar acesso de contas bancárias

Das mais de 90 mil denúncias de violência contra idosos, 24 mil são relacionadas a golpes financeiros ou patrimoniais. Os dados são da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos

O que parecia acolhimento virou dor. Uma mãe, que terá a identidade preservada, recebeu o filho de volta em casa, mas o reencontro não foi como o esperado e virou caso de polícia. Poucos dias depois do retorno, o jovem passou a coagir a mãe, a obrigou a assinar uma procuração e começou a lesar financeiramente a idosa.

O advogado criminalista Paulo Crosara, do escritório Oliveira Filhos, responsável por atender a vítima, disse à Itatiaia que a violência começou de forma silenciosa.“É um filho que era problemático com o envolvimento de droga, que voltou para casa da mãe, morou muito tempo fora e depois que voltou cortou o acesso dela às contas, pediu para ela assinar uma procuração, colocou uma pressão para ela assinar, ficava com os cartões, pegou empréstimos em nome dela”, disse.

Ainda segundo o advogado criminalista, a pensão da idosa quase não existia mais, em razão dos empréstimos consignados. “Ela estava devendo muito e descobriu depois. (...) Ele não deixava ela sair de casa, só com a autorização dele”, detalha Paulo Crosara.

Essa é apenas uma entre milhares de histórias. Só no primeiro semestre de 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos registrou mais de 90 mil denúncias de violência contra idosos, sendo cerca de 24 mil delas relacionadas a golpes financeiros ou patrimoniais, como fraudes em aposentadorias ou empréstimos não autorizados.

Na maioria dos casos, os crimes financeiros contra idosos partem justamente de quem eles mais confiam. Como destaca o advogado criminalista do escritório Calazans Advocacia Especializada, Thiago Calazans. “É o que mais ocorre. Muita das vezes com um abuso de confiança que seja no seu âmbito familiar e que seja também nessas questões bancárias.”

“Algumas instituições aproveitam da vulnerabilidade daquela pessoa e acabam cometendo crimes vendendo uma história que vai ser melhor, sempre vendendo uma oportunidade que não existe e acaba incorrendo nesses casos que muitas das vezes a gente não tem nenhum controle”, completa.

Um dos maiores exemplos recentes de golpes contra idosos envolve o INSS. A Polícia Federal investiga associações que descontaram valores de beneficiários sem autorização com assinaturas falsas e cadastros fraudulentos. Esse foi o caso do senhor Walter Barreto, de 69 anos. “Vou receber pagamento de R$ 1518, eu recebo nem R$ 300 por mês. Aí eu não sei se é o banco que está me roubando ou se é o INSS”, desabafa.

Outro idoso que também sofreu com descontos indevidos foi o senhor Nivaldo Turibe, de 66 anos. Além de lesar o bolso, a ação criminosa deixou marcas profundas na alma, o que levou o senhor ao choro durante uma entrevista à Itatiaia.

Em relação aos descontos conhecidos de beneficiários do INSS por parte de associações, a diretora executiva do Instituto Defesa Coletiva, Helen Prates, explica como deve ser o passo a passo para denunciar. “Pode contestar, entrar no meu INSS, dizendo que não reconhece. Os Correios estão recebendo os idosos para contestar também e o instituto pode ajudar com o horário marcado, entrar em contato para a gente ver se houve aí uma retenção indevida, um desconto indevido por parte das associações”, detalha.

Em meio a tantos tipos de golpes contra idosos, Belo Horizonte pode ganhar uma nova lei que já está em debate na Câmara Municipal. A proposta quer criar campanhas educativas para alertar os idosos sobre os riscos. O autor do projeto, vereador Arruda do Republicanos, conta que a ideia surgiu quando ele atuava em uma instituição. “Nessa instituição nós implantamos a prevenção contra as fraudes aos idosos. Isso impediu com que os nossos idosos caíssem nessa”, reforça.

Esse é o segundo episódio da série da Itatiaia que aborda a violência contra os idosos. Amanhã, no terceiro episódio da série, será a vez de falar sobre a violência silenciosa. Com casos em que os próprios familiares proíbem os pais de sequer colocarem o pé fora de casa.

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Apaixonado por rádio, sou um bom mineiro que gosta de uma boa conversa e de boas histórias. Além de acompanhar a movimentação do trânsito, atuo também na cobertura de vários assuntos na Itatiaia. Sou apresentador do programa ‘Chamada Geral’ na Itatiaia Ouro Preto.