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Denúncias de violência contra o idoso crescem 50% em Minas

Em 2023, já foram registradas 35 mil violações; dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa é lembrado nesta quinta (15)

De janeiro a maio de 2023, o Brasil contabilizou 53 mil denúncias e mais de 300 mil violações

O número de denúncias de violência contra o idoso aumentou 50% nos primeiros cinco meses de 2023 em Minas Gerais. Segundo o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o estado registrou mais de 6 mil casos e 35 mil violações entre janeiro e maio deste ano. No mesmo período de 2022, foram 4 mil denúncias e cerca de 20 mil violações - cada caso pode ter mais de uma violação.

Para o diretor de Proteção Social Especial da Prefeitura de Belo Horizonte, Marcel Belarmino, o aumento das denúncias pode significar que a sociedade está mais atenta. “Uma hipótese é que na medida em que os canais de denúncia se expandem, as pessoas denunciam mais e os registros crescem. Quanto mais formas a sociedade tem para realizar a comunicação dessa violência para os órgãos responsáveis, maiores os números”, explica.

Sofrimento invisível

Antes de ser acolhida no Lar de Idosas As Sempre Vivas, instituição de longa permanência da prefeitura, no bairro Planalto, região norte da capital, uma senhora de 86 anos passava o dia inteiro sozinha (ela não será identificada). A idosa morava apenas com o filho e não tinha com quem ficar quando ele saía para o trabalho.

Além da tristeza por não ter companhia, a mulher corria riscos, pois tem Alzheimer. “Uma vez meu filho chegou do serviço e me encontrou caída, desmaiada”, relata à Itatiaia. Situações de negligência e falta de cuidados, como a vivida por ela, são comuns na terceira idade. Mas, muitas vezes não são encaradas como violações de direitos.

"Às vezes as pessoas pensam que a violência é algo grande, mas muitas vezes é caracterizada por essa falta de interesse da família. A gente precisa ligar para pedir uma fralda ou um medicamento e a família não quer dar”, conta Alexandrina Silva, coordenadora da casa de acolhimento.

A presidente da instituição, Mairce Nascimento, comenta os impactos dessa negligência. “A velhice é muito cruel. Chega uma hora que ninguém te ouve mais. Os jovens não têm paciência, não entendem que ali está uma pessoa que já sofreu muito na vida para dar oportunidades a eles. Eles só largam o idoso na instituição e muitas vezes nem vão visitar. Isso dói na gente”, desabafa.

Resgate à autoestima

De acordo com Alexandrina, é importante que as instituições de acolhimento resgatem a autoestima dos idosos que sofreram violações. “No ‘As Sempre Vivas’ a gente conta com uma equipe multidisciplinar para garantir um cuidado especial e individualizado para as residentes. Temos grupos de dança, música, pessoas que contam histórias. Tudo isso é uma forma de resgatar a memória e à autoestima”, esclarece.

Uma das residentes conta animada à reportagem como é o dia a dia na instituição. “Eu desenho, faço tricô, fofoco com as amigas. A gente se diverte. Minha vida melhorou demais desde que eu vim para cá. Antes, ficava o dia todo sozinha, triste de ficar vendo televisão o dia todo sem ninguém. Hoje minha vida está completa, sempre tenho companhia e com quem conversar, além de cuidados médicos”, diz.

Violência no Brasil

No Brasil, o aumento de denúncias se repete. Em 2022, foram registradas 34 mil denúncias e 154 mil violações. Já nos primeiros cinco meses deste ano, o país contabilizou 53 mil denúncias e mais de 300 mil violações - um aumento em 53% dos registros oficiais e de quase 100% de violência identificada.

Para combater a violência contra o idoso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, lançou no início do mês a campanha “Junho Violeta”, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado nesta quinta-feira (15).

A data, instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2011, foi criada para chamar a atenção da sociedade sobre as violações aos direitos das pessoas acima de 60 anos, e divulgar formas de combatê-la e preveni-la.

A violência contra o idoso pode ser dividida em dois tipos: as visíveis (físicas) e as invisíveis (sexual, patrimonial, psicológica, negligência e abandono). De acordo com Belarmino, a violação mais comum entre os idosos acolhidos pelo município é a negligência e o abandono. “Elas acontecem pela própria condição do idoso de vulnerabilidade e pela diminuição dos vínculos familiares e comunitários”, afirma.

Como denunciar?

As denúncias de violência contra a pessoa idosa podem ser feitas pelo Disque 100 (Disque Direitos Humanos). O atendimento é realizado diariamente, 24 horas por dia, inclusive aos fins de semana.

Denúncias também podem ser feitas pelo aplicativo Proteja Brasil, para a Delegacia Online da Polícia Civil do seu estado e ligando para a Emergência Policial (190).

(sob supervisão de Enzo Menezes)

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.