Ouvindo...

Tragédia de Mariana completa nove anos e atingidos protestam contra mineração: ‘sentimento de ódio’

Moradores do distrito de Bento Rodrigues, arrasado pela lama, se dizem abandonados e questionam acordo celebrado em outubro; rompimento da barragem deixou 19 mortos e contaminou gravemente o Rio Doce

Moradores fizeram ato em memória dos nove anos do rompimento da barragem

A comunidade de Bento Rodrigues e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizaram, na manhã desta terça-feira (5), um ato para relembrar os nove anos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na região Central de Minas.

Provocado pela Samarco, Vale e BHP Billiton, o rompimento é considerado o maior crime socioambiental do Brasil. Naquele dia cinco de novembro de 2015, 19 pessoas morreram, 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos foram derramados no Rio Doce e comunidades inteiras ficaram destruídas.

Tragédia de Mariana, em 2019, deixou 19 mortos

A estrutura que colapsou tinha quase 1 km de altura e ocupava uma área equivalente a 275 campos de futebol. No dia do rompimento, uma onda de lama saiu da barragem com uma velocidade assustadora, afetando 2,5 milhões de pessoas e contaminando quase 700 km da Bacia do Rio Doce, chegando até o litoral do Espírito Santo.

Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues e líder do motivo dos atingidos, afirma que nove anos depois, a sensação de impunidade continua.

Até hoje, mesmo depois de quase uma década, ninguém foi preso ou responsabilizado pelo rompimento. “Um sentimento que eu carrego há nove anos é o de ódio, de revolta, de impotência”, lamenta a moradora.

Leia também

Atingidos questionam construção do ‘Novo Bento Rodrigues’

O antigo Bento Rodrigues fica no distrito de Santa Rita Durão, que pertence a Mariana. De acordo com documento publicado em 2021 no portal da Fundação Cáritas o distrito tinha 612 moradores e cerca de 400 estavam no local no momento do rompimento da barragem.

Em 2020, o Ministério Público de Minas Gerais divulgou que 211 famílias seriam reassentadas no novo Bento Rodrigues. Mas só em 2023, mais de 7 anos depois dos desastres, as famílias receberam chaves das casas no Novo Bento - que ainda estava inacabado.

Imagens aéreas do Novo Bento Rodrigues em novembro de 2024.

Em nota, a Fundação Renova informou que até o dia 11 de outubro de 2024 mais de 86% dos imóveis do Novo Bento Rodrigues foram construídos. Até agora, 156 imóveis dos 246 previstos já foram entregues aos novos moradores. No entanto, Mônica Santos afirma que a maior parte dos imóveis entregues apresentou algum problema.

Acordo de Mariana prevê R$ 132 bilhões

Há 10 dias, no dia 25 de outubro de 2024, o novo acordo de Mariana foi assinado em Brasília. Os governos Federal, Estadual e Municipal, além das mineradores, definiram um investimento de R$ 132 bilhões em ações e obras na região da bacia do Rio Doce. Do valor total, serão R$ 100 bilhões investidos pelo Poder Público e R$ 32 bilhões de investimentos previstos pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco.

A líder do movimento dos atingidos questiona o acordo e diz que ele foi firmado sem a participação dos moradores atingidos pelo rompimento da barragem. Mônica Santos ainda diz que acredita que o valor de R$ 132 bilhões não será suficiente para recuperar a área.


Participe dos canais da Itatiaia:

Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.
Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.