PM recolhe ‘câmeras do tráfico’ após morte sob tortura de técnicos de internet na Bahia

Operação feita para combater possíveis ligações clandestinas de internet de grupos criminosos acontece dias depois de trabalhadores serem encontrados mortos, com mãos e pés amarrados em Salvador

Forças Estaduais da Segurança realizam ação de combate a possíveis ligações clandestinas de internet e de videomonitoramento em Marechal Rondon

As Forças Estaduais da Segurança da Bahia (SSP-BA) recolheram, nesta sexta-feira (19), diversas câmeras e caixas clandestinas de distribuição de internet no bairro de Marechal Rondon, em Salvador. A região fica ao lado do bairro Alto Cabrito onde três funcionários de uma empresa de internet foram encontrados mortos, com mãos e pés amarrados e marcas de tiros.

De acordo com SSP-BA, a ação foi feita para combater possíveis ligações clandestinas de internet e de videomonitoramento instalados ilegalmente por grupos criminosos para acompanhar as ações policiais na região.

Na última terça-feira (17), um crime chocou o estado da Bahia. Três técnicos da empresa Planet Internet foram até o bairro Alto Cabrito para realizar serviços de instalação e manutenção de rede de internet.

Um vídeo publicado por um dos trabalhadores nas redes sociais mostra o grupo retirando os equipamentos de uma Kombi e fazendo brincadeiras, pouco antes de iniciarem o expediente que terminaria em tragédia.

Mais tarde, Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos; Jackson Santos Macedo, de 41 anos; Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28 anos foram encontrados mortos com mãos e pés amarrados e marcas de tiros. Nenhuma das vítimas possuía antecedentes criminais, segundo registros do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

A Kombi em que os três se deslocaram até o local foi encontrada abandonada na região das Granjas Rurais, há cerca de 4 km do local onde morreram. O veículo foi encontrado na manhã de quinta-feira (18).

Depois do crime, equipes de inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSP) monitoram a região com apoio de policiais em campo.

‘Pedágio’

A investigação da Polícia Civil trabalha com a hipótese de que a empresa de internet para a qual os prestadores de serviço trabalhavam não estaria pagando o chamado “pedágio”, exigido pela facção criminosa que domina a região. Esse “pedágio” funciona como uma cobrança ilegal feita por grupos criminosos para autorizar a atuação de empresas em áreas sob seu controle.

Na prática, companhias que aceitam pagar essa taxa passam a operar com a permissão do tráfico. Quando a autorização não existe, trabalhadores da empresa podem ser ameaçados, expulsos ou até mortos. De acordo com a polícia, prestadores de serviço que entram em comunidades sem aval prévio dos criminosos locais correm risco de serem executados.

O que diz a empresa?

A Planet Internet, empresa em que os três trabalhavam, divulgou nota lamentando a morte de seus colaboradores e negando a exigência ‘pedágio':

“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com os familiares, amigos e colegas, desejando força, conforto e serenidade para atravessar essa perda irreparável.

Eles deixam uma trajetória marcada por dedicação, companheirismo e contribuição importante para todos nós.

Destaca, ainda, que em momento algum, a empresa foi contactada, por quem quer que seja, muito menos, recebeu qualquer pedido de resgate ou de pagamento para acesso de suas equipes à localidade em questão.

A Planet Internet acrescenta que segue colaborando com as investigações junto às autoridades competentes”

Governador da Bahia comenta

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Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.

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