Ouvindo...

Que os inimigos estejam bem! 

Qual o significado do perdão?

Como não retribuir com “olho por olho e dente por dente”?

Ninguém tem dúvidas que Jesus marcou a história da humanidade. Não obstante, estejamos distantes há dois mil anos do evento ">“Jesus de Nazaré", embora seu “nome” seja um “território” em disputa, é claro que esse personagem mudou os rumos da história.

Para nós, os cristãos, do ponto de vista da , crer significa encontrar-se pessoal e singularmente com Jesus, aquele que deu jeito, em sua ressurreição, para o maior de todos os dilemas: a morte.

Para além do dado da fé, todavia, seja-nos permitido tomar, hoje, de Jesus, um de seus  ensinamentos universais: o Sermão da Montanha. Trata-se de uma pérola das páginas bíblicas. São ensinamentos claros, diretos, concisos. Esses feitos para evitar que a gente caia em enrascadas ou para que  se livre mais fácil delas.

Sobre esse escrito, é célebre a afirmação de Mahatma Gandhi de que o mundo seria diferente se os cristãos colocassem em prática o Sermão da Montanha, o amor baseado nele pode alcançar qualquer coisa.

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Mateus coloca nos lábios de Jesus uma insistência no dever do perdão. “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Em tempos como os nossos, em que o ódio é o “novo normal”, em que a divergência política serve de salvo-conduto para eliminar o outro, de “ Lula versus Bolsonaro”, essa ideia parece um grande contrassenso.

Como dar a quem não merece algo tão nobre como o “amor”? Como não retribuir com “olho por olho e dente por dente”? Como admitir a ofensa cometida?

Diríamos que o perdão requer a “separação do ato”. Isso antes da nossa parte,  descolando-nos dos sentimentos (dos ressentimentos) de quem nos ofendeu. Perdoar não é esquecer. O nome disso é amnésia!

Perdoar significa não dar lugar de honra, em nós, a quem nos ofendeu. Perdoar  requer descolar quem nos fez mal do erro que ele cometeu. Nenhum ser humano, por mais falhas que possua, é resultado da soma “qualitativa” dos seus equívocos. Todos devemos ter a chance de dar a conhecer uma versão melhor de nós mesmos.

Leva um tempo (requer nobreza e amadurecimento) para que a gente se dê conta de como a vida se torna mais leve se apreciamos diferenças e aprendemos a compor com divergências. Uma decepção, uma crítica, um quebra de expectativa pode ser o catalisador de boas mudanças de rotas.

Ao amar o que não é amável e perdoar o que não merecia, descobrimos uma força em nós capaz de curar qualquer ferida: o amor. Para quem crê, seguindo o que diz o Sermão da Montanha, ao perdoar, descobrimos o amor de um Deus, que é Pai generoso e que faz o sol nascer sobre bons e maus, justos e injustos (Mt 5,45). Todavia, mesmo para quem não crê, o amor faz bem, ao nos dar a chance de fazer o extraordinário.

O juízo, a condenação, a vingança até seriam direitos, mas todo “direito” tem brechas e falhas. O amor existe para o momento em que falha a “justiça”. Para quem crê, o amor abre as portas do céu. Para quem, porventura, seja ateu, amar impede que se fabrique o inferno.

Quem nos fere diz algo sobre nós. Quem nos tira do sério e ofende conhece algo de nós. Que a ofensa que esse(a) outro(a) nos traz não nos leve a tropeçar, fazendo perder o rumo e o caminho. Nos desencontros que a vida traz, não se desconheçamos!

Insistir no lamento sobre quem nos ofendeu vai nos desfazendo. Não só não resolve confusões, mas as aumenta. Pense que a vida é curta demais para investir tempo com quem nos faz mal. Ah, e é claro: ajuda muito saber que o ódio sempre é uma forma de “paixão” travessa, avessa, bandida, secreta, no fundo da alma.

Então, amemos! Amemos, do jeito certo, os nossos inimigos. Só assim estaremos bem e poderemos, realmente, querer que eles estejam bem, ainda que seja bem longe de nós.


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Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.