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A fé é encontro

Isso significa que a Salvação é uma experiência pessoal em que um “eu”, pessoal, livre e íntimo (o meu eu, o seu eu) abre-se para um “tu”, igualmente pessoal, livre, íntimo

A fé é o encontro

Nos Textos Bíblicos, que são o fundamento do Cristianismo, há narrativas que saltam aos olhos. Sobra espaço para o “maravilhoso”. Basta pensar na Travessia do Mar Vermelho (Ex 15), o Maná no deserto (Ex 16), nas histórias como a de Ana, mãe de Samuel (1 Sm 1 e 2), ou mesmo nos relatos, no Novo Testamento, como a cura da Filha de Jairo (Mc 5) e do cego de nascença (Jo 9). Toda essa “atmosfera de prodígios” permite perceber que no judaico-cristianismo, Deus incide na História. O modo com o qual YHWH (Adonai, o Senhor) se mostra, por palavras e ações no A.T Testamento, bem como o ápice da Revelação Divina, em Jesus Cristo, dão testemunho: A fé cristã se define a partir do encontro.

Em Sua Encíclica, Deus Caritas Est (N.1), o Papa Bento 16 afirma: “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. É preciso deter-se na profundidade dessas palavras. “No início do ser cristão há o encontro com um acontecimento”. Isso significa que a Salvação é uma experiência pessoal em que um “eu”, pessoal, livre e íntimo (o meu eu, o seu eu) abre-se para um “tu”, igualmente pessoal, livre, íntimo. Trata-se de um encontro que parte da Pessoa de Deus, que é amor, cria por amor e para o amor, em direção à pessoa humana (eu, você, nós), que traz em si glórias e fracassos, coragem e medo, traumas e aprendizado, luzes e sombras. Esse “acontecimento” na existência de um ser humano é tão pessoal e arrebatador, que uma vez realizado é capaz de transformar radicalmente a vida de um indivíduo.

Em sendo encontro, a fé cristã, é uma experiência de amor, que arrebata e transforma. A fé Arrebata, porque, o amor explica tudo. O amor tem o privilégio de transgredir as leis do tempo. Em sua presença, a eternidade é um segundo. O amor, por ser divino, não passa, (1Cor 13) e tem o privilégio de nunca entediar. A fé transforma, porque, em sendo um encontro de e com o amor, a fé não é simples paixão em entusiasmo. Aliás, nos Evangelhos, são inúmeros os casos em que Cristo conduz seus discípulos de uma fé de “apaixonamento” e “entusiástica” a uma experiência de amor maduro (vide Lc 14,25-33). Jesus deseja que seus discípulos o vejam, não como um realizador de milagres, refém das expectativas acerca de um “ideal de Messias”, mas como o Filho do homem, que veio dar a vida para Salvação do Mundo (vide Mc 8, 31-33; 10, 35-45).

Acontece que, em sendo encontro amoroso com o “tu” que é Deus, a fé tem as mesmas exigências de qualquer relacionamento. Para que uma relação dê certo, é preciso passar da Paixão ao Amor. Na paixão, o “outro” não é mais do que um mero espelho de expectativas; é personagem fadado a coadjuvar sonhos...Contrariamente, no amor, a atenção é elemento indispensável. Percebe-se o “ser adiante”. Deixa-se de viver em si, passa-se a viver totalmente no outro. Que haja espaço, então, para que o amor de Deus nos alcance e nos transforme. Que a fé, seja mais que expectativa, rito, protocolo, costume, mas encanto e encontro.

O padre Samuel Fidelis é pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.

Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.