Jovem diz que falso major do Exército preso em BH chegou a se casar usando farda: ‘Medalha e tudo’

Suspeito alegava ter sido aprovado na Interpol e causou prejuízo de mais de R$ 51 mil à família; ele foi preso nessa quarta-feira (19) no apartamento onde vivia com a namorada, no bairro Nova Suíça, na Região Oeste

Golpista dizia ter vaga na Interpol e fez família gastar mais de R$ 51 mil

“O emocional da minha família está destruído. Todo mundo muito triste, não só pelo rombo financeiro, mas por ele ter se tornado uma pessoa presente, relevante, e depois descobrirmos que nada era real.” O relato é da ex-namorada do jovem de 24 anos preso nessa quarta-feira (19), no bairro Nova Suíça, Região Oeste de Belo Horizonte, suspeito de se passar por major do Exército e aplicar golpes nela e em seus familiares.

Segundo o Boletim de Ocorrência (B.O.), o rapaz chegou a usar farda militar no casamento, apresentou uma certidão de união falsa e causou prejuízos que ultrapassam R$ 50 mil, afirmando ter sido aprovado na Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e que precisava de dinheiro para um curso obrigatório.

A vítima, de 26, contou à reportagem da Itatiaia nesta quinta-feira (20) que tudo começou há 10 meses, após conhecer o homem pelo aplicativo Tinder. “A gente saiu, teve uma primeira saída superlegal. Ele contou bastante sobre a vida dele — que depois descobri que era tudo mentira — mas, naquele momento, foi uma pessoa superagradável”, relatou a jovem.

Segundo a mulher, o golpe ganhou novo contorno quando o suspeito afirmou que a avó havia morrido. Ele teria entregado uma carta supostamente escrita pela avó e um anel que dizia ser da família. “Eu li a carta, chorei, fiquei muito emocionada. Ela falava bem dele e dizia que queria ter me conhecido. Junto veio o anel de noivado. Tudo isso mexeu muito comigo e me fez aceitar”, contou.

A cerimônia de casamento ocorreu com a família da vítima presente — mas sem nenhum parente do suspeito. A celebração foi conduzida por ele e por um amigo que se dizia juiz de paz. “Foi um dia muito feliz. Minha família estava radiante, minha avó era apaixonada por ele. Ele estava com farda do Exército, com medalhas, boina, tudo”, lembrou.

Histórico falso e narrativa militar

Desde o início, o suspeito se apresentava como engenheiro da empresa Exon e dizia ter se formado em engenharia física pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro. Depois, afirmou ser segundo-tenente, promovido a capitão, e disse ter conseguido vaga em um órgão chamado “Desg”.

A farsa ganhou um novo nível quando ele afirmou ter sido aprovado na Interpol, a polícia internacional. “Ele disse que tinha passado na Interpol e precisava fazer cursos. Esses cursos foram pagos pela minha família. Fizemos até festa de despedida porque, segundo ele, a gente iria morar fora com meus gatos”, relatou. Conforme o próprio Boletim de Ocorrência (B.O.), o prejuízo ultrapassou R$ 51 mil.

Prejuízos e documentos falsos

O pai da vítima atravessava um período de luto pela morte da própria mãe quando o suspeito ofereceu ajuda. Aproveitando-se da fragilidade emocional da família, o homem convenceu o pai a realizar um pagamento diretamente a ele sob o pretexto de auxiliar na situação

A virada ocorreu quando os pais da vítima decidiram conferir os documentos apresentados pelo homem. “A certidão de casamento era falsificada. O dossiê que ele dizia ser do Exército, com supostas operações, também. A certidão de nascimento dele era falsa. Depois que confirmamos tudo e descobrimos o nome verdadeiro, vimos que ele mentia sobre absolutamente tudo”, disse.

Violência psicológica

A vítima também relatou ter sofrido violência psicológica durante o relacionamento. “Isso vinha muito do medo que ele tinha de eu terminar. Sempre que eu questionava alguma coisa, ele dizia que ia atentar contra a própria vida ou simplesmente levantava e ia embora”, afirmou.

Segundo ela, a família está emocionalmente abalada: “O emocional da minha família está destruído. Todo mundo muito triste, não só pelo rombo financeiro, mas por ele ter se tornado uma pessoa presente, relevante, e depois descobrirmos que nada era real.”

O suspeito recebeu voz de prisão em flagrante por falsificação de documento público, estelionato, usurpação de função pública e uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar. A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil de Minas Gerais e aguarda retorno.

A Itatiaia também tenta contato com a defesa do homem, e o espaço segue aberto para manifestação.

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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.

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