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Fundador da ‘Te Levo’ conta como saiu das ruas para se tornar CEO de app ‘sensação’

Sérgio Brito trabalhou na colheita de café, foi morador de rua e contou com a solidariedade de um pastor e o apoio familiar para dar a volta por cima

Sérgio Brito, fundador da Te Levo Mobile, chora ao lembrar de seu passado nas ruas

Passando por ascensão meteórica, o “Te Levo Mobile”, aplicativo de mobilidade criado por Sérgio Brito, em Araxá, no Alto Paranaíba, já ultrapassou a marca de 50 cidades atendidas em mais de nove estados brasileiros. Porém, antes do sucesso, seu fundador passou por um caminho tortuoso e cheio de desafios.

Sérgio começa o relato dizendo que tem 45 anos e que “sua vida deu errado por 42 anos”. Mas ressalta: “Se eu tivesse desistido aos 41 e meio… eu estava pertinho, próximo”.

Brito nasceu em uma família pobre, de sete irmãos, em Guaíra, no interior de São Paulo. Ele viveu uma infância difícil, tendo ido morar em Miguelópolis, também no estado paulista, aos quatro anos, onde cresceu.

Anos depois, por volta de 2002, aos 22 anos, decidiu sair de Miguelópolis para trabalhar na colheita de café de Itamogi, no Sul de Minas, visando dar melhores condições de vida aos seus familiares. Porém, sua escolha gerou frustração.

“Quando eu vi o que era mesmo, pensei: ‘Isso aqui não é o que me venderam’. Lembro que fiquei só uma semana nisso. Decidi ir embora”, contou.

Porém, longe de casa, sem conhecer ninguém e sem dinheiro, só sobraram as ruas para Sérgio.

“Eu batia de casa em casa e as pessoas diziam: ‘Vem aqui amanhã, te dou serviço depois’, e não davam”, relatou ele.

O desespero e a falta de opções cobrariam ainda mais caro, pois Sérgio acabou se alimentando de comida estragada, contaminada com ovos de solitária, que foram parar em sua cabeça.

“Dei muitas crises epilépticas e tive uma pequena sequela, hoje tenho gagueira”, explicou.

“Quando se está na rua você pensa: ‘Amanhã vai dar certo, amanhã vou conseguir serviço’, mas esse amanhã nunca chegava. Quando você percebe, sua aparência começa a falar por você e é aí que as coisas ficam mais difíceis”, lembrou ele, chorando.

Sérgio viveu entre um ano e meio e dois anos nas ruas.

Sérgio superou duras adversidades para, aos 42 anos, criar a ‘Te Levo Mobile’

A saída das ruas

Sérgio Brito contou que ao sair de casa, perdeu o contato com seus familiares. Porém, seu pai saiu à sua procura. Sabendo que o filho era religioso desde cedo, ele inclusive manteve por muitos anos o sonho de ser pastor, o homem passou a ligar para diversas igrejas da região.

Em uma delas, a Assembleia de Deus, encontrou o pastor Valdeci, que afirmou que um homem chamado Sérgio, que apesar de não ter algumas das características apontadas, ia na igreja todos os domingos e poderia ser o filho perdido.

De posse das informações, o pai de Sérgio e o pastor realizaram aquela que foi a melhor surpresa da vida do homem.

“O pastor falou que um irmão que tinha um porão onde eu poderia morar. Eu falei: ‘Muito bom, eu vou’. Mas mal sabia eu que ele estava marcando um encontro. No outro domingo, de manhã, eu estava dormindo ainda, quando ouvialguém me chamando. Eu achei que parecia a voz do meu pai, mas fiquei de boa, tinha a certeza que era um sonho. Mas ouvi de novo.

‘Sérgio, Sérgio’.

Falei: ‘Não é possível’. E lá tinha uma janelinha, eu olhei entre as duas frestas, quando eu vi, foi a melhor visão da minha vida. Meu pai tava do outro lado. Eu não acreditava que era ele. Eu abracei meu pai. Chorei igual um doido. Era meu regresso para casa”, contou, às lágrimas.

Hoje, a ‘Te Levo’ está em franca expansão, e já opera em mais de 50 cidades Brasil afora

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Recomeço, passar dos anos e pandemia

Ao voltar para casa, Sérgio encontrou as mesmas condições de quando tinha saído, sem recursos e perspectivas. Ele ficou 10 anos buscando sobreviver, quando decidiu ir para Araxá.

Na cidade, começou a trabalhar no Grande Hotel, onde chegou a se tornar chefe de cozinha.

“Quando eu pensei: ‘Agora sim, agora eu volto como vencedor’. Aí chega no Brasil a pandemia. Então mais uma vez eu estava desempregado’, contou ele.

Segundo Sérgio, neste momento, ele viu que precisaria se reinventar novamente. Mesmo com a luz cortada em casa, tomando ‘banho de balde’, juntou o resto do dinheiro e alugou um carro para ser motorista de aplicativo.

Como motorista, Sérgio conseguiu se reestruturar. E nesse contexto, após receber um tapa na cara dado por uma passageira, o homem decidiu ser dono de sua própria empresa de transportes.

A série de reportagens sobre Sérgio Brito e o ‘Te Levo’ contam o restante dessa história. Veja clicando nos links abaixo:

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.