Como conseguir atrair turistas o ano todo? Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas, foi palco de um debate de três dias sobre a sazonalidade. Centenas de gestores, comerciantes e profissionais da área participaram da
Organizada pela MOVE, pela Prefeitura de Camanducaia e pelo Governo de Minas, a feira teve como objetivo integrar as “rotas do frio” e fortalecer o turismo de inverno no país. Grandes palestrantes discutiram as mais variadas esferas do nicho.
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Sazonalidade é desafio global, aponta Estado
A secretária-adjunta de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Josiane Souza, foi responsável pela palestra magna de abertura do evento. Em sua apresentação, ela destacou:
“A sazonalidade é um problema global. Na alta temporada, temos grande fluxo, alta demanda e até sobrecarga. Na baixa, os destinos esvaziam e o mercado esfria. O sonho é encontrar o equilíbrio. E isso só vem com planejamento, estratégia e intenção”, apontou.
Josiane Souza, secretária adjunta de Cultura e Turismo de Minas Gerais
“Manter um ritmo de turismo linear para manter o turismo o ano inteiro. Atingir a coletividade, causar o bem-estar social e trazer equilíbrio econômico. É preciso entender quem é dono da entrega e da força de trabalho”, explicou Josiane.
Durante a palestra, ela reforçou que Monte Verde pode ir além do conceito tradicional de destino romântico e de inverno, ao se posicionar como rota de turismo de montanha, com potencial em gastronomia, natureza, esportes, cultura e bem-estar.
Infraestrutura e novos eventos: aposta da gestão local
O prefeito Rodrigo Alves de Oliveira, o Rodrigão (MDB), explicou que enfrentar a sazonalidade se tornou prioridade da gestão desde 2021. Ele afirmou:
“Antes, muitos empresários fechavam seus estabelecimentos por 30 dias para viajar ou descansar, porque Monte Verde simplesmente não tinha público. Quando assumi, desafiei minha equipe a enfrentar essa sazonalidade”, revelou o prefeito.
“Estamos investindo na melhoria da infraestrutura como um todo. Fizemos uma ampla reforma na avenida, realizamos o maior calçamento de ruas do distrito, melhoramos o pronto-socorro, que hoje é visto quase como uma clínica particular de tão bem cuidado”, afirmou.
Monte Verde, distrito turístico de Camanducaia, Sul de Minas
Com a infraestrutura reforçada, o município passou a ampliar o calendário de eventos, como o Valentine’s Day, o Festival de Inverno, o festival gastronômico, encontros de carros antigos, atrações esportivas e apresentações culturais.
Iniciativa privada: criatividade para sobreviver o ano todo
Para o empresário e sommelier Alexandre Levi, dono do Vino Divino, a criatividade é a principal ferramenta para enfrentar os meses de menor movimento.
“Em 14 anos, não teve um ano em que eu não precisasse criar uma estratégia diferente para o cliente. A propagação do que você cria é muito grande. Então, ao mesmo tempo que você lança algo novo, no dia seguinte outra empresa pode fazer igual e você perde o diferencial”, explicou Levi.
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Em seu negócio, o turista pode se servir de uma variada carta de vinhos por meio de uma máquina semelhante a uma chopeira, mas projetada para extrair das garrafas o elixir das uvas.
Alexandre Levi, proprietário da Vino Divino, comércio em Monte Verde
“Eu acredito que o empresário do setor de turismo precisa ser muito criativo. Ele não pode se acomodar em momento algum. É necessário se reinventar todos os dias. Você se reinventa todo ano, toda temporada”, finalizou.
Turistas mostram que cidade tem força além da alta temporada
Mesmo em novembro, fora do período de maior movimento, Monte Verde continua sendo atrativa para os visitantes. Daniel e Carleane, um casal formado por um baiano e uma piauiense, estiveram no distrito durante a semana e destacaram que a baixa temporada pode ser uma oportunidade para quem busca tranquilidade.
Daniel, natural da Bahia e mora em São Paulo há dois anos, e Carleane, de Teresina (PI), disseram que as primeiras impressões foram positivas. Segundo eles, o clima, a receptividade e o ambiente contribuíram para a escolha do destino.
“É um lugar bem agradável, clima bom, o pessoal é bem receptivo. Tô gostando muito”, disse Daniel.
Carleane e Daniel, turistas em Monte Verde
Ele explicou ainda que viajar fora de temporada foi uma escolha pensada, já que o movimento reduzido permite aproveitar melhor os atrativos.
“A gente conversou bastante sobre vir fora de temporada. É um lugar menos lotado, com menos pessoas, e aí a gente consegue curtir mais, aproveitar mais os lugares, os ambientes”, completou.
Gastronomia e identidade: trunfos contra a sazonalidade
Um dos caminhos para enfrentar a sazonalidade está nos pratos e nas cozinhas das cidades turísticas do interior. Para Jefferson Rueda, chef criador da A Casa do Porco, pensada com inteligência e coração, pode ser uma importante aliada.
“Todo mundo precisa comer. Mas a gastronomia tem que caminhar junto com tudo o que existe de bom na cidade. Não é só comida. A pessoa vem para descansar, caminhar, namorar. É uma junção de coisas.”
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Para ele, a autenticidade é um processo contínuo, resultado de insistência, propósito e valorização das raízes locais.
Jefferson Rueda, em palestra em Monte Verde
“Não desistir nunca do seu sonho. Ser teimoso. Ir atrás. Um não eu já tenho. Persistir e tentar.”
Números, anúncios e perspectivas: feira confirma força do setor
Em 2024, 1,2 milhão de pessoas visitaram a cidade. A expectativa para este ano, segundo a Secretaria Municipal de Turismo, é fechar em 1,8 milhão de turistas, 60% deles oriundos do Sudeste.
Por isso, durante o encerramento da 1ª Feira Nacional de Destinos Turísticos de Inverno, realizado nesta quarta-feira (26), Monte Verde confirmou a realização da segunda edição em 2026.
A partir do próximo ano, o evento passa a se chamar Feira Nacional de Destinos Turísticos de Montanha e Inverno, ampliando o foco para além da temporada fria.
A feira será realizada novamente no Áustria Velinn Hotel, entre os dias 16 e 18 de novembro, com apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais.