Centenas de manifestantes se reuniram na manhã deste domingo (7) na Praça Raul Soares, Centro de Belo Horizonte, para protestar contra a violência de gênero e o número de feminicídios no Brasil. O ato na capital mineira faz parte de uma mobilização nacional e contou com a presença de familiares de mulheres vítimas de crimes associados ao cenário de subjugação sistêmica.
A manifestação marcada para a Praça Raul Soares integra um movimento em dezenas de cidades brasileiras na esteira da marca nacional de mil mulheres assassinadas por feminicídio apenas neste ano.
A convocação para os atos foi feita também como repercussão aos casos recentes como o assassinato da estudante
Fabíola Mundim estava entre os manifestantes no Centro da capital mineira e falou sobre a sua experiência de proximidade com o cenário da violência de gênero. Ela é irmã de Priscila Mundim,
“É importante poder ter a liberdade e dar o grito por nós mulheres. Isso já cansou, virou uma epidemia e precisa de um basta. Pela Priscila, um basta por todas as outras e pelas que ainda podem ser vítimas. É importante que isso continue, que não pare aqui, que seja o começo de uma luta. A gente nunca imagina que vá acontecer na casa da gente e, quando acontece, é uma dor que não passa. Eu penso na minha irmã todos os dias”, relatou.
Como um dos episódios que precedeu o feminicídio, Priscila chegou a comentar com a irmã que o namorado apresentava um comportamento
O relato de Aldair Drumond, também presente no ato, reitera o papel de exemplo de familiares de vítimas da violência de gênero em manifestações sobre o tema. Ele é pai de
“Várias mulheres começaram a entrar em contato comigo e eu percebi que a minha filha tinha deixado legado e esse legado era ajudar as mulheres que estavam sofrendo. Por isso fundamos o Instituto Rafael Drumond. E depois seguimos com a lei Rafael Drumond de combate ao assédio moral, foi importantíssimo. Hoje nós acolhemos várias mulheres do Brasil inteiro, de várias forças policiais e também funcionárias públicas de outros setores e mulheres também vítimas de violência doméstica”, relatou Aldair.
Em Barbacena, a família de Rafaela fundou um
Responsabilização masculina
Para Lorena Campos, coordenadora do Movimento por Mais Mulheres em Todos os Espaços, destaca que a manifestação deste domingo se destacou pela convocação reforçada de homens para se somarem ao ato. Ela destaca que uma mudança no cenário só é viável com a mudança de comportamento dos agentes dos crimes.
“A diferença é que desta vez nós convocamos os homens para estar conosco na luta, porque sem os homens nós jamais conseguiremos promover mudança social. A nossa sociedade precisa urgente que os homens resolvam esse problema, é um problema causado por eles. Então, quando nós estamos aqui hoje com faixas, com a nossa voz, com o nosso grito, com a nossa luta, também não é só pelas mulheres que estão aqui hoje, é também pelas próximas gerações de meninas que estão vindo. É pelas próximas gerações de meninos que enfrentam hoje códigos tóxicos de masculinidade”, defendeu.
Campos ainda manifestou preocupação com as novas gerações de homens, inserida em um ambiente digital de difusão de ideias misóginas.
“Muitas vezes o menino tem que adentrar num sistema patriarcal sem ao menos ter conhecimento sobre onde ele está adentrando. Ele está adentrando em fóruns masculinistas na machosfera, ele tá entrando em fóruns Red Pill, ele tá entrando na Deep Web e ele não sabe que está entrando em locais que promovem ódio contra mulheres e principalmente meninas. Esse é um problema que virou uma epidemia”, complementou.
Conscientização infantil
Além da variedade de gêneros, a manifestação contou com a pluralidade etária. Maria Cecília Santiago da Conceição, de apenas 10 anos, relatou à Itatiaia como consegue perceber a reprodução de comportamentos discriminatórios desde a infância e contou como ela lida com a situação.
“Quando a gente quer falar alguma coisa sobre o assunto que a professora pergunta, alguma menina quer falar, mas o menino não deixa. Ele fala por ela. Aí quando a menina não consegue explicar, ele explica para ela, não deixando ela falar do jeito que ela quer falar, mostrar o que ela percebe. Eu fico muito triste, mas eu sempre tento me mostrar forte e mostrar para aquelas garotas que a gente não tem que ser tratada assim”, afirmou.