A receptação é o crime que alimenta o
Em busca de lucro, há empresários que compram e até encomendam cargas roubadas. Isso já foi identificado em investigações da Polícia Civil. É o que destaca Thiago Rocha Ferreira, responsável pela Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Furto, Roubo e Desvio de Carga, em Minas Gerais.
“A maioria das vezes, quando há essa encomenda ou
Muitas vezes nós, consumidores finais, entramos em um estabelecimento não sabendo que estamos ali adquirindo algo que vem proveniente de um furto, de um roubo, de um crime”, explica Ferreira.
Ações ‘relâmpago’
No Rio de Janeiro, os criminosos interceptam os caminhões em rodovias e levam os veículos para dentro de comunidades, áreas em que a criminalidade se sente segura e a Polícia Militar muitas vezes só consegue entrar com veículos blindados.
No máximo 20 minutos. Este é o tempo que as quadrilhas demoram para descarregar um caminhão. As ações dos criminosos foram cronometradas pelo gerente Assunção Fernandes, responsável do núcleo de inteligência e segurança da Patrus, uma das maiores empresas de transporte do país.
“Dentro da comunidade, ela demora, no máximo, 20 minutos para descarregar um caminhão. Para levar, no caso, um caveirão ou dois caveirões em alguns lugares, é, no mínimo, uma hora, duas horas. Então, logisticamente, quando eles chegam até o caminhão — não é dizer que eles não vão até o caminhão, eles chegam no caminhão —, só que quando eles chegam no caminhão, já está vazio”, revela Fernandes.
Coletividade criminosa
O modo de atuação das quadrilhas é confirmado por quem já participou de várias operações do Bope. Ex-integrante do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, o Major Leonardo Novo, atua para evitar a ação dos criminosos e comanda a Superintendência de Atividades Especiais da Secretaria de Segurança Pública do Rio.
“Tem várias imagens — não só das forças de segurança, mas também da própria mídia — desses caminhões adentrando nessas comunidades e uma grande massa de pessoas realizando esse transbordo de material e espalhando tudo pela comunidade, o que dificulta uma recuperação da carga.
A partir daí, começa em volumes menores, em veículos menores, a fazer a distribuição na cidade, nesses receptadores. Porque a grande maioria das cargas vai para as comunidades, mas não são exclusivamente vendidas ali, e sim na cidade como um todo”, apontou o major.
Menos roubos, mais furtos
Em Minas Gerais, o secretário de Segurança Pública do Rio, Rogério Greco, diz que a polícia mineira conseguiu reduzir o índice de roubos no estado, aquela modalidade em que os criminosos agem a mão armada e com violência. No entanto, ele reconheceu o cenário de aumento de furtos de cargas denunciado por esta série de reportagens. Greco diz que o Estado está apostando em ações integradas para combater a ação dos criminosos.
“A SEJUSP coordena a chamada Câmara Técnica de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Forte e Roubo de Carga, que foi reativada a pedido do nosso vice-governador desde setembro de 2024. O encontro ocorre a cada dois meses e reúne representantes de diversas instituições que atuam no combate a esse tipo de crime e reforça o compromisso do Estado com a segurança e a profissão da atividade econômica”, afirma.
Fogo contra fogo
A integração também é defendida Major Leonardo Novo. Ele ainda destaca que, para combater o crime organizado, é preciso ter investimento para uma investigação estruturada.
“Como essas quadrilhas são especializadas, eu preciso especializar os meus policiais, principalmente os policiais judiciários, que são responsáveis pela investigação, para que ele entenda essa dinâmica criminal e se antecipe ao problema, prendendo as principais lideranças”, alerta Novo.
Transportadoras também se especializam
Núcleos de inteligência com monitoramento 24 horas, caminhões acompanhados via satélite, paradas coordenadas apenas em áreas de segurança, escoltas armadas e treinamento dos motoristas. A iniciativa privada também tem investido para minimizar os riscos e exposições dos caminhoneiros. É o que destaca o presidente da Confederação Nacional dos Transporte, Vander Costa.
“O empresário de transporte está preparado para poder minimizar o risco de roubo. E tem que ter a polícia para agir no caso de um evento vir a ocorrer”, afirma Costa.